A invasão da Ucrânia pela Rússia é real; vídeo é de um curta-metragem filmado na Letônia
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- Publicado em 26 de abril de 2023 às 19:47
- 5 minutos de leitura
- Por Eva WACKENREUTHER, AFP Áustria, AFP Holanda, AFP Uruguai, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Manuela SILVA
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“HOLLYWOOD UCRANIANA. Filmar vídeos encenados sobre as ‘ações eficazes’ dos ucranianos para manter o moral nas fileiras das Forças Armadas da Ucrânia.”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Twitter e no Kwai.
No vídeo compartilhado, vários soldados são vistos entrando em uma casa cercados por equipes de filmagem. Depois, há duas sequências de explosões internas sendo filmadas por um cinegrafista.
Conteúdo semelhante circulou em espanhol, holandês, russo, inglês, alemão e romeno.
Declarações do diretor
Uma busca por palavras-chave em diferentes plataformas levou a verificações de serviços europeus (1, 2, 3) que mencionam o filme “Hope” (originalmente, em ucraniano: “Надия”).
Uma reportagem feita no final de março de 2023 pela emissora letã LSM detalha que o curta-metragem “Hope” trata da vida de uma mulher ucraniana e suas dificuldades após a invasão russa de seu país.
Em 13 de abril, o diretor e roteirista Artem Kocharian respondeu às perguntas feitas pela AFP: “Meu curta-metragem é baseado na história real de uma mulher. Nos primeiros dias do ataque russo maciço contra a Ucrânia, ela perdeu os pais na explosão de um míssil. Duas semanas depois, seu companheiro foi recrutado pelo Exército. Algumas semanas mais tarde, ela descobriu que estava grávida e decidiu contar ao pai da criança, mas não deu tempo: durante a ligação, ele foi assassinado e ela ficou sozinha”. A protagonista registrou sua filha como Nadja, nome derivado da palavra ucraniana e russa “esperança”.
O diretor do curta também disse à AFP que o momento do filme que está sendo compartilhado nas redes sociais é o da gravação da cena em que o marido da protagonista morre. A filmagem foi feita no final de março de 2023.
Kocharian esclareceu à agência de notícias ucraniana Ukrinform que o filme não é um documentário, acrescentando que já havia documentários suficientes sobre a guerra na Ucrânia.
O diretor já tinha publicado as três sequências que compõem o vídeo viral em sua conta no TikTok (1, 2, 3) descrevendo-as como imagens dos bastidores. Ele também enviou à AFP um dos vídeos com o áudio original e em uma versão estendida para demonstrar que as gravações foram, de fato, extraídas do seu curta. Kocharian encaminhou outro registro mostrando o set de filmagens de um ângulo diferente.
O filme foi gravado na Letônia
A reportagem da emissora LSM anteriormente mencionada corrobora o relato de Kocharian, já que ela contém uma das cenas vistas nas publicações virais e descreve as imagens como “gravações de um curta-metragem”, e não como “notícias” vindas da Ucrânia.
É possível ver que, tanto no vídeo que circula nas redes sociais como no curta-metragem, há lâmpadas brancas arredondadas no corredor e azulejos em dois tons de azul na parede:
A AFP também encontrou a localização exata do tiroteio fictício, confirmando que a cena foi rodada na Letônia, e não na Ucrânia. Uma atriz do filme compartilhou impressões dos bastidores no Facebook, citando o “Poligon 1” como o lugar das filmagens.
Entre as publicações em destaque na página do curta-metragem no Instagram está uma cena que foi compartilhada pelo usuário “poligon_1”, empresa de Sigulda, na Letônia, que oferece atividades recreativas, como o laser tag.
Em seu site, a Poligon 1 tem imagens de um “quartel” com os mesmos azulejos em dois tons de azul e a lâmpada branca arredondada que aparecem na sequência do tiroteio que circula nas redes.
As fotos da área no Google Maps também coincidem com detalhes do vídeo viral. Em ambos vê-se a lâmpada arredondada e um cabo que passa ao longo da parede de uma casa e atravessa uma janela. Também pode-se ver uma pequena escada e o tronco de uma árvore cortada.
A AFP não encontrou evidências de que as imagens tenham sido usadas para informar sobre supostos atos de guerra na Ucrânia.
Evidências da guerra na Ucrânia
Desde a invasão da Ucrânia pelas forças russas em 24 de fevereiro de 2022, inúmeros relatos de meios de comunicação internacionais documentaram, independentemente uns dos outros, bombardeios, massacres, ofensivas militares e suas consequências para a população ucraniana. Nem mesmo a mídia russa desmente a invasão, à qual se refere como “operação militar especial”.
A AFP também está na Ucrânia. Um resumo publicado em fevereiro de 2023 mostra as principais cenas do primeiro ano da guerra:
Um ano depois do começo da invasão, mais de oito milhões de ucranianos deixaram o país:
O AFP Checamos já verificou outras peças de desinformação sobre a guerra na Ucrânia.
Referências
- Matéria da LSM
- Matéria da Ukrinform
- Sequências publicadas na conta do diretor no TikTok (1, 2, 3)
- Publicação no Facebook da atriz do curta-metragem
- Imagem do “quartel” no site da Poligon 1
- Fotos da Poligon 1 no Google Maps