O presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma visita de campanha em Saint-Denis, no norte de Paris, em 21 de abril de 2022 ( AFP / Thomas Coex)

Não há registro do tuíte ou da frase atribuída a Macron sobre refugiados após sanções à Rússia

Publicações com mais de 2 mil interações compartilhadas desde, pelo menos, 17 de abril de 2022 nas redes sociais asseguram que o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “a Europa deve estar preparada para aceitar 60 milhões de refugiados da África e do Oriente Médio nos próximos 20 anos”, já que as sanções contra a Rússia levarão a um colapso econômico na África. Algumas das publicações são acompanhadas de uma captura de tela de um tuíte atribuído à emissora britânica BBC com as supostas declarações de Macron em inglês. Mas a BBC confirmou à AFP que não publicou esse tuíte, do qual tampouco se tem registro. Além disso, a equipe de campanha do presidente francês afirmou que Macron nunca proferiu tais palavras.

“Macron, o Presidente da França, faz esta promessa de campanha: ‘A Europa deve estar pronta para aceitar até 60 milhões de refugiados da África e do Oriente Médio nos próximos 20 anos, porque as sanções contra a Rússia levarão a um colapso económico em África, que, em por sua vez, importa uma enorme quantidade de trigo da Rússia’”, diz um dos conteúdos compartilhados no Facebook, Instagram e Twitter.

Mensagens similares também circulam em francês, inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 22 de abril de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

O conteúdo começou a circular a menos de uma semana do segundo turno das eleições presidenciais na França, que será disputado em 24 de abril de 2022 entre Macron e Marine Le Pen.

Mas “a BBC não publicou este tuíte” viralizado e tampouco “publicou nenhuma história similar no site da BBC News”, assegurou à AFP Alistair Coleman, membro da equipe de monitoramento da emissora que combate a desinformação nas redes sociais, em 19 de abril de 2022.

O suposto tuíte parece ser de uma conta oficial, já que usa todos os códigos (logotipo, nome e símbolo de verificação) da rede de notícias internacional britânica. Além disso, “o uso do inglês também é bastante parecido com a maneira como publicaria a BBC”, agregou Coleman.

Mas nenhuma busca na conta oficial no Twitter da BBC, nem em suas versões arquivadas (1, 2), mostrou registros da mensagem. No dia 11 de abril, data de publicação do suposto conteúdo, a BBC havia publicado em seu site e também no Twitter um artigo sobre a campanha eleitoral do segundo turno, ilustrado com uma fotografia de Macron na comuna de Denain.

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Captura de tela realizada em 21 de abril de 2022 do site da BBC ( . / )

Este tipo de conteúdo pode ser facilmente criado alterando o código HTML do tuíte, como já explicou o Checamos (1, 2).

Buscas por palavras-chave em diferentes motores de busca tampouco trouxeram como resultado o suposto anúncio de Macron, que alguns usuários (1, 2) apresentam como se fosse uma “promessa de campanha”.

As equipes de campanha do presidente francês afirmaram à AFP em 19 de abril de 2022 que “essas afirmações não foram feitas por Emmanuel Macron”.

Por sua vez, o programa do candidato presidencial não menciona a necessidade de que a União Europeia se prepare para acolher “60 milhões de refugiados”.

Em relação à Europa, Macron deseja, segundo seu programa, “fortalecer o corpo europeu de polícia de fronteiras”, estabelecendo “uma ambição de 5.000 homens que possam ser mobilizados pela nova Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira”, sem mencionar nenhum número sobre os projetos de acolhimento da União Europeia.

Consequências econômicas da guerra

Ainda que Macron não tenha mencionado oficialmente “um colapso econômico na África”, vinculado às sanções contra a Rússia, a guerra na Ucrânia deve trazer consequências variadas dependendo do país, explicou Amaka Anku, analista da empresa de consultoria Eurasia Group, neste artigo da AFP.

Nesse sentido, a especialista mencionou a inflação para os importadores de matéria-prima ou petróleo, como a Nigéria, e a valorização dos fertilizantes, que poderiam aumentar ainda mais o custo dos alimentos.

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Países como Gana, muito endividados, enfrentarão custos de empréstimo mais altos, disse Anku, enquanto países produtores de gás, como Tanzânia ou Nigéria, ou futuros produtores, como Senegal, poderiam se beneficiar da queda das importações europeias de gás russo, afirmou Danielle Resnick, da Brookings Institution.

“Apesar dessas possibilidades, a curto prazo, a invasão da Ucrânia pode representar dificuldades para as famílias africanas, para o setor agrícola e para a segurança alimentar”, agregou Resnick.

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