A matéria sobre queda em atendimento é anterior a pedido de Bolsonaro para filmar hospitais
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- Publicado em 18 de junho de 2020 às 21:15
- Atualizado em 2 de setembro de 2020 às 19:15
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“O presidente @jairbolsonaro pediu para o povo filmar os hospitais e eis que o milagre acontece, começam a se esvaziar os pronto atendimentos, hospitais de campanha e leitos de UTI que supostamente estavam lotados no Brasil”, diz um tuíte, que acompanha uma reportagem em vídeo da TV Globo sobre uma queda na procura por atendimento em hospitais localizados na cidade do Rio de Janeiro.
Mensagens semelhantes foram replicadas milhares de vezes em publicações no Facebook (1, 2, 3), Twitter (1, 2, 3) e Instagram (1, 2, 3) desde o último dia 14 de junho.
“Bolsonaro sempre teve razão! A pandemia é política!”, comentou um usuário em uma das postagens. “Olha só aí o motivo da esquerda não querer que o povo filmace [sic] e ficam acusando o presidente já deu esquerdistas”, escreveu outro.
As postagens se referem ao pedido feito pelo presidente Jair Bolsonaro na noite de 11 de junho durante a transmissão ao vivo que realiza semanalmente em suas redes sociais.
“Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer pra mostrar se os leitos estão ocupados ou não”, disse o presidente, que tem frequentemente questionado a gravidade da pandemia do novo coronavírus.
Reportagem anterior à fala
Uma busca no Google pela frase “Cai procura por atendimento” - manchete da reportagem viralizada - mostra que a matéria foi exibida no último dia 11 de junho, no jornal RJ1, da TV Globo, como registrado no portal de streaming da emissora.
Como indica o relógio digital presente no canto esquerdo da tela, a peça jornalística foi ao ar ao 12h59 daquela quinta-feira.
A reportagem é composta por imagens de áreas hospitalares com pouco movimento e informa que foi registrada uma redução no número de pacientes com suspeita de COVID-19 que procuraram emergências, clínicas e postos de saúde em bairros da cidade do Rio de Janeiro nas duas primeiras semanas de junho.
O pedido de Bolsonaro foi feito, por outro lado, em transmissão ao vivo que começou às 19h do mesmo dia 11, horas após a exibição da reportagem.
Buscas no Google por palavras-chave (1, 2, 3), filtrando os resultados para conteúdos publicados antes desta transmissão, não localiza qualquer registro de que Bolsonaro tenha feito este pedido anteriormente.
Ocupação de hospitais
Ao contrário do que sugerem as postagens compartilhadas em redes sociais, o estímulo do presidente para que a população verifique se os leitos hospitalares estão realmente ocupados não fez com que a mídia mudasse a narrativa sobre a lotação das instituições de saúde.
Desde o último dia 11, foram reportados altos índices de ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Natal, entre outros locais.
A própria reportagem que embasa as postagens destaca que a situação retratada se referia apenas à cidade do Rio de Janeiro e que a ocupação de leitos de enfermaria e de UTI na rede estadual, naquela data, era de 73% e 92%, respectivamente.
Os números de casos confirmados de COVID-19 no país também continuam elevados, com 32.188 novos contágios registrados no último dia 17 de junho - dado mais recente disponível -, o quarto dia com mais registros desde o início da pandemia no Brasil, segundo portal do Ministério da Saúde.
Com mais de 955 mil casos e cerca de 46.500 óbitos, o Brasil é o segundo país do mundo, e o primeiro da América Latina, com mais mortes pelo novo coronavírus.
Em resumo, não é verdade que a TV Globo exibiu uma reportagem destacando uma queda na procura por atendimento de pacientes com COVID-19 após o presidente Jair Bolsonaro pedir que a população filme os hospitais. A matéria foi exibida horas antes do polêmico pedido do presidente.