Gravação com Nikolas Ferreira é manipulada para divulgar golpe do “Indeniza Brasil”
- Publicado em 27 de setembro de 2024 às 22:51
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- Por AFP Brasil
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“Pessoal, assunto sério. Se encerra hoje o prazo para sacar os 7 mil reais de indenização por conta do vazamento de dados. Após um vazamento enorme, milhares de brasileiros foram prejudicados e como consequência, na última segunda-feira, após uma reunião no Supremo Tribunal Federal, foi decidido que cada brasileiro prejudicado receberá uma indenização que pode chegar em até 7 mil”, diz supostamente o deputado Nikolas Ferreira em um vídeo que circula no Facebook.
O conteúdo é divulgado por uma página intitulada GOV, que usa o logo do governo federal.
Contudo, a gravação foi manipulada e a indenização não existe.
Vídeo sobre manifestação de 2023
A mesma gravação de Ferreira foi usada em maio de 2024 em um golpe que divulgava antenas da Starlink, e o Checamos verificou o conteúdo.
O vídeo original foi publicado no Instagram do deputado em 25 de novembro de 2023 para convocar apoiadores para uma manifestação marcada para o dia seguinte, na avenida Paulista, em São Paulo.
O Checamos não localizou no portal do STF nenhuma notícia sobre qualquer decisão do tribunal relacionada a indenizações para vítimas de vazamento de dados.
Além disso, uma análise da página GOV, que difunde o conteúdo viral, permite identificar que só há publicações feitas em 20 de setembro de 2024 e que elas não têm relação com o governo federal.
Em 5 de setembro de 2024, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) emitiu nota informando que o governo federal não possui um programa chamado Indeniza Brasil e alertando para o risco de golpe financeiro.
Manipulação digital
Gravações manipuladas como essa podem ser criadas usando técnicas convencionais de edição ou ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA), o chamado deepfake. Em entrevista à AFP em abril, a cientista da computação Ana Carolina da Hora explicou as diferenças entre esses tipos de manipulação.
“Vídeos deepfake, especialmente os de menor qualidade, podem apresentar inconsistências na renderização de rostos, como distorções sutis ou mudanças anômalas na textura da pele, cabelo, iluminação ou sombras. Vídeos editados convencionalmente tendem a ter uma consistência maior em termos de iluminação e textura”, exemplificou.
Ela esclareceu ainda que, em casos de manipulação por IA, “imperfeições nos movimentos faciais, especialmente ao redor dos olhos e da boca, piscadas irregulares ou ausentes, lábios que não sincronizam perfeitamente com o áudio ou expressões faciais que parecem fora de contexto são sinais comuns”.