Gravação de Sandra Annenberg é manipulada para divulgar falsa indenização do “Resgata Brasil”
- Publicado em 30 de setembro de 2024 às 21:14
- 7 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Oi, pessoal. Só pra lembrar vocês que em menos de 48 horas se encerram as análises da indenização do benefício Resgata Brasil por vazamento de dados pra confirmar se pode receber sua indenização de mil a 7 mil reais. Verifique agora se você tem direito a receber sua indenização, o link está logo abaixo”, diz supostamente a apresentadora Sandra Annenberg em um vídeo que circula no Facebook.
O conteúdo também é divulgado por uma página intitulada GOV que, assim como no link anunciado, exibe elementos da identidade visual do governo federal.
Contudo, a gravação foi manipulada e a tal indenização não existe.
Vídeo manipulado
Em 24 de setembro de 2024, Sandra Annenberg publicou um vídeo em sua conta no Instagram alertando para a tentativa de golpe usando sua imagem.
“Eu estou sendo vítima de uso indevido da minha imagem nas redes sociais. Adulteraram um post que eu fiz para o Globo Repórter e, com o mau uso da inteligência artificial, colocaram um outro texto com uma voz que lembra muito a minha. Estão usando a minha credibilidade, construída ao longo de mais de três décadas de telejornalismo, para aplicar golpes (...) Isso é estelionato, é crime. E eu e a Globo vamos entrar com todas as medidas cabíveis”, afirma a jornalista.
Por meio de uma busca no perfil de Annenberg foi possível encontrar o vídeo original, publicado em 30 de agosto em parceria com o Globo Repórter, como explicado pela jornalista. “Vamos fazer as contas. Ainda tem uns 20 dias de inverno pela frente. Mas que inverno é esse? Então, o Globo Repórter foi atrás do frio nas montanhas do sul de Minas Gerais”, diz a apresentadora na gravação usada de base para a montagem viral.
Indícios de fraude
Um dos sinais de que o anúncio é fraudulento está na página GOV, que divulga os conteúdos. Nela, é possível ver que só há publicações feitas em 20 de setembro que não têm relação com o governo federal.
Além disso, o site divulgado pelos anúncios pede que o usuário informe o seu CPF e, em seguida, exibe uma suposta matéria do Jornal Nacional dizendo que o governo brasileiro autorizou a indenização.
Entretanto, é possível ver a bandeira da Venezuela atrás dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos. Em outro momento, a gravação exibe uma captura de uma nota no site do Partido dos Trabalhadores (PT) — elementos que sugerem que o assunto abordado pelo noticiário não era relacionado à suposta indenização.
Por meio de uma busca por “Jornal Nacional”, “PT” e “Venezuela”, o Checamos localizou a reportagem que foi manipulada. A nota do PT foi exibida no telejornal em julho de 2024 e informava sobre as eleições na Venezuela.
Em 5 de setembro de 2024, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) emitiu nota sobre um golpe também relacionado a uma suposta indenização para vítimas de vazamento de dados.
O comunicado pede para que o usuário se atente à URL dos links divulgados: “Vale ressaltar também que a extensão ‘.br’ caracteriza os sites brasileiros na internet. O Governo Federal não hospeda sites e sistemas usando extensões estrangeiras. Se você receber algum link mencionando uma política pública ou ação do governo que a home page não termine em ‘.br’, você pode estar diante de uma ameaça virtual”.
Os sites do governo sempre usam a terminação “.gov.br”. Já o site divulgado pelos anúncios acaba em “.com”, sendo, portanto, um site não governamental hospedado fora do Brasil.
Manipulação digital
Conteúdos manipulados como esse podem ser criados usando técnicas convencionais de edição ou ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA), o chamado deepfake. Em entrevista à AFP, a cientista da computação Ana Carolina da Hora explicou as diferenças entre esses tipos de manipulação.
“Vídeos deepfake, especialmente os de menor qualidade, podem apresentar inconsistências na renderização de rostos, como distorções sutis ou mudanças anômalas na textura da pele, cabelo, iluminação ou sombras. Vídeos editados convencionalmente tendem a ter uma consistência maior em termos de iluminação e textura”, exemplificou.
Ela esclareceu ainda que “imperfeições nos movimentos faciais, especialmente ao redor dos olhos e da boca, piscadas irregulares ou ausentes, lábios que não sincronizam perfeitamente com o áudio ou expressões faciais que parecem fora de contexto são sinais comuns” de manipulação por IA.
O Checamos já verificou outro conteúdo relacionado à falsa indenização para vítimas de vazamento de dados.