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Vídeo é editado para mostrar Maduro ordenando Guarda Nacional a matar e torturar manifestantes
- Publicado em 8 de agosto de 2024 às 22:06
- Atualizado em 8 de agosto de 2024 às 22:13
- 7 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Maduro dando ordens à Polícia para que matem os manifestantes, e nosso Desgoverno do Descondenado apoiando isso”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no X, no Kwai e no YouTube.
O conteúdo, que também circula em espanhol, foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, se duvidarem da sua veracidade.
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Na sequência viral, Nicolás Maduro aparece conversando com oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB). Em um áudio que se escuta em volume mais baixo do que a fala anterior de um dos guardas, ele parece dizer: “Quem virem protestando, matem. Fuzilem. Ninguém tem o direito de protestar na Venezuela. Se for preso, torturem. Quebrem as pernas. Que nunca mais possam protestar contra mim. (...) Eu prometi um banho de sangue e é isso que vou dar a todos que se levantarem contra mim”.
Em seguida, em um áudio um pouco mais alto e claro, ele afirma: “Essa gente está preparada para governar este país? (...) Eu estou em combate e conto com vocês”. Nesse segundo momento, os policiais soltam exclamações e respostas como “Não!” e “Viva!”.
As alegações começaram a ser compartilhadas no Brasil após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter declarado a vitória de Maduro, com 52% dos votos, contra 43% de seu principal adversário, Edmundo González Urrutia.
Apesar dos pedidos da oposição e de vários países, o CNE ainda não divulgou detalhes dos resultados, alegando que seu sistema foi alvo de “um ataque hacker em massa”. O partido de María Corina Machado, líder da oposição, por sua vez, publicou em um site as atas que indicam que González Urrutia teve 67% dos votos, e convocou protestos.
As manifestações já deixaram pelo menos 24 mortos, de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos, e mais de 2.200 detidos, segundo Maduro. Além disso, quatro jornalistas foram presos sob acusações de terrorismo.
Áudio editado
Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google conduziu a um vídeo publicado no YouTube em 1º de agosto de 2024, com o título, em espanhol, “Maduro continua convencendo a guarda”.
Nos primeiros segundos da sequência, aparece uma marca d’água do Instagram com o nome de usuário de Nicolás Maduro.
Uma busca nos perfis do presidente venezuelano nas redes sociais levou à mesma gravação, em versão estendida, publicada em 31 de julho de 2024 no X, no Instagram e no TikTok, com a indicação de que ela teria sido filmada em Caracas.
No vídeo original, Maduro classifica os protestos como “muito violentos” e afirma, sobre os manifestantes: “Eles são criminosos. São mais de 1.200 criminosos capturados, treinados no Texas, na Colômbia, no Peru e no Chile. Por que vieram? Para atacar, para queimar. Este hospital de Coche tentaram queimar. Ele foi salvo pela comunidade e por vocês. Isso é protesto ou luta política? Queimar hospitais?”.
Um dos policiais responde que tal ato seria “terrorismo”, e Maduro repete, concordando: “Isso é terrorismo”. Em seguida, é possível escutar a mesma fala sobre pessoas estarem preparadas para “governar” o país e Maduro estar “em combate”.
Contudo, não há no vídeo qualquer indicação sobre “matar” ou “torturar” manifestantes.
Ao contrário das publicações virais, a gravação compartilhada por Maduro não apresenta distorções de áudio e volume. Além disso, durante sua fala, ouvem-se respostas de oficiais da GNB que não estão presentes na sequência editada.
O mesmo vídeo também foi publicado por diversos usuários nas redes sociais, incluindo perfis críticos e contrários ao governo (1, 2, 3).
Uma publicação feita no X em 1º de agosto indica que a filmagem teria sido feita no hospital de Coche, em Caracas — assim como indica Maduro em sua fala original.
O conteúdo também foi divulgado por diferentes veículos de notícias (1, 2), assim como pela Secretaria Municipal de Administração e Arrecadação (Sumar) de Caracas.
O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre as eleições e as manifestações na Venezuela.
Referências
- Publicação de 1º de agosto de 2024 no YouTube
- Vídeo publicado nas redes sociais de Nicolás Maduro (1, 2, 3)
- Vídeo compartilhado por usuários nas redes sociais (1, 2, 3)
- Matérias sobre a gravação de Maduro com a Guarda Nacional (1, 2)
- Nota publicada pela Sumar em julho de 2024
8 de agosto de 2024 Ajusta publicação em rede social para visualização no blog.