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Anvisa não recomenda cloro com sal em ralos para combater a dengue; mistura é pouco eficaz
- Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 18:19
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Utilidade Pública Vigilância Sanitária pede, como medida de segurança: Colocar meio copo de cloro e uma colher de sal, na segunda e na sexta-feira, em todos os ralos que tiver em sua casa. O problema da dengue está mais sério, em escala de epidemia nacional”, diz a imagem que circula no Instagram, no Facebook, no Threads, no TikTok e no YouTube.
O conteúdo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.
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Apesar de o número de casos da dengue em 2025, até o momento, ser menor ao registrado no mesmo período em 2024, o número de pessoas infectadas tem crescido, o que levou o estado de São Paulo a decretar situação de emergência da doença.
Entre as recomendações dos órgãos de saúde para controlar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito causador da dengue, está o cuidado com ralos, que são lugares propícios à formação de criadouros do inseto (1, 2).
Contudo, a mensagem que circula não é uma recomendação da vigilância sanitária.
Anvisa negou autoria
Uma busca no Google com os termos “dengue” e “cloro e sal” levou a notas de vigilâncias sanitárias e órgãos de saúde de diferentes cidades (1, 2, 3), publicadas entre 2024 e 2025.
Os comunicados desmentem a autoria da mensagem e afirmam que a mistura não é eficaz como medida de combate à dengue.
A pesquisa também mostrou que o conteúdo circula, pelo menos, desde 2019.
Embora as peças de desinformação não especifiquem de qual cidade seria a recomendação da vigilância sanitária, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou, em e-mail ao Checamos, que “não orienta o uso de ‘cloro’ e ‘sal’ para combate da dengue”.
“A Agência vem combatendo a proliferação de ‘receitas’ ou ‘misturinhas’ junto às mídias sociais, alertando para o risco de acidentes como irritações da pele e olhos, além de intoxicação. Nesse sentido, somente indica o uso de produtos saneantes regulares com a observação das orientações do rótulo quanto ao modo de uso, finalidade e cuidados indicados pelo fabricante”, disse a entidade, em nota enviada em 19 de fevereiro.
Medida pouco eficaz
A nota da Anvisa ainda destaca que rótulos de água sanitária (cloro) descrevem que ela é eficaz para combater o crescimento das larvas do mosquito, entendimento reafirmado por Denise Valle, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
No entanto, não é uma solução duradoura: “O cloro, ele realmente é uma coisa que combate, só que a meia-vida é de oito horas. Isso significa que daqui a oito horas vai ter metade do cloro que você colocou. E outra, quando você coloca no ralo, é um lugar de passagem de água. Teoricamente, além de você ter o cloro com a meia-vida degradando, mesmo que ele estivesse lá parado, você vai ter ele sendo diluído pela água que está passando ali. Então, isso [a mistura] não faz muito sentido”, explicou Valle.
Melissa Falcão, infectologista e membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), concorda:
“Não há comprovação de que a mistura de cloro e sal é eficaz para combater a dengue quando adicionados ao ralo”.
As especialistas consideram que a melhor forma de combater a proliferação das larvas do transmissor da dengue em ralos é de forma “mecânica”, seja mantendo os dispositivos fechados ou aplicando uma tela menor do que o mosquito para impedir sua passagem.
“Ao acreditar em boatos sem comprovação, muitas vezes as pessoas deixam de fazer o principal, que é procurar locais com acúmulo de água ao menos uma vez na semana em suas casas e locais de trabalho, eliminando assim os criadouros do mosquito”, afirmou Falcão.
O Checamos já verificou outros conteúdos sobre supostas receitas para combate à dengue (1, 2, 3, 4).
Referências
- Notas de vigilâncias sanitárias desmentindo a autoria da mensagem (1, 2, 3)
- Especialista Denise Valle, pesquisadora da Fiocruz
- Especialista Melissa Falcão, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia