
O vídeo de um ataque a um homem na Espanha não é de Torre Pacheco, e o ato levou à prisão dois espanhóis
- Publicado em 23 de julho de 2025 às 17:29
- 4 minutos de leitura
- Por Lucia Diaz, Cristina ALONSO, AFP Espanha
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A agressão racista imigrante de forma gratuita ao idoso espanhol em Torre Pacheco está na origem da violência posterior que se alastrou já a outros locais de Espanha”, diz a legenda de uma publicação com a sequência no Facebook. O conteúdo também circula no Telegram e em espanhol.
A alegação é compartilhada junto a um vídeo, de pouco mais de 20 segundos, que mostra um homem com ferimentos na cabeça e no rosto, sendo agredido enquanto é filmado. “Você tem que falar com a gente com educação. Fale com educação!”, diz uma pessoa na gravação.

Em 9 de julho de 2025, um homem de 68 anos foi agredido na cidade espanhola de Torre Pacheco, na região de Múrcia (sudeste), por três jovens, supostamente de origem norte-africana, informou a vítima à imprensa. O incidente desencadeou protestos na cidade.
Três pessoas foram detidas pela agressão e outras dez pelos confrontos que se seguiram.
No entanto, a prefeitura de Torre Pacheco esclareceu à AFP, em 14 de julho, que o vídeo viral não corresponde ao caso “que desencadeou os protestos que estamos vivendo”.
Além disso, a vítima, chamada Domingo, lamentou em entrevista ao jornal El Español a divulgação do vídeo “de um homem sendo espancado” que não corresponde à agressão sofrida por ele.
O texto inclui a captura de tela da gravação viral com a legenda: “Um quadro do vídeo viral de uma agressão a um idoso que não tem nada a ver com a surra de Domingo”.
A gravação é de outro caso
Uma pesquisa pela captura de tela da gravação viral com o Google Lens exibiu uma publicação de 10 de julho de 2025 com a afirmação de que a pessoa que aparece no vídeo é o usuário @josemoya6422. O próprio Moya também desfez a confusão em uma publicação em sua conta no Instagram, atualmente indisponível.
Uma busca no Google por “José Moya” e “agressão” em espanhol também exibiu reportagens (1, 2) sobre a confusão entre o ataque a Moya - ocorrido em 20 de maio em um parque de Almería - e as agressões a Domingo, em julho, e sobre a viralização do vídeo de Moya com o falso contexto de Torre Pacheco.
A agressão a Moya também foi noticiada pelo jornal La Voz de Almería, em 31 de maio de 2025, com o título: “Um morador de rua é espancado até ficar inconsciente em Almería”, referindo-se ao vídeo viral.
O autor do artigo, Víctor Navarro, disse à AFP em 15 de julho de 2025 que a fonte que utilizou para escrever a notícia foi a ordem judicial que decretou a prisão provisória de dois jovens espanhóis pela agressão, informação também mencionada por Moya em uma entrevista televisiva. “Toda a narrativa que ele [Moya] explica é o que eu detalho ponto por ponto [na reportagem]”, afirmou Navarro.
A Guarda Civil de Almería também negou que as imagens virais estivessem relacionadas ao ataque em Torre Pacheco. “Os fatos em questão [que aparecem no vídeo viralizado] não têm relação com os incidentes ocorridos recentemente na cidade de Torre Pacheco”, disse à AFP em 17 de julho.
Protestos e desinformação
Esta não é a única desinformação publicada no contexto dos protestos anti-imigração de Torre Pacheco. A prefeitura de Torre Pacheco também desmentiu à AFP um suposto comunicado oficial compartilhado no Telegram que vinculava questões de segurança à imigração.
De acordo com checagens feitas por veículos espanhóis (1, 2), a mensagem viral foi posteriormente compartilhada pelo Pravda, um meio de comunicação apoiado pelo Estado russo que compartilhou desinformação verificada anteriormente pela AFP.
A prefeitura, de fato, convocou uma manifestação cidadã para o dia 11 de julho, mas “contra os recentes atos criminosos” e sem mencionar a imigração, assim como havia feito no comunicado à imprensa anterior ao evento.