As ondas sonoras não eliminam parasitas do corpo humano

É falso que escutar ondas sonoras em uma frequência específica possa “matar parasitas” no corpo humano, disseram especialistas em saúde à AFP. Porém, usuários de redes sociais compartilharam essa alegação centenas de vezes, em diferentes idiomas, desde novembro de 2024. As publicações incluem um vídeo que menciona um tratamento sugerido na década de 1930 pelo engenheiro óptico norte-americano Royal Rife. Mas, segundo os especialistas, o método não tem comprovação científica e a exposição a sons altos pode causar danos auditivos.

“Frequência Rife de 1150 Hz: este som pode matar PARASITAS”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no X e no Telegram, acompanhadas por um vídeo de 15 segundos que mostra um microrganismo visto por um microscópio.

Em seguida, a gravação mostra a imagem de um jornal antigo e uma foto em preto e branco de um homem com o texto sobreposto: “Royal Rife descobriu que esta frequência pode matar parasitas a nível celular”. O vídeo afirma que a frequência também pode ser usada para “desintoxicação celular” e para “limpar a névoa mental proveniente de infecções parasitárias”.

A sequência termina aconselhando que as pessoas escutem o som que toca ao fundo com fones de ouvido, por pelo menos cinco minutos ao dia, e depois bebam muita água.

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Captura de tela feita em 27 de novembro de 2024 de uma publicação no X
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Publicações semelhantes foram compartilhadas em inglês, chinês, espanhol e japonês.

Os posts se referem ao engenheiro óptico norte-americano Royal Rife, que, na década de 1930, inventou um microscópio de alta potência. Pouco depois, ele afirmou que era possível destruir bactérias vistas nos microscópios as bombardeando com ondas eletromagnéticas que alternam entre frequências específicas.

Rife morreu em 1971, mas muitas empresas ainda comercializam tratamentos e produtos utilizando seu nome.

Sem evidências (e com riscos de dano auditivo)

Procurados pela AFP, especialistas afirmaram que não há comprovação da tese de que ondas sonoras de qualquer frequência possam matar parasitas ou curar a “confusão mental” provocada por uma infecção parasitária.

O parasitologista da Universidade Kebangsaan da Malásia, Syamsa Rizal Abdullah, afirmou à AFP em 18 de novembro que parasitas como helmintos e protozoários têm “estruturas biológicas complexas que não são afetadas por frequências sonoras em uma faixa que seria segura para a audição humana”.

O pesquisador também alertou que ouvir sons altos, principalmente através de fones de ouvido, pode causar danos auditivos, sem afetar os parasitas.

O uso de ondas sonoras para alterar ou destruir fisicamente as células é aplicável a determinados tipos de tratamentos médicos, como a ablação de tumores, mas não aos parasitas, acrescentou.

A doutora Malina Osman, do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Putra da Malásia, indicou à AFP que a frequência sonora já foi utilizada para guiar procedimentos de diagnósticos e que foi documentado que pode melhorar dores articulares.

“Porém não é utilizada nem para desintoxicar, nem para matar parasitas”, afirmou.

A especialista disse que o tratamento para as infecções parasitárias é simples e que o paciente só precisa ser examinado em um laboratório médico. Esse processo de diagnóstico é importante para identificar o tipo de medicamento necessário para tratar cada tipo de infecção, acrescentou, por sua vez, Abdullah.

“O tratamento médico eficaz para as infecções parasitárias inclui medicamentos antiparasitários, dependendo do tipo específico de parasita”, disse.

Uma busca no Google por palavras-chave com termos como “frequência sonora” e “parasitas” tampouco levou a resultados com estudos científicos que corroborem o conteúdo viral.

Referências

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