Ibama não interrompeu a recuperação de estradas destruídas no Rio Grande do Sul

  • Publicado em 21 de maio de 2024 às 17:09
  • 6 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Desde o fim de abril de 2024, o Rio Grande do Sul sofre com inundações que já deixaram mais de 160 mortos. Neste contexto, um áudio compartilhado dezenas de vezes nas redes sociais desde 10 de maio afirma que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) interrompeu a ação de voluntários que queriam “arrumar” uma estrada no estado. Mas a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) afirmou que o trecho mencionado, na verdade, está em obras e apresentava “riscos de segurança”. O Ibama, por sua vez, informou que “não atua em estradas”.

“IBAMA proibindo os voluntários de arrumarem uma estrada para salvar vidas”, diz a legenda de publicações no Facebook. O conteúdo também circula no X e no Threads.

A alegação é compartilhada junto a um vídeo de uma pessoa segurando um celular e mostrando uma conversa na tela do aparelho. Na sequência, ouvem-se duas mensagens de voz. Na primeira, um homem diz que empresários vão “arrumar” a “BR-116”, alegando que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) não tem “previsão de arrumar”

No segundo áudio, ouve-se uma suposta denúncia: “Mais uma informação triste de como o poder público atrapalha. Ontem, desceram máquinas, retroescavadeiras para abrir mais a estrada, porque estava tendo deslizamentos, para haver um fluxo melhor nos veículos, para os voluntários e caminhões descerem para poder levar mantimentos, e o Ibama, o Ibama mandou parar tudo, que precisava da autorização deles e que se não parasse eles iriam trancar, lacrar todos os maquinários”.

Ainda de acordo com o áudio, que não indica autoria ou data da mensagem,“o Ibama, agora, mandou parar, cessar todo e qualquer alargamento da pista pra que haja fluidez no trânsito, pra salvar vidas, entre Vespasiano e Muçum, uma descida que precisa pra chegar ao vale. Por favor, alguém acione algum órgão competente para cessar isso, porque o Ibama não quer que abra estrada pra poder ter acesso e salvar essas pessoas, levar alimento a essas pessoas”.

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Captura de tela feita em 13 de maio de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo circula após fortes chuvas atingirem o Rio Grande do Sul, afetando mais de 460 cidades. De acordo com boletim da Defesa Civil gaúcha, foram registrados mais de 160 óbitos, mais de 72 mil pessoas estão em abrigos, há mais de 581 mil desalojados e foram resgatados mais de 12 mil animais em razão dos temporais que acontecem desde o final de abril.

Uma pesquisa pelos termos “Rio Grande do Sul”, “Ibama” e “estradas” não exibiu nenhuma notícia ou comunicado com o teor do conteúdo compartilhado nas redes sociais.

Ibama

O Ibama é uma autarquia federal, cuja missão é “formular e implementar políticas públicas ambientais visando proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável”.

O órgão tem como principais atribuições fiscalizar e zelar pelo cumprimento da legislação ambiental. Portanto, não está entre as suas funções o controle ou a fiscalização de rodovias, tampouco impedir a atuação de voluntários nas estradas — como afirmam os conteúdos virais.  

Em 10 de maio de 2024, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) publicou uma nota desmentindo as alegações virais e afirmou que o Ibama tem atuado junto ao Exército, à Defesa Civil e à Prefeitura de Porto Alegre para levar ajuda humanitária e auxiliar nos resgates de pessoas e animais vítimas das enchentes.

Procurada pelo Checamos, a assessoria do Ibama afirmou em 16 de maio que “não atua em estradas. Portanto é inverídica a informação de que o instituto está proibindo voluntários de atuarem em estradas para salvar vidas”

E acrescentou que a autarquia tem trabalhado em diversas frentes na ajuda às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Entre elas estão o resgate de pessoas, animais silvestres e domésticos, e a entrega de suprimentos para povos indígenas e quilombolas, na região metropolitana.

“Riscos para a segurança”

Uma outra busca pelas palavras-chave “bloqueios”, “estradas”, “rodovias” e “Rio Grande do Sul” exibiu comunicados sobre a situação das estradas publicados pelo governo gaúcho e pela Defesa Civil. 

Em 10 de maio, a Defesa Civil informou que “o Departamento de Estradas de Rodagem (Daer) e a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), vinculados à Secretaria de Transportes e Logística (Selt), produziram levantamentos que mostram a evolução da situação das estradas desde o início das fortes chuvas, em 29 de abril”.

Há, também, um mapa interativo com a situação das estradas no estado. Segundo as informações, há trechos bloqueados da via entre Vespasiano Corrêa e Muçum, cidades mencionadas no áudio viral.

Uma nova pesquisa com as palavras-chave “estrada”, “Vespasiano”, “Muçum” e “BR-116” levou a notícias (1, 2) sobre obras de pavimentação em uma extensão de três quilômetros da estrada vicinal que liga esses municípios. 

O primeiro áudio do conteúdo viral não indica o trecho exato da BR-116. Enquanto isso, uma segunda busca não retornou a informações específicas sobre obras entre Muçum e Vespasiano Corrêa, mas sim a diversos informes sobre reparos ao longo da rodovia.  

Uma reportagem publicada em 6 de dezembro de 2023 por uma emissora afiliada à Rede Globo no Rio Grande do Sul informou sobre rachaduras e desníveis que interditaram a ERS-129 entre Muçum e Vespasiano Corrêa. De acordo com a notícia, o problema surgiu em uma estrada localizada ao lado da ERS-129, no KM 88. 

Procurada pelo Checamos, a assessoria da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), responsável pela administração das estradas no Rio Grande do Sul, informou em 16 de maio que iniciou os trabalhos na estrada vicinal paralela à ERS-129 em 13 de maio, com início na localidade de Cidade Alta, em Muçum. A previsão é de que a obra seja concluída “em 15 dias, sujeita às condições climáticas favoráveis”, como detalharam em nota difundida no site da EGR.

A empresa também informou que em 10 de maio foi realizada uma reunião da EGR com prefeitos da região do Vale do Taquari, em Muçum, para analisar a possibilidade da “pavimentação de três quilômetros” nessa via alternativa, “para melhor atender o trânsito de veículos emergenciais e a população que se desloca pela rodovia entre esses municípios”

Também foi feita, informam, uma avaliação técnica para a construção de um desvio no local onde houve deslizamento e desabamento da pista no KM 88 da ERS-129, em Muçum, mas que a obra foi descartada “pois apresentava riscos para a segurança dos usuários e a trafegabilidade na via”.

A AFP também entrou em contato com o DNIT, mencionado no áudio viral. De acordo com a alegação, o órgão não teria “previsão de arrumar” a BR-116.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes disse ao Checamos que “informações oficiais a respeito do andamento de serviços emergenciais nas rodovias sob administração do DNIT no Rio Grande do Sul, especialmente as afetadas pelas chuvas e inundações que assolam o estado, podem ser acompanhadas no nosso site ou nas redes sociais oficiais”.

Uma consulta à página e às redes sociais (1, 2, 3) do órgão não exibiu nenhum comunicado sobre a estrada entre Muçum e Vespasiano Corrêa, mas há informes sobre serviços emergenciais e mudanças de tráfego em diversos trechos da BR-116 devido às chuvas no estado gaúcho.   

O Checamos já verificou outras alegações falsas ou enganosas sobre as enchentes no Rio Grande do Sul.

Este conteúdo também foi verificado pelo Aos Fatos.

Referências

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