Vídeo é manipulado para mostrar Nikolas Ferreira anunciando antenas de internet da Starlink

  • Publicado em 21 de maio de 2024 às 22:06
  • Atualizado em 22 de maio de 2024 às 14:59
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) não gravou um vídeo divulgando uma suposta iniciativa do empresário Elon Musk para “distribuir internet no Brasil quase de graça”, ao contrário do que alegam publicações com mais de 1,2 milhão de visualizações nas redes sociais desde 14 de maio de 2024. O conteúdo manipula uma filmagem publicada no perfil de Nikolas no Instagram, na qual ele convocava seguidores para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, em 26 de novembro de 2023. Além disso, não há registro de tal oferta pela Starlink.

“O Elon Musk enlouqueceu”, diz o texto sobreposto a uma das publicações compartilhadas no Facebook.

O conteúdo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.

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Captura de tela feita em 20 de maio de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

No vídeo, o deputado federal Nikolas Ferreira parece dizer: “Gente, o Elon Musk está distribuindo internet no Brasil quase que de graça. Só é preciso pagar o plano da Starlink uma única vez que a antena chega diretamente na sua casa e funciona de qualquer lugar do mundo com internet 5G via satélite”.

“Dentro dessa caixa, vem a antena. Você monta ela e posiciona em um local bem aberto e pronto. Liberdade de ter internet aonde você quiser. Para solicitar a sua, basta clicar no botão abaixo, entrar no site e assinar o plano da antena Starlink. O pagamento é feito uma única vez e você tem internet vitalícia e a antena fica para sempre com você, com internet de qualquer lugar do mundo”, completa.

Contudo, o vídeo não mostra o deputado anunciando uma iniciativa da empresa norte-americana.

Vídeo manipulado

Uma busca no perfil de Nikolas Ferreira no Instagram levou ao vídeo original, publicado em 25 de novembro de 2023.

Mas, em vez de anunciar as antenas da Starlink, o deputado dizia que estaria presente em manifestações marcadas para o dia seguinte, 26 de novembro, na Avenida Paulista, em São Paulo. Na ocasião, quase três mil pessoas se reuniram no local para exigir a saída do juiz Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na filmagem, é possível identificar os mesmos elementos presentes no conteúdo viral, como a camisa verde, a marca no pescoço do deputado, o interior do veículo e o carro branco visto através da janela traseira. Também nota-se a edição realizada nas imagens da boca de Nikolas, que altera o formato dos dentes e apaga uma pinta logo abaixo do nariz:

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Comparação feita em 20 de maio de 2024 entre capturas de tela de uma publicação no Facebook (E) e outra no Instagram de Nikolas Ferreira (.)

A assessoria de imprensa do deputado confirmou à AFP, em 22 de maio, que o vídeo viralizado não foi produzido ou divulgado por Nikolas e é “claramente uma montagem”.

As postagens virais redirecionam o usuário a um link para o site“star-net.site”, que oferece um plano de dados “100% vitalício e sem recorrência mensal”, e não à página oficial da Starlink, em que o serviço pode ser contratado por uma mensalidade, além do custo pelo equipamento e impostos, sem menção à possibilidade de ter “internet vitalícia”.

Uma pesquisa pelas palavras-chave “Starlink” e “internet vitalícia” no Google não resultou em qualquer informação oficial da empresa sobre a suposta iniciativa.

Em 9 de maio de 2024, o empresário sul-africano Elon Musk, dono da Starlink, anunciou em seu perfil no X a doação de mil terminais de emergência da empresa para auxiliar nas operações de resgate no Rio Grande do Sul, em meio a uma tragédia climática que afetou mais de dois milhões de pessoas desde o fim de abril. Contudo, Musk não ofereceu antenas e dados de internet “para sempre” para os consumidores brasileiros.

Manipulação digital

Os conteúdos virais usam técnicas de manipulação digital. Algumas dessas tecnologias possibilitam captar informações sobre os movimentos faciais e a voz de uma pessoa para produzir imagens falsas.

Esse tipo de material pode ser fabricado com recursos de edição convencionais ou com ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA), o chamado deepfake.

Em uma verificação anterior publicada pela AFP, a cientista da computação especializada em IA Ana Carolina da Hora apontou, em janeiro de 2024, que a qualidade da imagem e os movimentos faciais da pessoa ajudam a identificar a forma como o vídeo foi manipulado.

“Vídeos deepfake, especialmente os de menor qualidade, podem apresentar inconsistências na renderização de rostos, como distorções sutis ou mudanças anômalas na textura da pele, cabelo, iluminação ou sombras. Vídeos editados convencionalmente tendem a ter uma consistência maior em termos de iluminação e textura”, exemplificou.

“Pode haver imperfeições nos movimentos faciais, especialmente ao redor dos olhos e da boca. Piscadas irregulares ou ausentes, lábios que não sincronizam perfeitamente com o áudio ou expressões faciais que parecem fora de contexto são sinais comuns. Em vídeos editados tradicionalmente, a voz original geralmente é preservada, embora possa ser cortada ou rearranjada”.

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que manipulam digitalmente imagens de personalidades e políticos para divulgar serviços e produtos suspeitos.

Referências

Inclui posicionamento do deputado Nikolas Ferreira, por meio de sua assessoria de imprensa.
22 de maio de 2024 Inclui posicionamento do deputado Nikolas Ferreira, por meio de sua assessoria de imprensa.

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