“Mensagem em português” de Trump para brasileiros foi gerada com inteligência artificial

  • Publicado em 17 de julho de 2025 às 20:52
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
No início de julho de 2025, o mandatário norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre produtos do Brasil e criticou o que seria uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estremecendo as relações entre os países. Nesse contexto, publicações com mais de 90 mil interações compartilham uma suposta mensagem ao povo brasileiro gravada em português pelo mandatário. Mas o conteúdo usa inteligência artificial para manipular um discurso feito por Trump em junho, quando os Estados Unidos atacaram o Irã em meio ao conflito entre Israel e a República Islâmica.

“URGENTE: Presidente Donald Trump envia mensagem em português com alerta sério e apelo direto às autoridades civis, militares e à população brasileira”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no X, no TikTok e no YouTube.

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Captura de tela feita em 16 de julho de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Na gravação viral, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa em um púlpito vestindo um terno azul marinho e uma gravata vermelha. Atrás dele, encontram-se outras lideranças norte-americanas: a partir da esquerda, o vice-presidente, JD Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o secretário de Defesa, Pete Hegseth.

Em português e com sotaque, Trump supostamente diz: “Prezado povo brasileiro, autoridades civis, políticas e militares, o mundo já entendeu que Alexandre de Moraes e seus cúmplices do Supremo Tribunal Federal, nos últimos seis anos, destruíram a Constituição, a democracia, as instituições e passaram a oprimir o povo brasileiro com o objetivo de instaurar através do uso da força o comunismo chinês no Brasil”.

Ao longo do vídeo, ele parece incitar o povo e as autoridades brasileiras a “fazer sua parte urgentemente antes que seja tarde demais” e lutar “contra tudo e todos que estão mantendo os tiranos psicopatas do STF no poder”.

O conteúdo circula em meio a uma crise nas relações entre Brasil e Estados Unidos, marcada pela ameaça de Trump de impôr tarifas de 50% sobre as importações brasileiras — em parte motivada pelo que o mandatário considera uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — e pela investigação norte-americana sobre práticas comerciais do Brasil. Em carta divulgada no último dia 16, o governo brasileiro manifestou abertura para negociações.

Mas a sequência viralizada não é um pronunciamento verdadeiro de Trump, e seu áudio foi gerado com inteligência artificial.

Vídeo manipulado com IA

Sobreposta às imagens, há a indicação “DreamFace”, aplicativo que permite aos usuários criar vídeos, fotos ou avatares de inteligência artificial. A inscrição é acompanhada, em algumas publicações, pelo texto, em inglês, “Animado com IA”.

Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google conduziu a vídeos publicados por veículos internacionais no YouTube em junho de 2025 (1, 2, 3), nos quais Trump caminha até o púlpito rodeado pelos mesmos funcionários vistos na gravação viralizada.

No discurso original, feito em 21 de junho, Trump anunciou que os Estados Unidos haviam bombardeado instalações nucleares no Irã com a finalidade de impedir o desenvolvimento de uma bomba atômica pelo país, um objetivo negado por Teerã.

O ataque, classificado pelo republicano como um “sucesso espetacular”, ocorreu em meio ao conflito de 12 dias entre Israel e Irã, iniciado em 13 de junho após um ataque israelense sem precedentes contra instalações nucleares e alvos militares iranianos.

Uma pesquisa pelas palavras-chave “Donald Trump”, “Alexandre de Moraes”, “discurso” e “português” não encontrou nenhum registro de que o mandatário tenha feito uma declaração em português sobre o ministro ou o Supremo Tribunal Federal (STF).

O AFP Checamos já verificou outras peças de desinformação sobre o anúncio de tarifas por parte de Trump (1, 2) e que utilizam inteligência artificial para manipular declarações de lideranças políticas.

Referências

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