Não há evidências de que vacina contra covid cause impotência, ao contrário do dito por Nicki Minaj
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- Publicado em 15 de setembro de 2021 às 22:29
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- Por Louis BAUDOIN-LAARMAN, AFP Estados Unidos, AFP Brasil
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“Meu primo em Trinidad não vai se vacinar porque um amigo dele tomou e ficou impotente. Seus testículos ficaram inchados”, diz, em tradução livre do inglês, o texto publicado pela cantora.
A rapper, que nasceu em Trinidad e Tobago e foi criada em Nova York, publicou o tuíte sobre a vacinação contra a covid-19 durante o Met Gala de 2021, evento que exigiu que os convidados apresentassem um comprovante de imunização para comparecer. Minaj não se vacinou e não participou da gala, considerada uma das maiores festas do mundo da moda.
O tuíte sobre impotência foi retuitado mais de 100 mil vezes, curtido mais de 130 mil vezes, e difundido com a tradução automática para o português em capturas de tela publicadas no Facebook (1, 2, 3).
Essa é apenas uma das muitas afirmações incorretas que associam vacinas à infertilidade e que têm prejudicado a adesão às campanhas de vacinação contra a covid-19 em todo o mundo. A equipe de checagem da AFP já verificou diversas dessas alegações (1, 2, 3).
Mas “não há nenhuma evidência de que vacinas contra a covid-19 causem disfunção erétil masculina ou infertilidade”, disse à AFP Tony Chen, professor assistente clínico de urologia da Universidade de Stanford, acrescentando que também “não há evidências de que as vacinas contra a covid-19 causem inchaço nos testículos”.
Em vez disso, ele disse que o inchaço é mais comumente causado por infecções virais, como caxumba, ou por infecções bacterianas, como infecções sexualmente transmissíveis, algo que já havia sido apontado a Minaj no Twitter.
Chen também mencionou um estudo recente da Universidade de Miami que comparou amostras de sêmen de voluntários saudáveis colhidas antes e de dois a três meses após as duas doses das vacinas da Moderna ou da Pfizer-BioNTech. “E eles não encontraram nenhum impacto negativo em nenhum parâmetro de sêmen”, afirmou.
Na verdade, é a infecção com o novo coronavírus, que é mais provável entre os não vacinados, que “pode causar sérios problemas na genitália masculina”, disse.
Michael Eisenberg, diretor de cirurgia e medicina reprodutiva masculina em Stanford, também mencionou o estudo da Universidade de Miami e, da mesma maneira, disse que não há evidências de que a vacinação possa prejudicar a fertilidade.
Helen Bernie, diretora de medicina sexual e reprodutiva da Universidade de Indiana, também negou que as vacinas afetem a fertilidade ou a genitália masculina, criticando a desinformação que “tem circulado sobre a eficácia e segurança das vacinas”.
Ela apontou, por outro lado, que ainda não há estudos sobre o impacto de vacinas que não são de mRNA na fertilidade masculina. Esse tipo de imunizante corresponde a dois dos três aprovados para uso em Trinidad e Tobago.
“Não estou ciente de nenhum levantamento feito, por enquanto, sobre as vacinas vivas sem mRNA”, disse Bernie.
“No entanto, nós utilizamos rotineiramente outras vacinas de vírus vivo atenuado, como a tríplice viral, a contra catapora, contra o rotavírus e outras e nunca houve uma correlação entre infertilidade e essas vacinas. Dessa maneira, eu não vejo nenhuma razão para que a vacina contra covid-19 impacte a fertilidade”, acrescentou.
Para uma outra verificação da AFP, a doutora María Victoria Sánchez, pesquisadora do Laboratório de imunologia e desenvolvimento de vacinas do argentino Instituto de Medicina e Biologia Experimental de Cuyo, disse, de maneira semelhante: “Não há bibliografia que sustente [a afirmação de que] a vacina pode afetar a reprodução”.
“As células que processam os antígenos das vacinas - neste caso a proteína ‘spike’ do novo coronavírus - para gerar a resposta imune são chamadas de células apresentadoras de antígenos”, explicou. “Os testículos não são órgãos do sistema imunológico capazes de montar a resposta imune; as células apresentadoras de antígenos visam os órgãos linfóides para isso; não interferem de maneira nenhuma na espermatogênese”.