Filmagem de incêndio em igreja no País de Gales não mostra ato provocado por migrantes

Em meio aos protestos de agosto de 2025 contra a imigração no Reino Unido, direcionados a hotéis que abrigavam refugiados no país, um vídeo de uma igreja em chamas no País de Gales foi compartilhado em publicações que somam mais de mil interações nas redes sociais com a alegação de que o local teria sido incendiado por migrantes paquistaneses. Mas a polícia britânica afirmou que dois adolescentes locais foram presos após o incêndio ocorrido em abril na cidade galesa de Port Talbot e descartou rumores sobre o envolvimento de migrantes no incidente, classificando-os como “completamente falsos”.

“Reino Unido: Uma igreja no País de Gales foi incendiada por dois imigrantes paquistaneses. Cristianismo sob ataque no Reino Unido”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no X e no Telegram.

O conteúdo também circula em inglês, alemão, polonês e sérvio.

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Captura de tela feita em 5 de setembro de 2025 de uma publicação no X (.)

As publicações circulam após semanas de manifestações em frente a hotéis que abrigavam solicitantes de asilo no Reino Unido, intensificando o debate sobre imigração no país.

No entanto, o vídeo viralizado não foi registrado em agosto e não mostra uma capela incendiada por migrantes paquistaneses.

Incêndio em abril

Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google conduziu a uma publicação de 24 de abril de 2025 no TikTok. Segundo a legenda, o registro teria sido feito em Port Talbot, no País de Gales. 

A mesma busca encontrou imagens similares publicadas por veículos de notícias em abril que detalham que um incêndio atingiu a desativada Igreja Metodista Calvinista Inglesa de Bethany na cidade galesa.

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A construção histórica, estabelecida em 1879, foi fechada em 2000. De acordo com o Serviço de Incêndio e Resgate do Centro e do Oeste de Gales, os socorristas responderam com seis jatos d’água para apagar o fogo, que se estendeu até as primeiras horas de 25 de abril e deixou o prédio “gravemente danificado”.

Sem evidências de participação de migrantes

Alegações de que migrantes paquistaneses teriam incendiado a igreja começaram a se espalhar nos primeiros dias após o incêndio, e foram rapidamente desmentidas pelas autoridades galesas.

A Polícia de Gales do Sul afirmou, em uma nota divulgada em 28 de abril, que dois adolescentes foram presos — um menino de 14 anos e outro de 15 anos, ambos do município de Neath Port Talbot — sob suspeita de incêndio criminoso.

Os nomes dos detidos, no entanto, não foram divulgados, em conformidade com a lei do Reino Unido, que os garante o direito ao anonimato até completarem 18 anos.

Em seu perfil no X, a organização corrigiu vários usuários que compartilharam as alegações falsas, incluindo Alex Jones — fundador da rede conservadora InfoWars e divulgador frequente de desinformação —, que compartilhou o vídeo viral em uma publicação de 28 de abril, que foi posteriormente excluída, com a legenda, em inglês: “Uma igreja no País de Gales foi incendiada por 2 invasores paquistaneses”.

“Essa informação é completamente falsa”, respondeu a agência à postagem de Jones. “Dois adolescentes, ambos de Neath Port Talbot, foram presos sob suspeita de incêndio criminoso em relação a este incidente”, declarou.

Em outra publicação, a instituição acrescentou: “Outros rumores circulando online são falsos e inflamatórios e pedimos que as pessoas não compartilhem tais alegações”.

A AFP entrou em contato com o departamento de polícia em busca de atualizações sobre o caso, mas não obteve resposta.

A informação de que dois jovens foram presos em conexão ao incêndio também foi reportada pela imprensa local. A AFP não encontrou nenhum registro de relatórios oficiais que citam o envolvimento de migrantes paquistaneses no incidente.

Referências

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