
Vídeo não mostra israelenses cantando sobre matar palestinos, e sim entoando uma música religiosa
- Publicado em 6 de junho de 2025 às 21:23
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Os colonos israelenses cantam ‘nós amamos estuprar e matar (com traço vermelho sobre a palavra) as mulheres e crianças palestinas’”, diz uma das publicações no Threads. O conteúdo circula também no Facebook, no Instagram, e em publicações em inglês.

Mas a descrição das publicações não reflete a música entoada na gravação.
Buscas reversas por fragmentos do vídeo levaram à sua publicação, feita em 24 de maio de 2025 pelo veículo A Capital (@alasimannews), baseado em Jerusalém. A legenda do conteúdo diz, em tradução livre para o português: “Colonos dançam e cantam em provocação aos moradores da Rua Al-Wad, em Jerusalém Velha”.
Contatada pelo AFP Checamos, a equipe da AFP em Jerusalém afirmou que a cena mostra israelenses comemorando o “Dia de Jerusalém”, ou “Yom Yerushalayim”, um feriado nacional em Israel que, em 2025, foi celebrado entre 25 e 26 de maio.
Ainda segundo a equipe local da AFP, a música cantada pelo grupo tem inspiração bíblica e narra a esperança do povo judeu pela reconstrução do Templo de Jerusalém. Uma tradução aproximada para o que é cantado no vídeo seria:
“Mostra-nos, mostra-nos a sua reconstrução, e alegra-nos, alegra-nos na sua restauração. Retorna os sacerdotes ao seu serviço, e os levitas aos seus cânticos e melodias, e faz com que Israel volte às suas habitações.”
Uma pesquisa pelo trecho em hebraico no Google mostrou que o cântico faz parte de uma oração judaica — também chamadas de “tefilá” — conhecida como “V’hareinu” (1, 2). Trata-se de uma prece associada à Mussaf, uma oração adicional recitada durante o Shabat e outras festividades.
“Provocação”
O Dia de Jerusalém marca a conquista da parte leste de Jerusalém por parte de Israel ao final da guerra árabe-israelense de 1967, em uma anexação não reconhecida pela comunidade internacional.
Segundo o site do Comitê Judaico Americano (AJC), uma organização de defesa judaica, a celebração do evento é frequentemente vista como uma “provocação” por parte da comunidade palestina.
“Alguns participantes indisciplinados atendem a essa expectativa, pedindo violência e gritando comentários racistas quando a marcha passa pelo bairro muçulmano de Jerusalém”, diz o site da organização.
Em 2025, a celebração resultou em um tumulto, com grupos de jovens atacando comerciantes palestinos, pedestres e estudantes, assim como ativistas israelenses defensores dos direitos humanos e a polícia. As imagens foram registradas pela AFP:
Referências
- Publicação feita no Facebook em 24 de maio de 2025
- Vídeos sobre V’hareinu (1, 2)
- Site do Comitê Judaico Americano sobre o Dia de Jerusalém