Laboratório na Colômbia não cria mosquitos geneticamente modificados, nem pertence a Gates

Um vídeo de um laboratório de mosquitos foi compartilhado centenas de vezes nas redes sociais desde 10 de junho de 2023 com a alegação de que se trata de uma fábrica do magnata Bill Gates instalada em Medellín, na Colômbia, para criar mosquitos geneticamente modificados. Na verdade, o laboratório visto na sequência viral pertence ao World Mosquito Program, que conta com mais de 20 financiadores, incluindo a Fundação Bill e Melinda Gates, e não utiliza modificação genética nesses insetos.

“Localizada na Colombia, a maior fábrica de mosquitos de Bill Gates liberta 30 milhões de mosquitos geneticamente modificados, todas as semanas, em 11 países”, diz a legenda de uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Kwai, no LinkedIn, no Telegram e no Twitter, agora chamado X.

O conteúdo também circula em croata e espanhol.

As postagens são acompanhadas de um vídeo em inglês que mostra Scott O’Neill, fundador e diretor do Programa Mundial de Mosquitos (WMP, na sigla em inglês), um grupo de empresas sem fins lucrativos pertencente à Universidade de Monash, na Austrália.

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Captura de tela feita em 1º de agosto de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

O vídeo, produzido pelo WMP, foi postado originalmente em agosto de 2022 na conta de Bill Gates no YouTube. Nele, O'Neill visita uma “fábrica de mosquitos” em Medellín, na Colômbia, que “produz 30 milhões de mosquitos por semana”.

Ele explica que os mosquitos da fábrica são infectados pela bactéria Wolbachia, que compete com outras doenças transmitidas por mosquitos, como chikungunya, zika e dengue, e torna os mosquitos infectados menos propensos a transmitir essas doenças aos humanos.

A fábrica do WMP é operada por esse programa e não pertence a Bill Gates. Segundo o site do WMP, o trabalho na Colômbia conta com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), por meio de seu programa de combate ao zika.

Procurado pela AFP, Bruno Cold, diretor de operações do WMP, afirmou que “a Fundação Bill e Melinda Gates é um dos nossos doadores, mas está longe de ser o único”.

A lista de doadores e patrocinadores do WMP inclui os governos da Austrália, da Nova Zelândia e do Brasil, além de associações como a International Community Foundation, Foundation for the National Institutes of Health e Gillespie Family Foundation, e também empresas como a KPMG, entre outras.

Questionada pela AFP, a Fundação Bill e Melinda Gates respondeu, em 20 de julho de 2023, que se comprometeu a doar US$ 60 milhões à Universidade de Monash desde 2009 “para apoiar a distribuição de esforços globais de saúde, incluindo o World Mosquito Program”. O apoio à universidade pode ser consultado no site da Fundação.

“A Fundação Gates não é proprietária das instalações de pesquisa e desenvolvimento científico do World Mosquito Program na Colômbia”, acrescentou.

A organização informou à AFP que “apoia vários projetos de possíveis pesquisas sobre modificação genética de mosquitos para reduzir a carga de malária”, mas o projeto Wolbachia do WMP não envolve alteração genética.

“Este projeto consiste em introduzir a bactéria Wolbachia de origem natural na população do mosquito Aedes aegypti para evitar que eles transmitam doenças”, reiterou.

Método Wolbachia

Em 27 de julho, o especialista em mosquitos Branimir Kutuzović Hackenberger, do Departamento de Biologia da Universidade Josip Juraj Strossmayer, na Croácia, contou à AFP que os mosquitos “são os animais mais mortais do mundo”.

Hackenberger explicou que “todos os anos entre meio milhão e dois milhões de pessoas são mortas” e o método Wolbachia, usado pelo WMP, busca reduzir a transmissão de doenças potencialmente fatais para os seres humanos.

A bactéria Wolbachia infecta 60% das espécies de insetos, mas não é transmitida a vertebrados, incluindo humanos. O WMP cita sua própria pesquisa e afirma que os mosquitos infectados com a bactéria reduzem significativamente a propagação de outras doenças para as pessoas.

Um estudo independente, realizado na Indonésia, também descobriu que os mosquitos Aedes aegypti são menos propensos a transmitir dengue se já tiverem sido infectados com Wolbachia.

Referências

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