Vídeo que vincula fala de Biden a perseguição política contra Trump foi feito em 2022

Um vídeo no qual o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, diz que quer evitar que Donald Trump “volte a tomar o poder” não foi gravado em 2023, em meio às acusações enfrentadas por seu antecessor. Publicações visualizadas mais de três mil vezes nas redes ao menos desde 5 de abril de 2023 sugerem que a fala do mandatário demonstra uma “perseguição política” contra o republicano. Mas a declaração de Biden foi feita em novembro de 2022 em resposta a uma pergunta sobre o anúncio de Trump de voltar a se candidatar à Presidência e sobre como tranquilizar os líderes mundiais caso isso aconteça.

“Joe Biden confessa publicamente que está perseguindo Donald Trump em Nova York para que não volte a ser presidente”, dizem publicações compartilhadas no Twitter, no Facebook e no Telegram junto a um vídeo no qual Biden responde a uma pergunta, ou uma captura de tela do mesmo momento.

Publicações semelhantes também circularam em espanhol e em inglês.

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Captura de tela feita em 10 de abril de 2023 de uma publicação no Twitter

Donald Trump foi acusado de subornar a atriz pornô Stormy Daniels para tentar impedi-la de tornar público um caso que ela afirma ter tido com o ex-presidente anos antes. Em 4 de abril de 2023, Trump se declarou "inocente" das acusações apresentadas pelo tribunal de Manhattan naquela que é a primeira acusação criminal contra um ex-presidente dos Estados Unidos.

Vídeo de 2022

Apesar de o vídeo circular nas redes sociais vinculado à acusação que o ex-presidente enfrenta na Justiça norte-americana, uma busca reversa levou à gravação original, feita em 9 de novembro de 2022.

No vídeo original, o presidente democrata responde a uma pergunta de um jornalista sobre o anúncio de Trump de se candidatar novamente e sobre como assegurar aos líderes mundiais que o republicano e seu movimento político não voltariam ao poder.

O diálogo também pode ser conferido na transcrição de seu discurso publicada no site da Casa Branca.

A AFP entrou em contato com a Casa Branca, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta verificação.

Caso Trump está sob a jurisdição do distrito de Manhattan

Josh Chafetz, professor de direito da Universidade de Georgetown em Washington DC, explicou à AFP que nos Estados Unidos "os sistemas judiciais dos estados são independentes do sistema federal, embora a lei federal (incluindo a Constituição) tenha supremacia sobre a lei dos estados”.

“No caso da acusação de Trump em Nova York, foi produzido por um grande júri estadual, a pedido de um procurador público eleito. A acusação alega violações da lei estadual e o julgamento será presidido por um juiz estadual”, continuou Chafetz.

O especialista explicou que "o presidente Biden e a Casa Branca não têm nada a ver com isso". “E a única maneira de os tribunais federais se envolverem é se Trump alegar que a acusação viola ou confronta a lei federal”, acrescentou.

A acusação de Trump não impede sua candidatura em 2024

Como a AFP já explicou, a acusação de Trump em Nova York não o impede de concorrer na corrida presidencial de 2024. Ainda que o ex-presidente seja condenado por um crime, segundo a Constituição dos EUA isso não necessariamente o desqualifica para concorrer a um cargo político.

A Constituição estabelece da seguinte maneira quem pode ocupar a Presidência do país: “nenhuma Pessoa, exceto um Cidadão de nascimento, ou um Cidadão dos Estados Unidos, no momento da adoção desta Constituição, será elegível para o cargo de Presidente; nem qualquer pessoa que não tenha atingido a idade de trinta e cinco anos e resida nos Estados Unidos por quatorze anos será elegível para esse cargo”.

Joshua Douglas, professor da Faculdade de Direito J. David Rosenberg, da Universidade de Kentucky, explicou à AFP que a Constituição tem critérios limitados para impedir um candidato de disputar as eleições presidenciais. “Ser processado, condenado, preso, etc. não é um desses critérios", afirmou.

Segundo o professor de Direito da Case Western Reserve University, Atiba Ellis, a Constituição estabelece apenas duas circunstâncias para desqualificar um candidato à Presidência. Uma delas é o impeachment e a condenação de um presidente em exercício por "traição, suborno ou outros crimes e contravenções graves".

“O presidente em exercício seria destituído no momento da condenação pelo Senado, e não antes” e, por isso, infringir a lei não tem impacto na sua candidatura.

A outra circunstância é a desqualificação de qualquer funcionário dos Estados Unidos, incluindo o Presidente, que tenha participado, instigado ou auxiliado atos de rebelião ou insurreição contra os Estados Unidos.

“Falou-se muito sobre essa cláusula no ano passado, sobre se o ex-presidente Trump poderia concorrer ao cargo considerando o seu papel na possível incitação da insurreição de 6 de janeiro”, lembrou Ellis.

Referências

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