O Senado dos Estados Unidos não afirmou que covid-19 é uma "mentira"

Dezenas de  usuários compartilharam nas redes sociais desde o último dia 13 de junho um vídeo de uma coletiva de imprensa, da qual participaram cinco senadores republicanos dos Estados Unidos. As publicações afirmam que o Senado dos Estados Unidos anunciou que "o coronavírus é uma mentira". No entanto, no vídeo, com cerca de 15 minutos, os legisladores falam sobre a origem do vírus, mas não duvidam de sua existência. Além disso, esta não foi uma "afirmação oficial do Senado dos Estados Unidos", como explicou à AFP o porta-voz do líder da maioria dos democratas norte-americanos.

 

“OFICIAL, O Senado dos EUA anunciou 'ontem': -O C0V1D-19 é uma mentira! 'A mídia está encobrindo a verdade da Big Pharma, Big Tech, Big Media, a OMS e outros traidores serão todos responsabilizados. Fauci deve renunciar'", indica a legenda de uma das publicações no Instagram (1, 2) e no Facebook (1, 2, 3). 

As postagens acompanham o vídeo de uma coletiva de imprensa com cinco senadores republicanos, que também viralizou em sites na internet. A mesma afirmação foi igualmente compartilhada milhares de vezes em espanhol, alemão, húngaro e polonês.

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Captura de tela feita em 17 de junho de 2021 de uma postagem no Facebook 

Em 10 de junho de 2021, os senadores republicanos Marsha Blackburn do estado do Tennessee, Roger Marshall do Kansas, Mike Braun de Indiana, Ron Johnson de Wisconsin e Roger Wicker do Mississippi fizeram uma coletiva de imprensa. Blackburn resumiu a entrevista em seu site e publicou a gravação no YouTube.

Portais de notícias norte-americanos como Forbes e Fox News também publicaram vídeos da coletiva, com 15 minutos de duração.

Declarações dos senadores

A origem do SARS-CoV-2, causador da covid-19, tem sido debatida desde o início da pandemia. Algumas das hipóteses levantadas indicam que o vírus poderia ter sido produzido em um laboratório em Wuhan, na China, onde foi detectado pela primeira vez em dezembro de 2019.

Esta posição é semelhante à defendida pelos legisladores na coletiva de imprensa. Blackburn já responsabilizou a China várias vezes pelo surto do vírus (1, 2).

A publicação de e-mails do virologista norte-americano e conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, pelo jornal Washington Post no início de junho de 2021 reacendeu o debate sobre a origem do vírus. A AFP já verificou algumas das interpretações enganosas dessas mensagens.

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Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, na Casa Branca em Washington, em 13 de abril de 2021 
(Brendan Smialowski / AFP) 

Na coletiva do último dia 10 de junho este também foi o assunto. O senador Roger Marshall afirmou que o surto se deve ao "vazamento de um laboratório em Wuhan e seu acobertamento", e todos concordaram que as pessoas envolvidas no suposto acobertamento de informações deveriam ser responsabilizadas.

Os cinco representantes criticaram as restrições impostas por grandes plataformas como Facebook, YouTube e Twitter. O senador Roger Wicker criticou o poder dessas redes de decidirem "o que ouvimos e o que não podemos ouvir".

No final de maio de 2021, o Facebook decidiu parar de remover postagens nas quais houvesse a alegação de que a covid-19 foi criada pelo homem.

Opinião dos senadores sobre a covid-19

É verdade que os cinco senadores acusaram as redes sociais de encobrir a origem do vírus. Porém, no vídeo, nenhum deles questionou a existência do coronavírus em si. Na verdade, durante a pandemia, os representantes defenderam publicamente as medidas de proteção, incluindo a vacinação.

Em um vídeo de março de 2021, por exemplo, Blackburn disse: "Certifique-se de lavar as mãos, use álcool em gel, use sua máscara e reserve um tempo para fazer o que eu fiz: marque uma consulta e se vacine."

Em abril de 2021, Roger Marshall convocou as pessoas a se vacinarem, assim como Mike Braun, que também recomendou a vacinação para combater a pandemia. "Nossas vacinas estão provando ser um sucesso notável", escreveu Roger Wicker sobre o programa de vacinação em março de 2021.

Por outro lado, Ron Johnson foi mais crítico às vacinas, reproduzindo informações sem comprovação. Seu escritório confirmou em outubro de 2020 que o senador testou positivo para o coronavírus.

O Senado dos Estados Unidos

O Senado, junto com a Câmara dos Representantes, faz parte do Congresso dos Estados Unidos e defende os interesses das diferentes regiões do país. Cada estado é representado por dois senadores, conforme estabelece a Constituição. O Senado é o órgão que participa do processo legislativo e exerce funções de controle presidencial.

Os dois principais partidos dos Estados Unidos, o Republicano e o Democrata, nomeiam um porta-voz para representá-los na Câmara. Em janeiro de 2021, os democratas conquistaram a maioria no Senado e Chuck Schumer foi designado como o principal expoente do partido, enquanto Mitch McConnell representa os republicanos.

No entanto, na coletiva de imprensa que viralizou na internet e nas redes sociais, os senadores não falaram em nome do Senado como um todo, apenas comunicaram suas opiniões pessoais, das quais outros membros do Senado não compartilham necessariamente.

Consultado pela AFP em 14 de junho, o porta-voz do líder Democrata Schumer afirmou por e-mail: “Os parlamentares do Partido Democrata não acreditam que a covid-19, que matou quase 600 mil norte-americanos, seja uma mentira. E seria incorreto dizer que o Senado declarou isso”. O escritório do porta-voz republicano Mitch McConnell não respondeu ao pedido da AFP até a publicação deste artigo.

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