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Sistema de pagamento instantâneo do Fed não implica em moeda digital do BC, como viralizado
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 12 de abril de 2023 às 18:12
- Atualizado em 12 de abril de 2023 às 18:15
- 4 minutos de leitura
- Por Rob Lever, AFP Estados Unidos, AFP Brasil
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“Banco Central Americano vai substituir as notas de dólares para transações digitais”, lê-se na frase sobreposta à uma gravação publicada no YouTube e replicada no Facebook, Kwai, TikTok e Twitter.
No vídeo, de pouco mais de 11 minutos, um homem afirma que a partir de 3 de abril de 2023 o Banco Central dos Estados Unidos começaria a implementar “uma mudança histórica na história da economia do país”. E acrescenta: “A partir de agora e progressivamente as cédulas de papel que todos nós conhecemos não serão mais aceitas em transações de cash, ou seja, pagamento à vista ou para qualquer outro tipo de transação.”
O conteúdo também foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde leitores podem enviar alegações vistas em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.
Publicações de teor semelhante circulam em inglês a partir de um tuíte de Robert F. Kennedy Jr., advogado ambiental conhecido por suas opiniões antivacina.
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O vídeo foi publicado em 3 de abril de 2023 no canal “Mundial Telenotícias”, já verificado anteriormente pelo Checamos.
No entanto, as publicações deturpam o anúncio de 15 de março do serviço de pagamento FedNow, que visa acelerar as transações entre bancos. “Na primeira semana de abril, o Fed começará a certificação formal de participantes para o lançamento do serviço", explica a nota que detalha que o programa tem previsão de começar a operar em julho de 2023.
O programa, no entanto, não inclui a implementação de uma moeda digital.
“O FedNow não está relacionado a uma moeda digital”, disse o banco central em comunicado publicado em seu site em 7 de abril.
"O FedNow é um serviço de pagamentos que o Fed está disponibilizando para bancos e cooperativas de crédito transferirem fundos. É como outros serviços de pagamentos da instituição, como Fedwire e FedACH. O serviço FedNow não é uma forma de moeda nem um passo para eliminar qualquer forma de pagamento, inclusive dinheiro", adiciona.
Especialistas disseram que o FedNow é uma atualização da tecnologia de pagamentos interbancários, permitindo que os Estados Unidos alcancem os pagamentos em tempo real usados em muitos outros países.
Atualmente, "pode levar de dois a seis dias para um cheque ser compensado nos Estados Unidos usando o sistema retrógrado do Fed, construído com base na tecnologia dos anos 1960", disse Aaron Klein, membro sênior da Brookings Institution, grupo especializado em tecnologia financeira, e que anteriormente foi funcionário do Tesouro dos EUA e economista-chefe do Comitê Bancário do Senado.
Klein afirmou à AFP que o sistema FedNow permitirá pagamentos em tempo real, mas não está relacionado ao CBDC (sigla em inglês para moeda digital do banco central) em estudo. "Um não tem nada a ver com o outro", explicou.
Fim das cédulas de papel?
As alegações de que essas novas tecnologias levariam ao fim do dinheiro impresso também são enganosas, de acordo com especialistas e o Banco Central.
“O Fed está comprometido em garantir a segurança e disponibilidade contínuas de dinheiro e está considerando uma CBDC como um meio de expandir as opções de pagamento seguras, não para reduzi-las ou substituí-las”, disse o Banco Central em seu site.
Embora uma pesquisa tenha mostrado o declínio do uso de dinheiro nos Estados Unidos, uma CBDC não elimina necessariamente a cédula de papel
"CBDC e eliminação de cédula de papel são duas questões separadas", disse Klein. "Você poderia eliminar o dinheiro se quisesse sem uma CDBC, e uma CBDC não é necessária para eliminar dinheiro".
CBDC e vigilância
O vídeo viralizado alega que uma moeda digital do Banco Central dos Estados Unidos patrocinada pelo Fed – levaria ao aumento da vigilância do governo nas finanças dos cidadãos.
“A medida visa acompanhar algumas economias do mundo, como a da China, por exemplo, que já tem adotado o sistema de circulação digital. Isso, para o Fed, representa um ganho enorme das operações, pois todo o dinheiro circulante no país em negociações será rastreado. E não vai haver mais nenhuma transação comercial em que não se saberá o destino e a origem”, disse o apresentador do canal “Mundial Telenotícias”.
Os críticos desse sistema apontam para um plano chinês e levantam preocupações de que uma CBDC possa ser abusiva e levar ao monitoramento financeiro. O Federal Reserve informa em uma página de perguntas frequentes no site que qualquer moeda digital "encontraria um equilíbrio adequado entre proteger os direitos de privacidade dos consumidores e oferecer a transparência necessária para impedir atividades criminosas".
Mas nenhum sistema foi autorizado no país nesse sentido.
A página da instituição afirma que o banco central "não pretende prosseguir com a emissão de uma CBDC sem o apoio claro do poder executivo e do Congresso, idealmente na forma de uma lei de autorização específica".
A principal diferença entre uma moeda digital e outros ativos é que seria um passivo do banco central e não de uma entidade comercial, de acordo com o Fed.
Josh Lipsky, diretor sênior do Centro de GeoEconomia do Atlantic Council, que acompanha o progresso dos esforços da CBDC, disse que as mesmas leis de privacidade financeira que atualmente se aplicam a bancos e transações com cartão de crédito – geralmente exigindo uma ordem judicial para liberação – se aplicariam a um sistema de moeda digital.
“A proteção da privacidade não seria diferente sob uma CBDC”, disse Lipsky.
“Não há diferença em privacidade ou vigilância se você estiver usando seu cartão Visa ou uma CBDC”, disse Klein.
Referências
12 de abril de 2023 Ajusta formatação do primeiro parágrafo