Mandado de busca e apreensão da PF contra Pablo Marçal ocorreu em 2023, não em maio de 2024

  • Publicado em 21 de maio de 2024 às 15:18
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Um vídeo em que o empresário Pablo Marçal se declara “perseguido político” após um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) em sua casa não foi feito durante a tragédia que atinge o Rio Grande do Sul em 2024, como indicam usuários nas redes sociais. Publicações com essa alegação somam mais de 20 mil interações desde 11 de maio de 2024 e circulam depois de o governo federal acusar o influenciador de promover desinformação sobre o desastre no estado. Mas a gravação foi publicada por Marçal em julho de 2023, quando ele foi alvo de uma ação da PF sobre crimes eleitorais.

“Olha o que estão fazendo com PLABO  MARSAL, aquele que cedeu dois aviões, carretas de alimentos, está resgatando pessoas, convocando civis pra ajudar no RS…”, diz uma das publicações que acompanham a sequência, compartilhada no X, no Facebook, no TikTok e no Kwai. Alguns conteúdos contêm sobreposta a data  “10-05-2024”.

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Captura de tela feita em 17 de maio de 2024 de uma publicação no X (.)

No vídeo viralizado, o influenciador diz: “Tem gente perguntando o que aconteceu... Hoje, às 6H20 da manhã, recebi um mandado de busca e apreensão na minha casa, tava lá a Polícia Federal... E eu estou me declarando oficialmente um perseguido político”

Em seguida, o empresário indica o que teria motivado a ação comandada pela PF: “Alguém me perguntou se eu ajudei o Bolsonaro com dinheiro… Ajudei com dinheiro, ajudei com o tempo, ajudei com estratégia, fiz ajuda, sim, não vou negar nada que eu fiz”

O material circula após o governo federal acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) em maio de 2024 com um pedido de direito de resposta a Pablo Marçal. De acordo com essa ação, o influenciador teria divulgado informações falsas sobre a atuação das Forças Armadas na tragédia que atinge o Rio Grande do Sul.

Na petição, a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD), órgão da AGU que atua no caso, pede para que o influenciador publique em seus perfis nas redes sociais - no Facebook, no Instagram e no TikTok - a resposta oficial do governo com informações sobre a atuação dos militares no Rio Grande do Sul. De acordo com a AGU, ao contrário do que informou Marçal, os militares atuam na região desde 1º de maio.

Mas o vídeo em que o influenciador se declara “perseguido político” não faz parte do mesmo contexto.

Mandado contra Marçal em 2023

Uma busca reversa no Google por fragmentos da imagem levou a uma matéria do Estado de Minas de 5 de julho de 2023, ilustrada por uma foto do empresário. Nela, é possível ver que o influenciador utiliza a mesma camiseta e boné, e a parede ao fundo contém a mesma réplica de um carro de Fórmula 1 e uma bandeira do Brasil, vistas no vídeo viral.

Na ocasião, o veículo informou que Marçal se declarou “um perseguido político” após ser alvo de uma ação da Polícia Federal que investigava crimes eleitorais em 2022. Segundo o jornal, o influenciador e seu sócio foram investigados por suposta falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e apropriação indébita eleitoral. O caso também foi reportado na mesma data por outros portais de notícias do país (1, 2).

Uma busca no perfil do influenciador no Instagram permitiu chegar à postagem original de Marçal, em que se declara “perseguido político”, em 5 de julho de 2023.

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Comparação feita em 17 de maio de 2024 entre o vídeo que acompanha as publicações em 2024 (E) e a postagem original de Marçal no Instagram (.)

Na mesma data, o influenciador também postou em suas redes sociais (1, 2, 3) uma imagem do mandado de busca e apreensão apresentado pela Polícia Federal naquele momento. No documento, consta que a ação foi movida para “a coleta de provas referentes à práticas de crimes eleitorais e lavagem de dinheiro”.

De acordo com uma nota publicada pela PF, na ocasião, a Operação Ciclo Fechado investigou o empresário e seu sócio por supostamente realizarem doações milionárias para a campanha eleitoral de 2022, “sendo que boa parte desses valores foi remetido posteriormente às próprias empresas das quais são sócios”.

Conteúdo semelhante foi checado pela Boatos.org e pela Reuters.

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