Vídeos não mostram ataque de rebeldes houthis contra porta-aviões dos EUA

Em 12 de novembro de 2024, o Pentágono informou que rebeldes houthis haviam disparado mísseis e drones contra dois destróieres norte-americanos enquanto transitavam pelo estreito de Bab el Mandeb, no Mar Vermelho. Desde então, publicações com mais de 10.000 visualizações nas redes sociais compartilham dois vídeos que supostamente mostram o ataque. Mas as imagens foram descontextualizadas: uma das gravações foi retirada de um videogame e a outra mostra um incêndio no navio de guerra “Bonhomme Richard”, enquanto estava atracado nos Estados Unidos, em 2020. 

“O porta-aviões USS Abraham Lincoln (CVN72) da Marinha dos EUA foi atacado com mísseis de cruzeiro do Iêmen no Mar da Arábia, após ataques dos EUA contra Houthis + Imagens de ataques intensivos com mísseis contra recursos navais dos EUA no Mar Vermelho resultam na retirada de porta-aviões dos EUA da região”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no X e no Telegram.

O conteúdo também circula em espanhol (1, 2).

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Captura de tela feita em 26 de novembro de 2024
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As publicações compartilham duas sequências que supostamente registram o momento do ataque. Na primeira, um ataque marítimo é gravado à distância, com navios de guerra sendo atingidos por projéteis, que desencadeiam uma série de explosões e iluminam o céu noturno.

Na segunda, uma fumaça densa cobre um enorme barco de guerra enquanto helicópteros tentam extinguir o fogo. 

Os vídeos circulam após um ataque com drones e mísseis feito por rebeldes houthis do Iêmen contra dois destróieres norte-americanos no estreito de Bab el Mandeb, em 11 de novembro de 2024. Segundo o Pentágono, a ação foi neutralizada com êxito, e os navios não sofreram danos, nem houve feridos. 

Os houthis têm atacado embarcações na rota comercial do Mar Vermelho e no Golfo de Aden desde novembro de 2023, como, segundo eles, uma demonstração de solidariedade com os palestinos no contexto da guerra em Gaza. Um dos ataques mais recentes ocorreu em 19 de novembro contra um navio de carga. 

Mas as gravações virais não são registros de um desses ataques. 

Jogo de simulação

Uma busca reversa por fragmentos da gravação noturna conduziu ao registro original estendido e de maior resolução, publicado no YouTube em 14 de janeiro de 2024. O vídeo é intitulado, em inglês: “REAÇÃO INSTANTÂNEA DO IRÃ! Míssil de cruzeiro Houthi afunda porta-aviões dos EUA perto do Iêmen”.

O trecho viral foi extraído do minuto 10:43 do conteúdo original:

Contudo, a descrição do vídeo declara: “NÃO são filmagens reais, apenas jogabilidade do Arma 3”

Arma 3 é um videogame de simulação de disparos táticos desenvolvido e comercializado pela empresa tcheca Bohemia Interactive, que permite aos jogadores personalizar e gerar seu próprio conteúdo.

O material foi publicado no canal USMC no YouTube, que compartilha vídeos de combates militares (1, 2) criados com imagens do Arma 3. De acordo com a descrição do canal, ele é dedicado às “simulações de guerra realistas dentro do jogo” e utiliza conteúdos da Bohemia Interactive.

Além disso, a sequência apresenta indícios visuais que sugerem ter sido gerada por computadores, como distorções gráficas, explosões que não produzem fogo nem luz visíveis e movimentos bruscos de câmera que se assemelham aos de um jogador ajustando a visão da tela.

Em outubro de 2023, a Bohemia Interactive publicou um comunicado em seu perfil no X, alertando sobre as imagens do jogo estarem sendo utilizadas para difundir desinformação sobre o conflito no Oriente Médio. A empresa também compartilhou conselhos para identificar sequências feitas em videogames.

Vídeo de incêndio em 2020

Uma nova busca reversa, dessa vez por fragmentos da sequência viral que registra fumaça e helicópteros, levou à mesma gravação publicada em 13 de julho de 2020 na conta oficial da Marinha dos Estados Unidos no YouTube. 

Na descrição, indica-se que as cenas mostram o Esquadrão de Combate Naval de Helicópteros combatendo um incêndio ocorrido em 12 de julho de 2020 no navio de guerra Bonhomme Richard, enquanto ele estava atracado no cais da Base Naval de San Diego, na Califórnia. A embarcação estava em manutenção.

A AFP também reportou o incidente.

Em 16 de julho de 2020, o perfil oficial no X das Forças Navais da Superfície, a frota do Pacífico dos Estados Unidos, afirmou que 40 marinheiros e 23 civis tiveram feridas leves.

Referências

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