Esta tabela do Banco Mundial não prova que os testes para covid-19 são vendidos desde 2018
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- Publicado em 15 de setembro de 2020 às 19:56
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- Por Remi BANET
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“COMO É...???? O Banco Mundial exportando Kits de Testes para o COVID 19 lá em 2018??? Inclusive 53.336 para o Brasil....!!!!”, questiona um usuário no Twitter, ao compartilhar imagens da tabela.
A alegação, que também circulou no Facebook (1, 2, 3), é acompanhada por links ou capturas de tela do site da Solução Comercial Integrada Mundial (WITS, na sigla em inglês), um programa informático desenvolvido, entre outros, pelo Banco Mundial, que permite acessar informações relacionadas ao comércio internacional e tarifas.
As imagens mostram uma tabela de exportações por país de itens com a etiqueta “Kits de testes COVID-19”, um código de produto e o ano de venda, começando em 2018.
Publicações semelhantes, mas focadas na importação de produtos com referência à covid-19, circulam em espanhol, francês e inglês.
As tabelas são reais. Aqui pode ser consultada a versão atual, e aqui a arquivada na plataforma Wayback Machine dos dados de exportação. Neste link também está disponível a tabela atual de importações, e neste a arquivada. No entanto, estes dados não provam que países adquiriram testes para a covid-19 antes da detecção do vírus SARS-CoV-2, na China, no final de 2019.
A equipe de checagem da AFP consultou o Banco Mundial sobre os produtos com referência à covid-19 na base de dados. A organização explicou que a classificação corresponde a “equipamentos médicos utilizados há muito tempo para outros fins, mas que têm sido de especial importância com a covid-19 e que foram classificados como produtos covid-19 pela Organização Mundial das Alfândegas (OMA) para facilitar seu acompanhamento”.
“Em abril [de 2020], a OMA elaborou uma lista de códigos de classificação tarifária (códigos HS) para que os países pudessem rastrear e agilizar o intercâmbio de produtos essenciais relacionados com a covid-19”, explicou o Banco Mundial.
Na lista, estão “dezenas de instrumentos médicos utilizados para diagnosticar ou tratar a covid-19, como os respiradores que, como todos sabemos, existiam muito antes da pandemia”.
Segundo a lista da OMA, o produto com o código 300215, que aparece nas postagens em português, é um teste de diagnóstico baseado em reações imunológicas; enquanto o número 382200 corresponde ao teste PCR (reação em cadeia da polimerase), uma técnica que existe desde 1986.
Um dos produtos que aparece nas publicações em espanhol, francês e inglês tem o código 902780. A classificação da OMA indica que o código corresponde a um “detector colorimétrico de CO2”. Segundo o Banco Mundial, este instrumento serve para “ajudar profissionais de saúde a verificar rapidamente se os pacientes estão conectados corretamente a um dispositivo respirador” e existe “há muito tempo”.
O detector colorimétrico “se conecta diretamente ao tubo endotraqueal” que é utilizado nas intubações orais, indica a empresa norte-americana Medtronic.
“Más interpretações”
A tabela que enumera as exportações de testes de diagnóstico baseados em reações imunológicas ainda está disponível na base de dados da WITS. A menção à covid-19 foi, no entanto, removida da coluna de descrição do produto. Agora, no lugar de “Kits de testes COVID-19” se lê “Kits de testes médicos”.
Os dados referentes a importações, compartilhados em diversos idiomas, também foram alterados.
“Em vista às más interpretações que surgiram nos últimos dias, a equipe atualizou as descrições para deixar claro que se tratavam de produtos que existiam antes da covid-19”, disse o Banco Mundial.
Uma explicação também foi acrescentada na versão atual das tabelas: “Os dados abaixo monitoram dispositivos médicos previamente existentes que agora são classificados como essenciais para lidar com a covid-19 pela Organização Mundial das Alfândegas”.
Em resumo, é falsa a afirmação de que os testes para detectar a covid-19 começaram a ser vendidos antes da detecção da doença. Os itens listados na tabela da WITS eram utilizados para outros propósitos e foram classificados como “produtos covid-19” apenas em abril de 2020.