Vista aérea de um terreno à venda após ter sido afetado por incêndios florestais na área nobre de Breves, na região amazônica do arquipélago de Marajó, estado do Pará, Brasil, tirada em 9 de dezembro de 2024. (AFP / Pablo PORCIUNCULA)

Desmatamento em queda, degradação em alta: o que explica as tendências opostas na Amazônia

  • Publicado em 10 de novembro de 2025 às 15:53
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil

A queda no desmatamento da Amazônia anunciada pelo Ministério do Meio Ambiente vem gerando confusão entre usuários de redes sociais. Em publicações com milhares de interações, eles questionam os dados apresentados no final de outubro e alegam “manipulação grosseira”, ao compará-los com o aumento dos índices de degradação. Mas trata-se de conceitos que, apesar de relacionados, se referem a problemas diferentes, e ambas tendências podem coexistir — um fenômeno observado há anos, como indicam estudos e explicou um especialista à AFP.

A mídia (Folha/Painel) está comemorando que Marina Silva é a ‘vencedora da semana’ porque o ‘desmatamento’ caiu. Parece ótimo, né? O problema é que isso é uma manipulação grosseira. Para fazer esse número cair, eles simplesmente jogaram a destruição real para outra categoria: ‘DEGRADAÇÃO’”, diz a legenda de uma publicação que circula no Instagram e no Facebook. Alegações semelhantes circulam no X.

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Captura de tela feita em 4 de novembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

A poucos dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Belém (COP30), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que apontam uma queda de 11,08% no desmatamento no bioma da Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025, em comparação com o período anterior (de agosto de 2023 a julho de 2024).

Outra notícia amplamente comemorada pelo governo foi a diminuição do índice de desmatamento em Unidades de Conservação na Amazônia: o menor em 17 anos, resultado também anunciado no último 30 de outubro.

Mas nas redes sociais a redução vem sendo questionada a partir da comparação com outro indicador: o aumento de 482% na degradação da Amazônia Legal, dado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgado em abril e que se refere ao acumulado de agosto de 2024 a fevereiro de 2025, em relação ao período anterior.

Contudo, o aumento da degradação não significa que os dados de desmatamento tenham sido manipulados.

Degradação e sua relação com o desmatamento

Áreas degradadas são aquelas em que houve perda incompleta de cobertura vegetal nativa, explica o professor de Ciências Ambientais da Universidade do Sul do Alabama, nos Estados Unidos, Gabriel de Oliveira.

A degradação florestal mantém parte das árvores em pé, mas reduz a capacidade da floresta de fornecer serviços ecossistêmicos, devido à perda de estrutura, de função ecológica e de resiliência”.

Já o desmatamento se refere à remoção completa da vegetação. O Inpe monitora dois tipos de desmatamento: por corte raso — quando a floresta é eliminada em um curto período — e por degradação progressiva, que é mais lenta e difícil de detectar. As duas categorias apareciam juntas em relatórios do instituto, mas a partir de 2022 o Inpe passou a discriminá-las, após a última atualização da metodologia de monitoramento.

Oliveira ressalta que, embora a taxa de desmatamento tenha diminuído nos últimos anos, a degradação pode comprometer essa tendência de queda no futuro, caso não seja controlada.

Quando uma floresta passa por repetidos eventos de degradação, ela vai perdendo sua capacidade de se regenerar. Com o tempo, essa perda de resiliência faz com que essas áreas degradadas se tornem mais vulneráveis a novos distúrbios e, eventualmente, colapsem completamente, levando ao desmatamento”.

O panorama apresentado pelo Inpe em 30 de outubro indica justamente um crescimento do desmatamento por degradação progressiva nos últimos três anos, e uma queda no desmatamento por corte raso. Em 2025, 38% do desmatamento total ocorreu por meio de processos de degradação.

Fenômeno de anos

O aumento da degradação em relação ao desmatamento na Amazônia brasileira é um fenômeno observado há anos. Um estudo publicado em 2020 pela revista Science identificou que a taxa de degradação havia superado a taxa de desmatamento em 2014. Já naquele período, o bioma apresentava mais áreas degradadas do que desmatadas.

Oliveira explica que entre os fatores que contribuem para o aumento da degradação estão as queimadas, a extração seletiva de madeira e o efeito de borda — processo que ocorre nas margens da floresta, onde a exposição ao sol, ao vento e à variação de umidade altera a estrutura da vegetação e pode levar à degradação.

Ela [a degradação] resulta tanto de ações humanas, como o uso do fogo e a exploração madeireira, quanto de causas naturais intensificadas pelas mudanças climáticas, como secas prolongadas e ondas de calor, que aumentam o estresse ambiental e retardam a recuperação das florestas”.

A seca histórica de 2023 e 2024 teve um impacto significativo nesse avanço, acrescenta o professor: “[A Amazônia] registrou déficits de 50-100 mm/mês e aumento de +3 °C nas temperaturas, o que ampliou a vulnerabilidade da floresta e agravou a degradação em mais de 40% das áreas de floresta remanescente”.

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