É cena de websérie vídeo em que agentes de segurança parecem receber propina

  • Publicado em 30 de novembro de 2023 às 22:42
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Uma sequência onde se vê homens fardados recebendo pacotes de dinheiro de pessoas armadas não mostra agentes de segurança comandados pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), como afirmam publicações visualizadas mais de duas mil vezes nas redes sociais desde 19 de novembro de 2023. A gravação viral, na verdade, é um trecho da websérie “Era uma Vez Favela”, gravada na comunidade do Chapadão, no Rio de Janeiro.

“Força de Segurança do Ministro Flávio Dino, combatendo os traficantes nos morros do Rio de Janeiro-RJ”, diz a frase compartilhada em postagens no Facebook, no TikTok, no Kwai e no X (antes Twitter).

A alegação é acompanhada de um vídeo, com 40 segundos de duração, em que homens com vestimentas semelhantes ao uniforme usado por agentes de segurança empunham armas e supostamente recebem um montante em dinheiro. Na sequência de imagens, vê-se também pessoas com roupas comuns segurando armamentos.

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Captura de tela feita em 29 de novembro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

O conteúdo circula após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciar, em outubro de 2023, ações de reforço no combate à violência no estado do Rio de Janeiro.

O governador Cláudio Castro (PL) solicitou o auxílio federal para o patrulhamento em áreas de maior risco. Em suas redes sociais, Dino informou em 14 de novembro de 2023 que a presença das forças federais no Rio foi prorrogada até 31 de janeiro de 2024. Segundo o ministro, nesta data, será feita uma nova análise para eventual continuidade.

A Força Nacional de Segurança Pública foi criada por decreto em 29 de novembro de 2004 e não faz parte das Forças Armadas. Atuando em todo o território nacional mediante autorização do Ministério da Justiça, atende às necessidades emergenciais das polícias estaduais.

Mas as imagens virais não mostram uma cena real com agentes de segurança.

Cena de websérie

Uma pesquisa por palavras-chave relacionadas ao vídeo no YouTube levou ao canal “Era uma Vez Favela”, que produz uma websérie de mesmo nome na plataforma.

De acordo com a descrição no YouTube, “Era Uma Vez Favela” é uma produção audiovisual que “conta a verdadeira realidade das comunidades cariocas”. O conteúdo é gravado na comunidade do Chapadão, no Rio de Janeiro, com produção executiva de Leonardo Turco e direção geral da Redeneettv.

A página esclarece que as armas exibidas na série “são de Airsoft” e as drogas e cédulas “são fictícias”.

Ao analisar o conteúdo da conta, o AFP Checamos identificou as imagens viralizadas na aba “shorts”, de vídeos curtos, publicadas com o título: “só faz graça qnd o Turco não tá na Área”. O conteúdo, divulgado em 20 de novembro de 2023, é acompanhado pelas hashtags “cinema”, “atores” e “audiovisual”.

Nos comentários do vídeo, um usuário publicou: “Aqui é o Brasil!!!!!”. Ao que o canal respondeu: “Isso e um vídeo gravado no intervalo do set de gravação da série era uma vez Favela, e foi desmentido pelo g1 qnd nos associaram ao tráfico,tá no g1 a reportagem”, em referência à checagem publicada pelo Fato ou Fake em 28 de julho de 2023.

Na ocasião, o produtor executivo e idealizador do projeto, Leonardo do Carmo, conhecido como Leonardo Turco, explicou que as cenas são interpretadas por atores. “O curta-metragem dará origem à série ‘Era uma vez favela’, 100% comunidade, gravado na comunidade do Chapadão pela Redeneettv, juntamente comigo”, explicou.

Em sua descrição no Instagram lê-se que a produtora se dedica a produzir “Séries & Documentários” e a “Projetos Sociais”. Também há publicações sobre o processo de edição e os bastidores da série.

Uma consulta aos perfis marcados em uma das publicações no Instagram da produção levou a uma outra versão do vídeo, publicada em 3 de agosto de 2023 por um dos atores que participou da série. “O making of mais falado do ano”, é a frase sobreposta na sequência.

O AFP Checamos já verificou outras publicações baseadas em imagens de séries de ficção (1, 2, 3).

Referências

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