As notas foram jogadas nas ruas em 2019 na Venezuela, e não na Itália durante a pandemia de coronavírus
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- Publicado em 14 de abril de 2020 às 22:00
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- Por Masroor GILANI, Sami ACEF, François D'ASTIER, AFP Colômbia, AFP Brasil
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“Na Itália, os moradores jogaram notas de dinheiro nas ruas. A ideia é mostrar as pessoas que há circunstâncias que o dinheiro não faz diferença, como é o caso do covid-19 [sic]”, diz a mensagem, replicada milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3, 4) e no Instagram junto a duas fotos de notas de dinheiro espalhadas em ruas.
A alegação também circulou amplamente em espanhol e francês.
O roubo de um banco na Venezuela
Uma busca reversa por ambas as fotos nos motores Google e Yandex leva, entre os resultados, a alguns artigos (1, 2) de março de 2019 sobre um suposto roubo do Banco Bicentenario, na cidade de Mérida, na Venezuela.
Entre os artigos, há uma verificação feita em junho de 2019 pelo site de checagem português Polígrafo sobre a origem destas imagens.
A partir destas informações, uma segunda busca no Google pelos termos “Saqueo [saque, em espanhol] + banco + Mérida + Venezuela” confirmou que veículos de comunicação (1, 2, 3, 4) reportaram um “roubo” ou uma “tentativa de roubo” do Banco Bicentenario em 11 de março de 2019, após uma falha elétrica que havia deixado a cidade sem energia por mais de quatro dias.
De fato, em 7 de março de 2019, a Venezuela sofreu um apagão maciço devido a uma falha na represa El Guri que afetou os 23 estados do país por vários dias.
O roubo também foi relatado por alguns usuários no Twitter, que indicaram (1, 2) que só havia dinheiro do antigo sistema monetário venezuelano no Banco Bicentenario e que, por isso, as notas “terminaram sendo espalhadas” em ruas próximas.
#AHORA
— Segovia Bastidas (@SegoviaBastidas) March 11, 2019
Vandalizaron el Banco Bicentenario de la Av. 3 en Ciudad de #Mérida y esparcieron en la calle billetes del cono monetario viejo. Ya el estado cumple 4 días #SinLuz.@ReporteYa pic.twitter.com/OC6xnTgidX
O atual sistema monetário venezuelano foi implementado por decreto em 20 de agosto de 2018 e ampliado em 13 de junho de 2019.
Um artigo da AFP de 5 de março de 2019 mostra a dura queda que o bolívar sofria naquele momento, quando já havia perdido 98% de seu valor. No início daquele mês, 1 dólar correspondia a 3.000 bolívares.
Devido à vertiginosa inflação sofrida naquele período, não era raro ver notas de dinheiro jogadas nas ruas, como demonstram diversas fotografias da agência Nur Photo, parceira da AFP, feitas em 4 de março de 2019.
Um vídeo e algumas fotos de pensionistas que formavam grandes filas em frente ao banco Bicentenario de Mérida para receber seus pagamentos, tuitados pelo portal venezuelano El Pitazo quatro meses após o saque, mostram que as imagens das publicações viralizadas realmente foram tiradas perto desta unidade bancária.
Até o dia 14 de abril, a Itália somava mais de 162.000 casos do novo coronavírus, com mais de 21.000 mortes confirmadas. Junto com a Espanha são os países europeus mais afetados, seguidos pela França, com 15.700 mortos, e o Reino Unido, com 12.100.
Na Venezuela, por sua vez, o número de contágios registrados oficialmente até 13 de abril era de 181, com nove mortes.
Em resumo, é falso que as fotografias compartilhadas nas redes sociais mostrem notas de dinheiro jogadas nas ruas na Itália. As imagens correspondem a fatos ocorridos em Mérida, na Venezuela, onde as notas de um banco - já quase sem valor - foram espalhadas em ruas próximas.