Não existe um filme chamado "A variante ômicron" e o cartaz que circula é uma montagem
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- Publicado em 2 de dezembro de 2021 às 19:20
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- Por Ana PRIETO, AFP Argentina, AFP Brasil
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“Saudades de quando a ficção científica era só ficção”, assinala um tuíte que inclui um suposto pôster do filme.
Na imagem, também compartilhada no Facebook (1, 2) e no Instagram (1, 2), pode-se ver um casal olhando para o céu à noite, uma mão machucada por um inseto e a frase, em inglês, “O dia em que a Terra se tornou um cemitério”.
No canto inferior esquerdo do cartaz está escrito que o filme ganhou o primeiro prêmio do Festival de Cinema Fantástico de Trieste e, à direita, há o nome do diretor: Saul Bass.
O conteúdo também circula amplamente em outros idiomas, como espanhol (1), inglês, francês, alemão e catalão.
Origem da imagem
Uma busca reversa pela imagem viral levou ao cartaz original, no site de compra e venda todocoleccion: um pôster do filme de 1974 intitulado “Phase IV” (“Fase IV - Destruição”, em português), dirigido pelo norte-americano Saul Bass.
Bass foi um dos pioneiros da arte gráfica cinematográfica nos Estados Unidos. Criou pôsteres e sequências de créditos para longa-metragens como “Um corpo que cai” e “Psicose”, de Alfred Hitchcock, “Amor, sublime amor”, de Robert Wise e Jerome Robbins, e “Cabo do medo” e “Cassino”, de Martin Scorsese.
“Fase IV - Destruição” é o seu único longa-metragem como diretor e, efetivamente, ganhou o maior prêmio no Festival de Cinema Fantástico de Trieste, na Itália, em 1975.
De acordo com a descrição que aparece no site do festival, o filme trata sobre “um exército de formigas inteligentes (...) que consegue a supremacia na Terra, iniciando uma nova etapa para o planeta”.
A equipe de checagem da AFP fez uma busca no roteiro do filme, escrito por Mayo Simon. Não há nenhuma alusão a um vírus, ao coronavírus ou a variantes.
A montagem
A equipe de checagem da AFP fez uma nova busca, dessa vez nas redes sociais, e encontrou o cartaz viralizado na conta de Twitter da autora e comediante irlandesa Becky Cheatle.
A imagem foi publicada em 28 de novembro de 2021 com a seguinte legenda, em inglês: “Editei a frase ‘The Omicron Variant’ em um monte de pôsteres de filmes de ficção científica dos anos 1970 #Omicron”.
Cheatle confirmou à AFP ser a responsável pela imagem.
Além do cartaz viralizado, ela fez intervenções digitais nos pôsteres dos filmes “O enigma de Andrômeda” e “Colossus 1980”.
“Foi somente uma brincadeira baseada no fato de que a variante ômicron soa como um filme de ficção científica dos anos 1970. Eu não esperava que alguém fosse levar a sério”, disse.
“Ômicron”, um filme italiano de 1963
Não foram encontrados registros de um filme chamado “A variante ômicron”, mas sim “Ômicron”, uma comédia de ficção científica de 1963 dirigida pelo italiano Ugo Greggoreti. A obra trata de um extraterrestre que entra no corpo de um terráqueo para inspecionar o planeta antes que a sua espécie o conquiste.
Nas redes sociais, os usuários comentavam sobre a suposta coincidência de existir um filme com esse nome, mas o longa de Greggoreti não faz alusão alguma a vírus, variantes ou a uma pandemia.
A variante ômicron do SARS-CoV-2, como as outras variantes de interesse e preocupação classificadas pela Organização Mundial da Saúde, leva como nome uma letra do alfabeto grego.
As variantes de preocupação estão associadas a uma ou mais mutações no vírus cujo impacto pode ser significativo para a saúde pública. Até 2 de dezembro de 2021, a comunidade científica ainda estava avaliando a transmissibilidade e a gravidade do quadro clínico da variante ômicron.
O Checamos já verificou conteúdos falsos ou enganosos relacionados a variantes, como os supostos sintomas da variante delta e a existência de um “cronograma de cepas”.