Cármen Lúcia não “confirmou” que Lula não foi eleito em 2022; vídeo de 2018 é distorcido

  • Este artigo tem mais de um ano
  • Publicado em 27 de janeiro de 2023 às 21:03
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia não “confessou”, em vídeo viral, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi eleito em outubro de 2022, como afirmam publicações compartilhadas milhares de vezes desde 13 de janeiro. As postagens são embasadas em uma sequência na qual a ministra diz que o Direito brasileiro não permite a candidatura de condenados em segunda instância. No entanto, a gravação é de 2018 e, desde então, Lula teve suas condenações anuladas. Em 2022, a candidatura do petista foi aprovada por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Ministra confirma que Lula ‘não ganhou’ a eleição”, diz uma das publicações que circulam no Facebook e no YouTube.

Junto às publicações, usuários compartilham um vídeo em que Cármen Lúcia é entrevistada por um jornalista, que pergunta: “A senhora acha juridicamente possível haver um candidato à Presidência da República condenado e preso?”.

Ao que a ministra responde: “O Direito brasileiro não permite que haja, pela Lei da Ficha Limpa, o registro válido daquele que tenha sido condenado a partir de um órgão colegiado, ou seja, basicamente de segunda instância”.

A fala foi interpretada por usuários como uma “confissão” de que a eleição de 2022 foi nula ou que Lula não poderia ter concorrido no pleito.

Image
Captura de tela feita em 26 de janeiro de 2023 de uma publicação no YouTube ( .)

Contudo, o vídeo foi gravado mais de quatro anos antes das eleições de 2022, quando Lula tinha outro status jurídico.

Vídeo de 2018

Buscas por palavras-chave no YouTube permitiram encontrar a sequência original publicada no canal da revista Veja, em 30 de maio de 2018.

A legenda detalha que as imagens haviam sido gravadas na abertura do evento “Amarelas Ao Vivo” sobre educação — um fórum com entrevistas conduzidas pelos jornalistas da revista —, realizado um dia antes em São Paulo.

A partir do minuto 24:00 do vídeo é possível identificar o trecho compartilhado nas redes, começando com a pergunta do redator-chefe da Veja Policarpo Junior.

Embora o entrevistador não tenha mencionado Lula nominalmente, a referência era clara, pois, à época, ele estava preso, em virtude de condenações relacionadas à Operação Lava Jato, e havia apresentado sua pré-candidatura às eleições presidenciais daquele ano.

De fato, em 2018, o agora presidente teve a sua candidatura invalidada, justamente por não se enquadrar na Lei da Ficha Limpa — que determina que estão inelegíveis os que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado.

Esse era o caso de Lula naquele ano, quando a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou a sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex em Guarujá, São Paulo.

O status jurídico de Lula mudou, no entanto, em 8 de março de 2021, quando o ministro do STF Edson Fachin anulou essa e as outras condenações de Lula no âmbito da Operação Lava Jato, por considerar incompetente o tribunal que julgou as ações. Com essa decisão, Lula voltou a ser elegível.

Image
( AFP)

Em julho de 2022, o AFP Checamos consultou o professor de Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense (UFF) Gustavo Sampaio sobre o tema, que confirmou que o então ex-presidente poderia se candidatar naquele ano “sem restrições”.

Para registrar uma candidatura, a Justiça Eleitoral pede diversos documentos dos candidatos, entre eles as certidões criminais das justiças Eleitoral, Federal e Estadual. Em 8 de setembro de 2022, o TSE aprovou por unanimidade o registro de Lula como candidato à presidência da República.

Em 12 de dezembro de 2022, Lula foi diplomado e, em 1° de janeiro de 2023, tomou posse como o 39º presidente do Brasil.

O AFP Checamos já fez outras verificações (1, 2) sobre a elegibilidade de Lula para as eleições de outubro de 2022.

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco