Gravação de ataque em Jerusalém em 2017 circula como se fosse um atentado contra soldados em Tel Aviv em 2024

Em 27 de outubro de 2024, um caminhão atropelou um grupo de pessoas em um ponto de ônibus próximo ao centro comercial de Tel Aviv, em Israel. Desde então, publicações com mais de 57 mil visualizações nas redes sociais compartilham um vídeo de uma câmera de segurança com a alegação de que as imagens seriam  do incidente ocorrido no final de outubro. Mas a filmagem é de 2017 e mostra um caminhão atacando soldados israelenses nas proximidades de um ponto turístico em Jerusalém.

“NOVAS IMAGENS: Dezenas de soldados da IDF são atropelados deliberadamente por um caminhão em alta velocidade perto de Tel Aviv”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X e no Telegram.

O conteúdo também circula em indonésio e espanhol.

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Captura de tela feita em 1º de novembro de 2024 de uma publicação no Telegram (.)

Na sequência viral, uma filmagem em baixa resolução parece mostrar um caminhão colidindo contra uma multidão. Em seguida, um grupo de pessoas ao redor sai correndo para longe do local.

As publicações circulam após um motorista de caminhão ter avançado contra um grupo de pessoas em um ponto de ônibus nas proximidades de Tel Aviv, em Israel, em 27 de outubro de 2024. Um homem foi morto e mais de 20 pessoas ficaram feridas.

A polícia local não confirmou imediatamente se o incidente — ocorrido próximo à sede da agência de espionagem Mossad e de outros pontos da Inteligência israelense — teria sido um acidente ou um ataque. Contudo, as autoridades afirmaram que civis presentes na cena “atiraram contra o motorista do caminhão e o neutralizaram”.

O grupo islamista palestino Hamas declarou em um comunicado que a “operação heroica” ocorreu “em resposta aos crimes cometidos pela ocupação sionista” contra os palestinos.

Vários atentados similares ocorreram em Israel desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas realizou um ataque sem precedentes que resultou em mais de 1.200 mortos e 251 pessoas capturadas como reféns. Dessas, 97 ainda estão sendo mantidas em Gaza e 34 foram declaradas mortas pelo Exército de Israel.

A ofensiva retaliatória israelense já matou pelo menos 43 mil pessoas em Gaza, em sua maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território comandado pelo Hamas.

Contudo, a filmagem viral mostra outro caminhão em um ataque antigo ocorrido em Jerusalém.

Ataque em Jerusalém

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo no Google conduziu a artigos publicados em 8 de janeiro de 2017 no jornal The Jerusalem Post e no portal de notícias israelense Ynet.

O artigo no The Jerusalem Post, intitulado, em inglês, “Vídeo: Câmera de segurança captura ataque fatal de caminhão em Jerusalém”, afirma que a gravação mostrava um ataque no posto de observação Armon Hanatziv, em Jerusalém.

Uma pesquisa no Google Street View pelo Tayelet Haas Promenade — local próximo ao posto de observação Armon Hanatziv — encontrou os mesmos elementos vistos na sequência viral.

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Comparação feita em 4 de novembro de 2024 entre capturas de tela de uma publicação no X (E) e a localização no Google Street View (.)

Na ocasião, quatro soldados israelenses foram mortos e outros 17 ficaram feridos quando o veículo atropelou um grupo que visitava o popular ponto turístico conhecido pela vista da Cidade Velha de Jerusalém.

O motorista, identificado pelas autoridades de segurança palestinas como um homem de cerca de 20 anos vindo de Jerusalém Oriental, também foi morto no local.

O ataque foi condenado pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Processo de Paz no Oriente Médio.

A situação de Jerusalém é uma das questões mais complexas no conflito. Os palestinos veem Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967 e posteriormente anexada, como a capital do seu futuro Estado, enquanto Israel vê a cidade inteira como a sua própria capital.

O AFP Checamos já verificou outras peças de desinformação sobre o conflito entre Israel e o Hamas.

Referências

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