Vídeo de relatório do PL sobre as urnas é de 2022 e não houve comprovação de fraude

  • Publicado em 17 de janeiro de 2024 às 17:56
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em novembro de 2022, o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentou um relatório questionando o funcionamento das urnas eletrônicas e pedindo a anulação de votos computados nas eleições daquele ano. Desde 8 de janeiro de 2024, um vídeo sobre esse documento foi visualizado mais de 39 mil vezes como se mostrasse uma denúncia recente que ainda poderia reverter o resultado do pleito. No entanto, o relatório foi apresentado há mais de um ano e seus argumentos foram refutados. À época, o pedido foi negado pela Justiça, que condenou a coligação a pagar uma multa.

“Relatório do PL dá xeque-mate no TSE? O que estão esperando pra tirar esse governo impostor?”, diz a frase sobreposta ao vídeo no Instagram. Conteúdo semelhante também circula no Facebook e no Kwai.

A alegação é compartilhada junto a um vídeo em que se lê “JP NEWS”, em referência ao programa da Jovem Pan, e “PL entra com representação no TSE”. Nas imagens, um homem relata supostos problemas identificados no processo de registro dos votos nas urnas eletrônicas.

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Captura de tela feita em 16 de janeiro de 2024 de uma publicação no Instagram (.)

No entanto, o relatório não foi apresentado em 2024 e seu fundamento já foi refutado por especialistas e autoridades. 

“Alegações infundadas”

Uma busca pelas palavras-chave “PL entra com representação no TSE” no canal da Jovem Pan no YouTube levou a um vídeo, com título homônimo, publicado em 22 de novembro de 2022. 

“O PL se reuniu em coletiva nesta terça (22) para falar da representação no TSE sobre o caráter das eleições. Segundo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o processo deve ser ‘resguardado’ e ação tem como base o fortalecimento da democracia”, diz a legenda da sequência, que contém o mesmo trecho compartilhado nas redes.

A emissora repercutiu a entrevista coletiva concedida pelo presidente da legenda, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, derrotado na disputa presidencial daquele ano por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Na ocasião, o PL solicitava a anulação dos votos computados em 280 mil urnas eletrônicas usadas no segundo turno, em 30 de outubro, questionando o funcionamento dos equipamentos e alegando supostos erros que teriam dado a vitória a Lula. O pedido foi feito com base em um relatório elaborado por uma consultoria contratada pelo próprio PL.

De acordo com o documento elaborado para o partido, alguns modelos das urnas utilizadas no pleito de 2022 não poderiam ser identificados por apresentar um número de série único, e não individual, nos logs — sequências que registram as atividades das urnas eletrônicas. Esta é a alegação vista na sequência viral compartilhada nas redes.

No documento, o partido pontuou que “todas as urnas eletrônicas anteriores ao modelo UE2020 (i.e., UE2009, UE2010, UE2011, UE2013 e UE2015) exibiram, após o encerramento do procedimento de votação, em flagrante e insuperável falha sistêmica, o número de LOG genérico 67305985”.

Mas, na época, especialistas, inclusive alguns entrevistados pela AFP, já mostravam que essa falha não impedia a identificação das urnas e, portanto, não afetava a auditabilidade da votação. 

Por esse mesmo motivo, em dezembro de 2023, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, rejeitou o pedido e aplicou uma multa de R$ 22,9 milhões à legenda por litigância de má-fé.

Em nota publicada em 16 de dezembro daquele ano, o TSE divulgou um relatório elaborado em parceria com especialistas da Universidade de São Paulo (USP). O documento concluiu que os documentos do PL continham “alegações infundadas e falta de rigor técnico”

O Checamos já verificou outras alegações relacionadas às urnas eletrônicas (1, 2, 3).

Referências

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