O cotonete do PCR chega à nasofaringe para coletar amostras mais exatas quando há pouca carga viral
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- Publicado em 30 de abril de 2021 às 19:34
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- Por Adrià LABORDA, AFP Espanha
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Não sei porquê enfiam uma vareta até sua goela para testar covid-19 se apenas uma gota de saliva pode infectar um bairro inteiro”, diz o texto compartilhado mais de 1.500 vezes no Facebook (1, 2, 3) e Twitter (1, 2)
A mensagem, que voltou a circular em abril de 2021, é acompanhada por uma ilustração de uma haste flexível sendo inserida no nariz de uma mulher, chegando até a cavidade nasofaríngea. “Pegar um perdigoto não seria mais do que suficiente?”, questionam algumas das postagens. Conteúdo semelhante também circula em espanhol.
Como funcionam os testes PCR
Um PCR é uma técnica de amplificação exponencial de material genético, neste caso do coronavírus SARS-CoV-2. “É a técnica de maior sensibilidade utilizada no diagnóstico da presença deste vírus. Sua sensibilidade é superior à do teste de antígenos”, explicou à AFP Gemma Rodríguez-Tarduchy, doutora em Ciências e responsável pelo Laboratório de Sequenciamento Automático de DNA e PCR quantitativo em tempo real do Instituto de Pesquisas Biomédicas “Alberto Sols” (IIB) CSIC-UAM, na Espanha.
No entanto, esta técnica não é utilizada apenas para detectar o SARS-CoV-2.
O exame PCR “serve para diversos fins: estudos forenses, estudos de paternidade, estudos de mutações que causam uma doença específica de origem genética e, principalmente, servem para o diagnóstico molecular de doenças infecciosas. Neste caso, a técnica tem dois pontos fortes: sua especificidade e sua sensibilidade”, disse à equipe de checagem da AFP Álvaro Fajardo, doutor em Ciências Biológicas e pesquisador do Laboratório de evolução experimental de vírus do Instituto Pasteur, no Uruguai.
M. Ángeles González Martínez, médica de família do Centro de Atenção Primária (CAP) de Barcelona, indicou à AFP que “é necessário um cotonete tão grande para chegar à nasofaringe”, uma área que fica “atrás do nariz e antes da faringe e da laringe”.
Nesta cavidade, assim como nos brônquios, é “onde se acumulam mais células infectadas pelo vírus”, explicou González, “já que as vias respiratórias são a principal entrada do vírus em nosso organismo”, segundo apontou Rodríguez-Tarduchy. “Como é difícil acessar os brônquios, opta-se por coletar amostras na nasofaringe com cotonetes longos”, acrescentou.
Saliva para detectar o vírus
Eduardo de Mello Volotao, virologista e assistente do Conselho de Administração do Instituto de Pesquisas Biológicas Clemente Estable do Uruguai disse à AFP que “o cotonete nasofaríngeo e a amostra de saliva, às vezes não coincidem. Às vezes, um paciente que dá negativo em um desses testes, pode dar positivo no outro”.
Rodríguez-Tarduchy afirmou que, na nasofaringe, “se coleta uma amostra mais concentrada do vírus do que na saliva”. Se a carga viral for alta, “não haveria problema para detectá-lo [o vírus] nem na cavidade, nem na saliva. O problema pode ocorrer em indivíduos com pouca carga viral, onde o efeito da diluição da saliva poderia levar a uma perda de sensibilidade diante do PCR”, assegurou a doutora em Ciências.
Mesmo assim, a médica garantiu que “está sendo estudada a possibilidade de diagnosticar a partir da saliva, que parece que, apesar de não ter tanta quantidade de vírus, poderia ter uma quantidade suficiente para diagnosticar a doença com exatidão suficiente, pelo menos nos primeiros dias, que é quando é mais contagiosa”.
Como a equipe de checagem da AFP já verificou, o PCR não rompe a barreira hematoencefálica, nem chega à hipófise. Rodríguez-Tarduchy reiterou que “a coleta de amostra com o cotonete não é prejudicial”. “É um pouco incômoda, mas não é prejudicial”, acrescentou a especialista.
González coincidiu ao afirmar que “a obtenção da amostra é desagradável e apresenta risco de contágio, já que provoca espirros e tosse. Portanto, se a pessoa está com covid, pode transmitir aos profissionais de saúde que coletam a amostra”.
A afirmação das publicações viralizadas que pressupõe que “apenas uma gota de saliva pode infectar um bairro inteiro” tampouco é correta, rebateu González, já que para se infectar “é necessário que nossas mucosas entrem em contato com uma quantidade considerável do vírus projetada por meio das gotas emitidas por uma pessoa infectada ao tossir, espirrar ou falar”.