O Japão analisa subsidiar o turismo devido à crise de COVID-19, mas apenas para residentes e viagens internas

“Japão irá custear metade da viagem de turistas estrangeiros que decidirem visitar o país”, garante o título animador de um artigo. O anúncio da suposta medida, que seria implementada após a pandemia de coronavírus, foi compartilhado centenas de vezes em redes sociais desde o último dia 22 de maio, além de ter sido publicado por diversos veículos de comunicação. No entanto, como esclareceu o governo japonês em 27 de maio, o benefício só está sendo considerado para moradores e para viagens dentro do território nacional.

 

A história circulou amplamente no Facebook, Twitter e em múltiplos artigos (1, 2, 3), além de ter sido publicada por veículos de comunicação brasileiros e da América Latina (1, 2, 3, 4). 

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Captura de tela feita em 4 de junho de 2020 mostra informação publicada em artigo com 11 mil interações no Facebook, segundo ferramenta CrowdTangle 

A origem da confusão

A AFP observou que alguns sites citam como fonte da informação uma nota de 21 de de maio de 2020 publicada no jornal The Japan Times e escrita pela agência de notícias Kyodo News.

No site da Kyodo News, essa mesma nota, publicada um dia antes, incluía, em 29 de maio, um aviso de que o texto havia sido atualizado em 22 de maio, alterando o seguinte parágrafo, traduzido do inglês: “O governo está buscando estimular o turismo doméstico subsidiando uma parte dos gastos de viagem uma vez que o surto de coronavírus esteja sob controle”.

Como foi possível verificar na ferramenta Web Archive - que salva versões antigas de páginas na Internet -, em 20 de maio, esse mesmo parágrafo dizia: “O governo está planejando atrair de volta visitantes estrangeiros cobrindo metade dos gastos de suas viagens”. Essa foi a versão do texto que viralizou. 

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Captura de tela feita em 29 de maio de 2020 mostra versão original do artigo da Kyodo News arquivada no site Web Archive
 

Reativação econômica

Entre outras medidas para reativar a economia nacional após a pandemia de COVID-19, o governo japonês está analisando estimular o setor turístico por meio do plano Go To Travel.

O projeto propõe, segundo a tradução para o português, “proporcionar aos consumidores que comprem produtos de viagem durante o período através de uma agência de viagens, etc, um cupom equivalente a metade do preço”.

No entanto, em 27 de maio, as autoridades japonesas esclareceram que esse programa, cujos detalhes ainda estão sendo definidos, só incluirá viagens feitas por moradores japoneses para dentro do país.

Nesta mesma data, o Ministério de Terras, Infraestrutura, Transporte e Turismo publicou um comunicado afirmando que haviam sido publicadas “informações incorretas” sobre o plano em meios de comunicação.

Parte do comunicado, traduzido para o português, indica: “A campanha Go To Travel está sendo considerada pelo governo japonês para reativar as viagens internas dentro do Japão dando um apoio aos residentes com os custos associados ao alojamento e às viagens”.

A agência japonesa de Turismo também publicou dois tuítes (1, 2), no mesmo dia, detalhando o alcance do plano: “Com relação às matérias de alguns veículos segundo as quais ‘O governo japonês está considerando uma campanha para ajudar turistas estrangeiros a visitar o Japão oferecendo apoio para metade de seus gastos de viagem’ tenham em conta que a campanha Go To Travel que está sendo considerada pelo governo japonês visa estimular a demanda de viagens internas no Japão após a pandemia de COVID-19 e apenas cobrir uma parte dos gastos com viagens internas”

De acordo com um documento do governo de 7 de abril, o plano Go To Travel faz parte de uma iniciativa mais ampla para “estimular audaciosamente a demanda dos consumidores e colocar a economia japonesa novamente em um caminho de crescimento sólido”.

Até este dia 4 de junho, o Japão registrava mais de 17 mil casos de COVID-19 e de 900 mortes pela doença.

Em resumo, o governo japonês está analisando a possibilidade de implementar um programa para subsidiar viagens, mas apenas para os residentes do país e para o turismo interno. A desinformação teve origem em uma reportagem de uma agência de notícias japonesa que, desde então, foi corrigida.

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