Quanto tempo o novo coronavírus sobrevive em sapatos e outras superfícies? Horas, dias... depende das condições
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- Publicado em 18 de março de 2020 às 20:22
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- Por AFP Espanha, Natalia SANGUINO, AFP Brasil
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“IMPORTANTE INFORMAÇÃO… OLHO COM OS SAPATOS !! Conselho de um médico que trabalha em um hospital de Milão: Recomenda-se enfaticamente que você use apenas um par de sapatos para sair de casa e * deixe-o fora da porta da casa depois de usado *, porque parece que o vírus pode permanecer durante 9 horas no asfalto”, começa a mensagem viral, compartilhada principalmente no Facebook (1, 2) e pelo WhatsApp desde 16 de março deste ano.
Esta permanência do novo coronavírus nas superfícies provocou, segundo o texto compartilhado, “as imagens que foram vistas da China desinfetando as ruas”. “Certamente não o dirão na televisão para NÃO DESMEDIAR O PÂNICO [sic]”, continua a mensagem.
Este conselho do suposto médico de Milão também circulou em espanhol (1, 2) em diferentes redes sociais.
O médico espanhol Jaime Barrio, médico de família e integrante do Conselho Científico do Colégio de Médicos de Madri, destacou, em conversa por telefone com a AFP, que “agora mesmo, o que diz a OMS, é que não se sabe com certeza quanto tempo o vírus sobrevive nas superfícies”.
Na página da Organização Mundial da Saúde (OMS), consultada em 18 de março, aparece a mesma expressão utilizada por Barrio: “Não se sabe com certeza quanto tempo o vírus causador da COVID-19 sobrevive em uma superfície, mas este parece se comportar como outros coronavírus”.
O vírus pode aguentar “desde algumas poucas horas até vários dias” em uma superfície, indica a organização, mas “o tempo pode variar em função das condições (por exemplo, o tipo de superfície, a temperatura, ou a umidade do ambiente)”.
Barrio destacou que, a permanência do vírus varia “segundo as condições”. Já a desinfecção do chão - vista por jornalistas da AFP em lojas e supermercados de Madri, por exemplo - “está baseada nisso”, ou seja, que o vírus pode resistir no solo em certas condições, explicou o médico. “O sapato, se entrar em contato com o vírus, poderia ser uma fonte de transmissão”, disse o especialista, que, não obstante, enfatizou que neste momento as autoridades “tampouco podem ter certeza de que ele [o vírus] permaneça no solo, ou nos sapatos”.
Este médico de família de Madri, contudo, apelou ao “senso comum” e relembrou as recomendações das autoridades de Saúde para a desinfecção de superfícies: “Água e alvejante”. O mesmo é aconselhado pela OMS.
Barrio recordou que, para roupas, incluindo lençóis e toalhas, aconselha-se “lavar a 60 ou 90 graus”, temperatura com as quais “o vírus morreria”.
Como regra geral, as autoridades insistem continuamente “que as pessoas façam bem a lavagem das mãos”. “Com água e sabão é suficiente”, disse o médico espanhol, ou “gel hidroalcoólico”.
O Ministério da Saúde do Brasil mantém as mesmas recomendações da OMS de lavar as mãos, ou usar um desinfetante para as mãos à base de álcool, além de evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
O diretor do Centro de Coordenação de Emergências e Alertas Sanitários do Ministério da Saúde espanhol, Fernando Simón, se referiu às precauções relacionadas aos sapatos em uma coletiva de imprensa em Madri em 16 de março. “Não temos que ir mais além do que é razoável”, disse, acrescentando: “Não é necessário deixar os sapatos fora de casa, não é necessário fazer compras com luvas, além do que as superfícies comerciais recomendam”. “O que deve ser feito é evitar a transmissão de pessoa para pessoa, lavando bem as mãos”, insistiu, na declaração registrada por um jornalista da AFP.
Além da OMS, já citada, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças considera que o vírus “pode sobreviver durante várias horas em superfícies como mesas e maçanetas” (pergunta 5). O Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos inclui entre as suas recomendações para pessoas com a COVID-19 diagnosticadas, ou suspeitas de estarem contaminadas, que limpem “todos os dias as superfícies de contato frequente”, entre as quais cita “balcões, mesas, maçanetas das portas, chaves e torneiras do banheiro, os vasos sanitários, telefones, teclados, tablets e mesas de cabeceira”.
Vários meios de comunicação italianos verificaram, por sua vez, a mensagem viralizada do suposto médico italiano, que em seu país foi compartilhada por meio de um áudio pelo WhatsApp. Neste texto de perguntas e respostas do jornal La Stampa, um especialista considerou “uma boa regra de higiene” tirar os sapatos antes de entrar em casa, “mas não pela COVID-19, pois a sua transmissão vem com as gotas que emitimos tossindo, ou espirrando”.
Em outros artigos do AFP Checamos sobre o novo coronavírus já era abordada a duração do mesmo fora do corpo humano. Este estudo de pesquisadores alemães para o “Journal of Hospital Infection” de março de 2020 analisou a resistência de outros coronavírus, como o SARS e o MERS, similares ao atual. Segundo o resumo prévio do estudo, “os coronavírus humanos [...] podem permanecer em superfícies inanimadas como metal, cristal, ou plástico, por até nove dias, mas pode ser desativado de forma eficaz com uma desinfecção da superfície”.
Em resumo, nem autoridades nem especialistas têm informações sobre a duração exata do novo coronavírus fora do corpo humano, já que isto depende das condições da superfície. Eles insistem na importância da lavagem das mãos para prevenir o contágio, enquanto as superfícies que podem estar infectadas devem ser limpas com água e alvejante.