Vídeos com imagens antigas inventam descoberta de “quarto secreto” de Lula com dinheiro do INSS

  • Publicado em 9 de maio de 2025 às 23:25
  • 5 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 23 de abril de 2025, a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram uma operação que revelou um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), instaurando uma crise no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após o anúncio da operação, dois vídeos com a alegação de que a PF encontrou um “quarto secreto” do presidente com “milhões do INSS” foram visualizados mais de 500 mil vezes nas redes sociais. Mas as sequências compilam fotos de diferentes ações policiais sem relação com a fraude atual, e a Polícia Federal desmentiu o teor dos materiais.

“Polícia Federal encontra quarto secreto de Lula com dinheiro do INSS”, diz o texto sobreposto às sequências virais que circulam no Facebook, no Kwai e no TikTok.

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Captura de tela feita em 8 de maio de 2025 de uma publicação no TikTok (.)

Os vídeos que acompanham as publicações mostram imagens do mandatário e de agentes federais, com uma narração afirmando que a Polícia Federal teria descoberto um “quarto secreto” de Lula durante uma “operação sigilosa” em Brasília. As postagens afirmam que o suposto “cômodo misterioso” teria sido encontrado em um prédio usado pelo governo, contendo “malotes de dinheiro, documentos confidenciais e registros ligados ao INSS”.

Em 23 de abril, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagraram a Operação Sem Desconto em 13 estados e no Distrito Federal, para combater um esquema nacional de descontos ilegais no INSS. As investigações apontam que entidades sindicais e associações prestadoras de serviços a aposentados cadastravam beneficiários do INSS sem autorização - com assinaturas falsas - para aplicar descontos mensais diretamente na folha de pagamento.

De acordo com a PF e a CGU, as fraudes ocorreram entre 2019 e 2024, e o total desviado pode chegar a R$ 6,3 bilhões.

O caso gerou uma crise imediata no governo petista e uma pressão que culminou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT). Após a repercussão negativa, o governo federal também suspendeu todos os Acordos de Cooperação Técnica envolvendo descontos de mensalidades associativas em folha de pagamento de aposentados e pensionistas.

Porém, é falso que durante a operação a PF tenha encontrado um “quarto secreto” de Lula com “o dinheiro do INSS”, ao contrário do que indicam os conteúdos virais.

Vídeos com imagens de diferentes ações policiais

O AFP Checamos realizou buscas reversas no Google por fragmentos dos vídeos viralizados - que compartilham a mesma alegação, mas diferem nas imagens apresentadas. As buscas indicaram que os registros de ações policiais que compõem as sequências foram retirados do banco de imagens Pinterest e de matérias de meios de comunicação em diferentes ocasiões.

Uma das imagens iniciais de algumas das postagens, da apreensão de malas de dinheiro, por exemplo, é do caso envolvendo o ex-deputado federal Geddel Vieira Lima (MDB), ocorrido em 2017. A busca não permitiu chegar à origem de outro registro utilizado no início das publicações, com pilhas de dinheiro, mas indicou que a foto de agentes federais carregando computadores é de uma operação de 2016. 

Outras fotografias de agentes federais vistas nos conteúdos também ilustram matérias sobre ações antigas, de 2017, 2018, 2019, 2020 (1, 2), 2021 (1, 2), 2022, 2023 e 2024 (1, 2, 3, 4), todas elas anteriores à Operação Sem Desconto.

Para embasar a alegação da descoberta do suposto “quarto secreto”, as sequências utilizaram uma imagem que circula, pelo menos, desde 2013. Outro registro usado, o de uma prateleira de livros que seria um acesso secreto, foi publicado há seis anos no Pinterest. Já a imagem que mostra uma porta secreta no chão está na mesma rede desde 2019. Por fim, a fotografia de uma mão na maçaneta abrindo o suposto cômodo circula, pelo menos, desde 2018.

Procurada pelo Comprova, projeto de verificação colaborativo do qual participa o AFP Checamos, a Polícia Federal negou a existência de uma ação como a descrita pelas postagens. “Todas as operações da Polícia Federal são divulgadas em seu site. Não foi realizada operação com as informações enviadas em seu e-mail”.

Referências:

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