Não há comprovação científica de que vacinas anticovid causem distúrbios menstruais
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- Publicado em 22 de outubro de 2021 às 23:18
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- Por AFP Brasil, AFP Bélgica, AFP França
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“Absolutamente normal. Acontece. É isso aí”, diz uma postagem feita no Twitter, acompanhada por quatro capturas de tela contendo relatos sobre alterações no ciclo menstrual após a vacinação contra a covid-19.
Conteúdo semelhante também circulou no Facebook (1, 2, 3).
Publicações com alegações similares circularam em espanhol e em um conteúdo checado pela AFP em francês.
Procurada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ao Checamos em 21 de outubro de 2021 que recebeu, até o momento, 309 notificações que “relatam suspeitas de relação entre o evento adverso (alteração menstrual) com o uso da vacina [contra covid-19]”. A entidade também afirmou que a informação da notificação é de responsabilidade do notificante e destacou que “os relatos não indicam alteração de sinal de segurança relevante na relação eficácia-segurança da vacina”.
“Os dados nacionais são semelhantes aos dados internacionais, que também não indicam alteração no perfil de segurança”, acrescentou a Anvisa.
“[Essa discussão] surgiu porque, principalmente no Reino Unido, algumas mulheres começaram a relatar que estavam tendo alteração no ciclo menstrual logo [no período] seguinte à vacinação. Eles não conseguiram ainda estabelecer uma relação de causa e efeito porque justamente isso pode acontecer em mulheres que não tomaram a vacina e, quando todo mundo toma a vacina, fica difícil ver se tem a ver com a vacina ou não”, explicou ao Checamos Mirian Dal Ben, médica infectologista do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.
Em agosto de 2021, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para Saúde (MHRA) do Reino Unido afirmou que estava analisando relatos de alterações menstruais suspeitas de serem possíveis efeitos colaterais das vacinas contra covid-19. “A avaliação rigorosa feita até esta data não corrobora uma ligação entre mudanças no ciclo menstrual e sintomas correlatos e as vacinas contra covid-19”, disse em um comunicado.
“De qualquer forma, não teve nada permanente, a maior parte delas foram alterações que já se normalizaram no próximo ciclo”, afirmou Dal Ben.
Na França, a Agência Nacional de Segurança de Medicamentos e Produtos para Saúde (ANSM) indicou no final de julho passado um "sinal potencial" de distúrbios menstruais após a vacinação. No entanto, em seu relatório de farmacovigilância publicado no início de agosto, sinalizou que até o momento não era possível "estabelecer uma relação entre a vacinação e distúrbios menstruais".
Por sua parte, em agosto de 2021, a Agência Federal de Medicamentos da Bélgica confirmou à equipe de verificação da AFP ter recebido notificações de distúrbios menstruais após a administração de vacinas contra a covid-19: "Trata-se principalmente de notificações de ciclos alterados (ciclo prolongado ou encurtado, sangramento inter-menstrual), alterações na intensidade do sangramento (menstruação mais ou menos profusa) e no sangramento pós-menopausa”.
“A grande maioria desses efeitos colaterais não foram graves e se resolveram espontaneamente. Até o momento, nenhuma relação de causa e efeito pode ser estabelecida” com a vacinação, acrescentou a agência belga.
“Esses distúrbios ocorrem o tempo todo na vida das mulheres em geral porque os ciclos menstruais são extremamente sensíveis às mudanças no ambiente e ao estresse”, disse a imunologista francesa Sophie Lucas à AFP em 26 de agosto de 2021. “Quando observamos mudanças no ciclo menstrual, muitas vezes é extremamente difícil dizer o que as causa”, explicou.
Entrevistado pela AFP em 27 de agosto de 2021, o ginecologista Yannick Manigart, chefe da clínica médica do hospital CHU Saint-Pierre, em Bruxelas, disse que, após ter consultado 15 colegas, não ouviu sobre nenhum caso de oscilações menstruais após a vacinação.
“Os distúrbios menstruais podem acontecer por vários motivos”, afirmou, acrescentando: “Podem ser por desequilíbrio hormonal, estresse, fuso horário… No contexto da vacinação, podem estar ligados a um estresse intenso”.
A ginecologista Axelle Pintiaux também disse à AFP desconhecer quaisquer distúrbios menstruais após a vacinação contra a covid-19. Mas ressaltou que os confinamentos levaram a oscilações do ciclo: "Algumas mulheres ganharam peso, o metabolismo mudou, ou elas começaram a praticar muito esporte e apresentaram uma amenorreia funcional [ausência de menstruação]".
“O que é mais importante falar é que, diante disso, algumas fake news começaram a surgir falando que talvez a vacina trouxesse infertilidade - o que também não é verdade. O sistema de vigilância americano já publicou dados com mais de 35 mil gestantes mostrando que a taxa de complicações na gestação comparada com o período pré-vacinal é a mesma”, acrescentou a infectologista Dal Ben.
O Checamos já verificou anteriormente mitos sobre a menstruação (1) e sobre as vacinas contra covid-19 (1, 2, 3).
*Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.