Vídeo mostra celebração do Ramadã, e não comemoração pelo ataque do Irã contra Israel

Uma gravação em que uma multidão está reunida e comemorando em frente à mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, não mostra palestinos celebrando o ataque do Irã contra Israel em 13 de abril de 2024, ao contrário do que sugerem publicações visualizadas mais de 11 mil vezes desde o ocorrido. As imagens correspondem aos festejos de 5 de abril, quando muçulmanos se reuniram na 27ª noite do Ramadã, conforme foi reportado na época por veículos de comunicação e diversos usuários nas redes sociais. 

Palestinos comemoram na Mesquita Al-Aqsa após ouvirem notícias do ataque com mísseis do Irã”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X, no Kwai e no Telegram.

O conteúdo também circula em inglês, espanhol e francês.

Na sequência, uma multidão está reunida em frente à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, cantando e segurando celulares.

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Captura de tela feita em 17 de abril de 2024 de uma publicação no X (.)

Em 13 de abril de 2024, o Irã lançou um ataque sem precedentes contra Israel como represália ao bombardeio de 1º de abril que foi atribuído ao governo israelense e que destruiu um anexo do consulado iraniano na Síria, matando pelo menos 16 pessoas, entre elas sete membros da Guarda Revolucionária Islâmica.

A situação exacerbou as tensões regionais em plena guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, apoiado pelo Irã. Em 19 de abril, apesar de Teerã ter advertido Israel a não responder militarmente, uma represália israelense causou explosões na região central do Irã, de acordo com fontes do alto escalão do governo norte-americano.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou o ataque do Irã em um comunicado da Casa Branca e reafirmou o seu apoio a Israel.

Contudo, apesar da sequência viral ter sido compartilhada no X por perfis de agências de notícias como a iraniana Irna e a estatal russa Sputnik, assim como a sua conta correspondente no Brasil, ela não mostra uma reação positiva de palestinos ao ataque de 13 de abril do Irã contra Israel.

Vídeo anterior ao ataque

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo no Google revelou várias réplicas da mesma gravação publicadas uma semana antes do ataque do Irã contra Israel, e compartilhadas no contexto dos últimos dias do Ramadã. Entre elas, um vídeo publicado no TikTok na madrugada de 5 de abril, e posteriormente apagado, indica as hashtags “juventude de Jerusalém”, “Árabe 48”, “Ramadã”, “última sexta-feira do Ramadã” e “sexta-feira de manhã cedo”. 

O Ramadã é uma das celebrações religiosas mais importantes do Islã. Trata-se do nono mês do calendário lunar islâmico, cujo início varia a cada ano, e no qual os muçulmanos jejuam do amanhecer ao entardecer. Em 2024, ele teve início em 10 de março, o que faz com que a noite de 5 de abril seja a 27ª do mês, conhecida como Laylat al-Qadr.

A mesma busca reversa por fragmentos do vídeo também levou a vários outros registros similares publicados no YouTube em 5 de abril, com a descrição “noite 27 do Ramadã em Masjid ul Al-Aqsa” e as hashtags, em inglês, “shortsislâmicos”, “ramadã”, “palestina” e “mesquitaalaqsa”. As sequências também foram compartilhadas no Instagram (1, 2, 3), com a legenda “um mar de fiéis celebra Laylat al-Qadr na mesquita de Al-Aqsa e canta por Gaza e a mesquita de Al-Aqsa”.

O vídeo também foi publicado pelo veículo egípcio Al-Ghad.

A AFP e outras agências, como a AP, registraram imagens de 5 de abril de 2024 na mesquita de Al-Aqsa, quando uma multidão se reuniu para celebrar a jornada do Ramadã.

(AFPTV / Ahmad GHARABLI)

Áudio de 2017

Jornalistas da AFP no Oriente Médio explicaram que a multidão na gravação viral entoa “labbyaka ya Aqsa”, um cântico comum durante manifestações ou reuniões religiosas, e que significa “te obedecemos, ó al-Aqsa”. A mesquita de Al-Aqsa é o lugar mais sagrado do Islã depois de Meca e Medina, na Arábia Saudita.

Contudo, o áudio foi adicionado digitalmente ao vídeo. A AFP já havia identificado anteriormente o som original através de uma pesquisa pelas palavras-chave “te obedecemos, ó al-Aqsa”, em árabe, que revelou que o som corresponde a uma manifestação na Jordânia em 2017. O cântico já foi adicionado a outras gravações nas redes sociais desde então.

Referências

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