Vídeo de alimentos vencidos denunciava prefeitura, não doação do governo Lula ao RS em maio de 2024
- Publicado em 10 de maio de 2024 às 20:20
- 5 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“URGENTE - Governo Lula envia mantimentos vencidos a mais de 6 meses para o Rio Grande do Sul!”, diz a legenda que acompanha o vídeo no Instagram, no Facebook e no X.
No início da sequência, um homem mostra a data de validade de um pacote de farinha e depois uma sala com vários alimentos empilhados. Ele narra a cena: “Farinha vencida não entregue para as pessoas que estão precisando. Alimento destinado pelo governo Lula para ser distribuído para a população carente do município estocado há mais de seis meses pela Defesa Civil e não sendo entregue. O governo Lula está mandando e eles não estão distribuindo”.
O conteúdo circula em meio ao estado de calamidade pública que o Rio Grande do Sul enfrenta após temporais iniciados no final de abril. O grande volume de água afetou mais de 400 municípios e, até o momento, mais de 110 mortes foram confirmadas e mais de 140 pessoas estão desaparecidas.
Devido ao desastre climático, doações estão sendo enviadas para suprir a falta de insumos básicos nas cidades.
Mas o vídeo viral não mostra alimentos vencidos enviados pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o estado nesse contexto atual.
Denúncia de vereador
No vídeo viral é possível identificar uma marca d’água com o nome de usuário “flaviusdajulia” no TikTok. Em algumas publicações, o registro também contém o escrito “Dajulia vereador-PT”.
Uma busca nesse perfil na plataforma confirmou que a conta é do vereador Flavius Dajulia (PT) de Bagé, município do Rio Grande do Sul. Pela consulta também foi possível chegar ao registro original, publicado em 16 de fevereiro de 2024 — meses antes, portanto, das chuvas que atingem agora o estado.
A legenda do vídeo aponta que os alimentos haviam sido enviados pelo governo federal, mas que estavam mal armazenados pela gestão municipal:
“ABSURDO! DESRESPEITOSO! Alimentos que dizem não terem sido enviados pelo Governo Lula estão lá, estocados, mal armazenados, vencidos. Até onde o Governo Lara é capaz de chegar?”, diz a legenda, citando o prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PTB).
Nessa mesma publicação, uma usuária do TikTok chamou atenção para o fato de que o vídeo estava sendo mal interpretado nas redes sociais atualmente: “Prestem atenção no áudio”, escreveu, “eles (...) estão falando que o governo do Lula enviou alimentos e que naquela cidade a prefeitura não entregou deixou estocado e venceu”. O vereador respondeu à mensagem concordando:
Uma busca no Google com as palavras-chave “alimentos vencidos” e “Bagé” levou a uma notícia também publicada em 16 de fevereiro de 2024 pela imprensa local com o título “Vereadores da oposição denunciam itens vencidos em cestas básicas; Defesa Civil se manifesta”.
O texto informa situação semelhante à vista no vídeo viral: a visita de vereadores em um local em que cestas básicas estavam armazenadas. A reportagem informa que cinco políticos, incluindo Dajulia, foram ao local após denúncias de que estavam sendo distribuídos produtos vencidos para a população.
Ainda de acordo com o texto, a cidade de Bagé havia recebido 10 mil cestas básicas como ação de emergência devido à estiagem e à chuva de granizo que atingiram a cidade em 2023, mas três mil cestas não haviam sido entregues à população. A Defesa Civil se manifestou por nota negando que cestas básicas tenham sido entregues com alimentos vencidos.
Após a viralização das peças de desinformação, o vereador postou um esclarecimento afirmando que o vídeo da sua denúncia foi utilizado fora de contexto.
@flaviusdajulia MENTIRAS NAS REDES. Lamentavelmente estão usando um vídeo meu, fora de contexto, para atacar o governo federal neste momento de sofrimento do povo gaúcho. Peço que as pessoas compartilhem a verdade. O governo federal vem ajudando muito o Rio Grande do Sul.
♬ som original - Dajulia Vereador PT
Cestas básicas entregues pelo MDS
Até a publicação desta verificação, o governo federal divulgou que empenhou cerca de R$ 15 milhões para a distribuição de 97 mil cestas básicas para atender a emergência atual do estado (1, 2).
Ao AFP Checamos, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) informou que as cestas são entregues primeiro à Unidade Armazenadora da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Canoas e depois destinadas para as demandas específicas.
“O fornecimento das cestas é feito por meio de ata de registro de preços e, para tanto, a empresa vencedora precisa cumprir os requisitos de qualidade contratados, bem como o prazo de validade dos alimentos que, no momento da entrega, deverá ter pelo menos 90 dias para consumo”, informou ao Checamos em 8 de maio.
“Quando do recebimento dos alimentos na Conab, eles passam por criteriosa análise antes do ateste do pagamento para a empresa, garantindo a qualidade dos alimentos a serem entregues”, acrescentou.
Outros conteúdos sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul já foram verificados pelo AFP Checamos (1, 2, 3).