Governo federal não comprou drones para “provocar incêndios” no país
- Publicado em 24 de setembro de 2024 às 20:07
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- Por AFP Brasil
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“Drone que está no Brasil comprado pelo governo federal”, diz uma das publicações que compartilham a sequência no Facebook, no Telegram e no TikTok.
As imagens mostram o funcionamento de um drone capaz de lançar pequenas esferas que se incendeiam ao cair no solo. Em narração ao fundo, um homem que se diz dominicano afirma que o equipamento exibido é usado “especificamente para iniciar incêndios” e que os “globalistas” seriam os responsáveis por provocá-los na Amazônia e em países como França, Austrália e Portugal.
O material circula em meio à onda de incêndios que atinge várias regiões do Brasil. Segundo o Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus (Cams), os incêndios já são responsáveis por emissões recordes de gases do efeito estufa em, pelo menos, dois estados: Mato Grosso do Sul e Amazonas, que registraram o maior índice dos últimos 22 anos, desde o início do monitoramento pela agência europeia.
Mas, ao contrário do que indicam as publicações, o drone do vídeo é utilizado para combater incêndios, e não foi comprado pelo governo federal.
Drone usado em queimas controladas
Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google levou à gravação original, publicada no canal da empresa Drone Amplified no YouTube em 2018. O material não contém a mesma narração em espanhol do vídeo viral, mas uma outra em inglês com uma música de fundo.
No vídeo original, a Drone Amplified, empresa norte-americana fabricante do produto, mostra o funcionamento e configurações do modelo de drone IGNIS, utilizado em ações de queima controlada para manejo e prevenção de incêndios de maiores proporções.
A prática é autorizada pelo Código Florestal Brasileiro e funciona ao queimar uma área previamente definida a fim de impedir a propagação das chamas no caso de grandes incêndios.
Ao Comprova - projeto de verificação colaborativa do qual o AFP Checamos faz parte - o professor de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexandre França Tetto explicou como o drone ajuda os brigadistas:
“O drone auxilia na realização de queima em condições controladas, com baixa intensidade do fogo e baixa altura da chama (...) Assim, é possível reduzir em 70, 80% o material combustível, que pode ser uma vegetação seca, por exemplo, para que um incêndio, caso ocorra, seja fácil de ser controlado”.
A técnica é alvo frequente de desinformação e diferentes conteúdos que a tiram de contexto já foram verificados pelo AFP Checamos.
Além disso, não é verdade que o equipamento visto nas imagens tenha sido adquirido recentemente pelo governo brasileiro. A equipe de checagem do Comprova realizou buscas no Portal da Transparência e não chegou a nenhum indício de compra ou venda do drone pela União.
Procurada pelo projeto de verificação, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) afirmou, em nota, que a postagem é falsa: “O governo federal não comprou drone que provoca queimadas, assim como os incêndios não foram causados por ação de agentes públicos federais”.
A empresa Drone Amplified também desmentiu a alegação, indicando que “não foram informados de nenhuma venda ou uso de seus produtos por instituições governamentais brasileiras”.
A Polícia Federal (PF), por sua vez, informou que o permanganato de potássio - substância contida nas esferas ejetadas pelo drone - é controlado e fiscalizado pela corporação, dado seu potencial uso na fabricação de drogas.
Conteúdo semelhante foi verificado por Aos Fatos.
Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Metrópoles, CNN Brasil e Estadão.