Não é real a foto de uma criança ao lado de sua mãe defendendo o aborto “ao qual não teve direito”
- Publicado em 24 de outubro de 2025 às 21:17
- 2 minutos de leitura
- Por Bill MCCARTHY, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
No contexto do andamento de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que trata da descriminalização do aborto no Brasil, uma imagem soma mais de mil interações nas redes sociais supostamente mostrando uma mãe ao lado da sua filha enquanto segura um cartaz pró-aborto, pelo “direito que não teve”. Mas o registro, que circula desde junho de 2025, foi manipulado; na fotografia real, capturada durante uma marcha de mulheres no México em 2023, a manifestante mostra uma mensagem diferente, escrita em espanhol. À AFP, a autora do registro confirmou que seu trabalho foi usado indevidamente.
“Quero que minha filha tenha o direito de abortar que eu não tive”, diz a suposta mensagem exibida no cartaz que acompanha a imagem viral no Facebook, no Instagram e no X.
Publicações semelhantes circulam também em inglês e espanhol.
Em junho de 2025, quando as postagens começaram a circular, a deputada federal Clarissa Tércio (PP) apresentou um projeto de lei para tornar obrigatório afixar placas ou cartazes em estabelecimentos de saúde desestimulando o aborto legal no país.
Poucos meses depois, a pedido do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, a Corte retomou o julgamento de uma ação movida em 2017 que propõe a descriminalização da prática até a 12ª semana de gestação. O STF também voltou a analisar ações que tratam da efetividade do aborto nos casos já permitidos por lei e dos profissionais habilitados para o procedimento. No Brasil, o aborto legal só está previsto em casos de estupro, risco à saúde da gestante e de fetos anencéfalos.
Em uma sessão extraordinária realizada em 17 de outubro de 2025, um dia antes de se aposentar, o ex-ministro Barroso votou a favor da proposta. Após o registro de seu voto, o julgamento foi suspenso por tempo indeterminado. O placar tem, até o momento, dois votos favoráveis à ação.
Mas, ainda que o tema tenha provocado manifestações em apoio à proposta, a imagem viral não é autêntica.
Uma busca reversa pelo conteúdo no Google levou à mesma fotografia publicada em 24 de março de 2023 por um portal mexicano chamado La Casa de Todas y Todos. Na foto, percebe-se que o cartaz exibido pela mulher dizia, em espanhol: “Soy mamá de la niña que jamás vas a tocar”, “Sou mãe da menina que você nunca tocará”, em português.
Na ocasião, o portal publicou imagens da marcha do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2023, em Monterrey, no México. As fotografias são creditadas a Alejandra García.
Em 25 de novembro de 2024, por meio do Instagram, García confirmou à AFP ser a autora do registro. “Sem dúvidas é manipulada”, disse ela sobre a imagem adulterada.
Ela afirmou ainda que a mãe fotografada havia dado permissão para que a foto fosse publicada.
“Acho muito injusto estarem usando a imagem dela para compartilhar outras alegações”, disse. “É muito triste que a mensagem verdadeira fale sobre violência contra meninas, e que tenham usado isso, com o rosto de uma menor na fotografia, para espalhar mentiras.”
García também forneceu à AFP o arquivo com a imagem original de sua câmera, além da foto em formato JPG e uma versão editada por ela para correção de cor. Todas elas mostram que o cartaz da mãe era sobre sua filha, não sobre aborto.
Os metadados anexados aos arquivos também confirmam que a foto foi tirada em 8 de março de 2023.
Referências
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