Influenciadora que chamou passeio na Rocinha de “safári” não é sobrinha de Eduardo Paes
- Publicado em 1 de outubro de 2024 às 17:04
- 7 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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No conteúdo que circula no Facebook, no TikTok, no Instagram, no Threads e no Kwai, uma mulher é ouvida dizendo:“Você paga R$ 100 para ir de jipe conhecer pobre, você sobe e fala: ‘Olha, um pobre! Olha, outro pobre! É casa de pobre’. Eu achei horrível. Evitem”.
A mulher ainda define o passeio turístico na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, como um “safári” para “conhecer pobre”. Sobreposto ao vídeo, vê-se o texto: “Sobrinha do Paes se divertiu”.
Usuários que compartilham o vídeo nas redes sociais repudiaram as falas, criticando também Paes, que concorre à reeleição nas eleições municipais de 6 de outubro. “SOBRINHA DE EDUARDO PAES, ZOMBA DAS COMUNIDADES À QUAL APRENDEU COM SEU TIO, QUE POBRE NÃO PASSA SE UMA SUB- RAÇA, É COMO VOCÊ IR VISITAR UM JARDIM ZOOLÓGICO”, diz uma das publicações.
Mas não é verdade que a mulher vista no vídeo seja parente do político.
Não há parentesco
Uma busca por termos ouvidos no vídeo, como “safári” e “Rocinha”, levou a uma petição pública chamada “Ofendidos pelo vídeo da Cortes Bianquinha (Bianca Similamore Rizzon)”, criada por moradores da própria comunidade, que identifica a influenciadora responsável pelas imagens. A petição conta, até o dia 30 de setembro de 2024, com 236 assinaturas.
No dia 17 de setembro, uma reportagem do SBT abordou a polêmica envolvendo Bianca e o posicionamento de moradores da comunidade da Rocinha contra a sua fala. Em nenhum momento da matéria ou em sites de notícias foi informado que ela teria algum grau de parentesco com Eduardo Paes.
O Comprova, projeto de verificação coletiva do qual a AFP faz parte, entrou em contato com Bianca pelo Instagram e ela negou a suposta relação familiar com o político.
O vídeo que circula nas redes sociais é um recorte de uma live feita por Bianca entre 14 e 16 de setembro. Ela publicou as imagens no YouTube, no dia 19 do mesmo mês, para comentar o assunto, e informou que esteve na capital carioca “no fim de semana”.
No vídeo e após a repercussão negativa, Bianca pediu desculpas e falou que o comentário foi uma piada, sem intenção de “zoar o povo”. “Os analfabetos funcionais não entenderam o sarcasmo”, disse ao incentivar curtidas e comentários. “Isso vai me ajudar a pegar migalhas do YouTube para tentar processar quem fez a matéria comigo e as pessoas que estão me ameaçando”, informou.
No dia 26 de setembro, Paes afirmou, em um vídeo publicado em suas redes sociais, que nunca viu a mulher que aparece na gravação e que a fala é absurda.
"Me alertaram que ele [vídeo] está circulando no WhatsApp com a fake news de que essa menina seria minha sobrinha (...) Eu nunca vi essa mulher na minha vida, pelo jeito e sotaque [ela] nem deve ser do Rio de Janeiro", afirmou o prefeito, após mostrar uma parte do conteúdo viral.
Além do vídeo, Paes publicou em seu site oficial de campanha uma nota negando o parentesco com Bianca.
“A mensagem que acompanha o vídeo sugere que o comportamento do jovem seria comparável ao do prefeito (...). Contudo, é importante esclarecer que essas alegações são completamente falsas e fazem parte de uma campanha de desinformação com motivações políticas”, diz o texto.
A Associação dos Moradores da Rocinha disse ao Comprova que a comunidade reagiu com repúdio à fala. “Assim que recebemos o vídeo, fizemos uma mobilização com os moradores para denunciar o perfil e o post e, logo em seguida, movemos uma ação judicial e estamos movendo uma petição pública contra ela”, afirmou o vice-presidente do grupo, Marcondes Ximenes.
Além de negar parentesco com Paes, Bianca disse ao Comprova que recebeu ameaças e vai processar os autores dessas intimidações.
Sobre o conteúdo do vídeo, ela afirmou que não teve a intenção de ridicularizar a população da Rocinha e reclamou que utilizaram apenas um corte da gravação: “Minha risada foi em tom de crítica pelo quanto humilham esse povo, que é tratado como animal, enquanto os gringos passam em carro tirando foto, fazendo isso com a pobreza alheia. O dinheiro que entra com esse tour não vai para o pessoal que trabalha lá”.
Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da Folha de S.Paulo e da Agência Tatu. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.