Harvard não devolveu carta de funcionária de Trump com correções; imagem viralizada é uma sátira

Em uma carta publicada em 5 de maio de 2025, a secretária de Educação da gestão do presidente norte-americano Donald Trump anunciou que a Universidade de Harvard não iria mais receber subsídios federais. Desde então, publicações que somam mais de 36 mil interações nas redes sociais compartilham uma imagem que mostra o documento com rasuras vermelhas com a alegação de que a universidade o teria devolvido com marcações de erros gramaticais e estilísticos. Mas isso é falso: a suposta resposta foi feita por um usuário do X, que confirmou à AFP ter criado o conteúdo como uma sátira.

“Viram que Harvard devolveu carta de intimidação do Trump com correções ortográficas? Por isso que eles odeiam universidades”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no X e no Bluesky.

Alegações similares circulam em inglês e espanhol

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Captura de tela feita em 9 de maio de 2025 de uma publicação no X (.)

As mensagens circulam após 5 de maio de 2025, quando a secretária de Educação dos Estados Unidos, Linda McMahon, informou em uma carta enviada ao presidente da Universidade de Harvard e publicada em suas redes sociais que a instituição “não deveria mais pedir subvenções ao governo federal, pois não serão concedidas”.

No documento, McMahon alega que Harvard — uma das universidades mais prestigiosas dos Estados Unidos — “descumpriu com suas obrigações legais, seus deveres éticos e fiscais, suas responsabilidades de transparência e qualquer vislumbre de rigor acadêmico”.

As publicações virais compartilham uma imagem do texto de McMahon com o que parecem ser comentários escritos em vermelho, como correções de um professor em uma redação escolar.

Contudo, as marcações não são uma resposta oficial de Harvard.

Sátira de estudante

Uma busca reversa pela imagem no Google conduziu a uma publicação de 6 de maio de 2025 no X, feita pelo perfil de Daniel Luo, estudante do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

Contatado pela AFP em 7 de maio, Luo afirmou por e-mail que sua intenção com o conteúdo era ser “uma piada/sátira”.

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Captura de tela feita em 9 de maio de 2025 da publicação de Daniel Luo no X (.)

O estudante também indicou que a imagem que criou era falsa em outras publicações no X, afirmando que ela estava recheada de piadas internas para economistas”.

“Eu nunca disse que tinha ligações com Harvard”, Luo escreveu em uma resposta a outro usuário.

A suposta mensagem tampouco se encontra no site e nas redes sociais da Universidade de Harvard. A AFP entrou em contato com a instituição, mas não obteve resposta.

Posicionamento de Harvard

Em uma declaração de 6 de maio, um porta-voz da universidade afirmou que a instituição “continuará a combater interferências ilegais do governo destinadas a sufocar a pesquisa e a inovação”.

“Hoje, nós recebemos outra carta da administração reforçando exigências que estabeleceriam um controle sem precedentes e impróprio sobre a Universidade de Harvard, e que teriam implicações atemorizantes para a educação superior”, diz o texto. “A carta de hoje faz novas ameaças de bloquear ilegalmente fundos destinados a pesquisas e inovações que salvam vidas, em retaliação ao processo judicial protocolado por Harvard em 21 de abril”.

A universidade processou a administração de Trump pelo congelamento de fundos federais em uma tentativa de impor determinações acerca das admissões da instituição, das suas práticas de contratação e de sua suposta inclinação política.

Por semanas, o governo norte-americano acusou Harvard e outras instituições de ensino superior de tolerar o antissemitismo nos campi e de exercer “discriminação” com suas políticas de diversidade, igualdade e inclusão, iniciativas criticadas pela gestão de Trump.

O governo dos Estados Unidos ameaçou implementar diferentes punições às entidades, incluindo o cancelamento da isenção fiscal das universidades. A gestão também agiu para revogar vistos e deportar estudantes estrangeiros envolvidos nos protestos contra a guerra em Gaza.

A AFP já verificou outros conteúdos falsos e enganosos sobre a política norte-americana.

Referências

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