Medida de 2021 sobre o Bilhete Único em SP circula fora de contexto após reeleição de Nunes em 2024

  • Publicado em 6 de novembro de 2024 às 17:25
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Após a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) como prefeito de São Paulo em 27 de outubro de 2024, usuários de redes sociais compartilharam centenas de vezes um artigo informando que o político teria decretado o fim do Bilhete Único no transporte público da capital paulista. Isso não é verdade. A matéria replicada nas redes trata de uma medida adotada por Nunes em 2021, que acabava com o Bilhete Único “sem cadastro associado a um CPF”, e não com o sistema como um todo. Ao Comprova, a Prefeitura de São Paulo e a SPTrans informaram que o Bilhete Único segue funcionando normalmente.

“O prefeito de são Paulo Ricardo Nunes decreta o fim do bilhete único em são Paulo”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no TikTok e no X.

Image
Captura de tela feita em 1º de novembro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

As publicações são acompanhadas pelo link ou por capturas de tela de um texto publicado no último dia 28 de outubro pelo portal TV Foco, que não está mais disponível, com o título: “Fim de Bilhete Único popular: Ricardo Nunes traz lei nos ônibus e metrôs de SP como substituto”. Em 6 de novembro, por sua vez, o site publicou uma nota explicando que a medida mencionada datava de 2021 e que o sistema seguia funcionando.

O cartão do Bilhete Único é um mecanismo que permite unificar passagens nos meios de transporte público (trens, ônibus e metrôs), com isenção da tarifa ao passageiro que utilizar mais de uma condução dentro de um determinado período de tempo. Em São Paulo, o sistema permite que o passageiro faça a integração em até quatro embarques, pagando o valor de R$ 8,20. 

Não é verdade, porém, que o prefeito reeleito de São Paulo tenha decretado o fim do mecanismo. 

Fim do cartão sem vínculo com CPF, em 2021

Apesar de ter sido publicada após as eleições de 2024, a matéria do TV Foco menciona uma medida adotada pela Prefeitura de São Paulo em 2021, à época já comandada por Nunes. O texto informa que o prefeito determinou o fim do cartão do Bilhete Único “sem cadastro associado a um CPF” e que o decreto “garante substituto no metrô, ônibus e CPTM”.

Uma busca no Google pelos termos “Nunes”, “bilhete único” e “sem cadastro”, com o filtro de 2021, mostrou que a medida em questão é de 5 de julho daquele ano, cerca de dois meses após Nunes assumir a Prefeitura devido à morte do então prefeito Bruno Covas. 

Na ocasião, a SPTrans, responsável pelo sistema de transportes por ônibus da cidade de São Paulo, anunciou, de fato, a proibição dos cartões do Bilhete Único sem cadastro por CPF. Com a mudança, os usuários precisaram fazer um cartão personalizado, com o nome impresso e o CPF do titular, para ter acesso ao serviço e realizar recargas.

A medida não representou, portanto, o fim do sistema do Bilhete Único. 

Na época, a Prefeitura informou que a medida foi tomada para “combater fraudes no sistema de transportes” e evitar “prejuízos aos cofres públicos”, já que parte da isenção das tarifas é subsidiada pelos governos municipal e estadual. A determinação passou a valer em 1º de setembro de 2021 e desde então foi mantida.

A equipe de checagem do Comprova — projeto de verificação colaborativo do qual o AFP Checamos faz parte — realizou uma consulta no Diário Oficial de São Paulo, que mostrou que nenhum decreto sobre o Bilhete Único foi publicado após a reeleição de Nunes em 2024.

A Prefeitura de São Paulo e a SPTrans também desmentiram a informação viralizada, por meio de um mesmo comunicado enviado ao Comprova: “A Prefeitura de São Paulo informa que o Bilhete Único segue funcionando normalmente na cidade e qualquer informação diferente disso não condiz com a verdade”

Em outro trecho da nota, a SPTrans informou, ainda, que “para a prevenção de fraudes, a SPTrans utiliza desde 2021 o cadastro de cartões a partir do CPF do usuário”.

Este texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do UOL e Metrópoles. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco