Foto de um homem de gorro e óculos mostra jornalista italiano, não autor de disparos contra Trump
- Publicado em 16 de julho de 2024 às 21:42
- 5 minutos de leitura
- Por Gundula HAAGE, AFP Alemanha, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Roxana ROMERO
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“De acordo com o Departamento de Polícia de Butler, o atirador de Trump foi preso no local e identificado como Mark Violets, um membro da Antifa. Antes da m*rda, Mark Violets enviou um vídeo no YouTube afirmando que ‘a justiça está chegando’”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Threads, no Telegram, no Kwai e no X.
Conteúdos similares circulam em inglês, espanhol, francês, alemão, persa e indonésio.
O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, sofreu uma tentativa de assassinato durante um ato de campanha na cidade de Butler, na Pensilvânia, em 13 de julho de 2024.
O ex-presidente criticava a imigração ilegal quando ouviram-se disparos, um dos quais atingiu a orelha direita de Trump, que se agachou atrás do púlpito enquanto agentes do serviço secreto o cobriam.
Uma pessoa que assistia ao ato eleitoral morreu e outras duas ficaram gravemente feridas.
“Mark Violets, membro da Antifa”, não existe
Uma busca reversa no Google pela imagem compartilhada nas publicações conduziu a um vídeo publicado no YouTube no canal “Roma Giallorossa TV” em 20 de março de 2024, no qual é exibido o mesmo homem da fotografia viral.
Um dos comentários da sequência menciona, em espanhol: “Acusaram marco violi deformando um pouco o seu nome para mark violets”.
Uma pesquisa no Google pelo nome “Marco Violi” levou ao seu perfil no Instagram, no qual ele se apresenta como jornalista. Em uma publicação de 13 de julho de 2024, Violi informa que está em Roma e que foi acordado de madrugada por inúmeras notificações no X e no Instagram.
“Nego categoricamente estar envolvido nessa situação. (...) As notícias que circulam sobre mim são totalmente infundadas e foram organizadas por um grupo de haters que desde 2018 estão arruinando a minha vida, inclusive com vigilâncias na minha casa, fotos do meu interfone e da minha porta. Verdadeiros perseguidores”, escreveu Violi.
“Como jornalista desde 2006, sei muito bem que é preciso confirmar todas as fontes antes de colocar na primeira página um suposto monstro”, acrescentou.
Violi comanda um blog esportivo. No seu canal no YouTube, Roma Giallorossa TV, ele pode ser visto muitas vezes em vídeos falando sobre o clube de futebol italiano AS Roma.
Em um vídeo publicado por Violi em 29 de outubro de 2023, é possível observar elementos que correspondem aos vistos na foto viralizada: a abertura do que parece ser uma porta e um quadro à sua esquerda.
Não é a primeira vez que Marco Violi é alvo de desinformação. Após o ataque de Kongsberg, na Noruega, em 2001, foi alegado falsamente que “Marek Al-Viol” ou “Markus Volingberg” eram os autores. Na ocasião, já circulavam capturas de tela similares a um dos vídeos de Violi.
Nos minutos seguintes ao atentado contra Donald Trump, usuários nas redes sociais começaram a propagar teorias da conspiração. Muitos internautas também tentaram identificar o franco-atirador, e muitos afirmaram, erroneamente, que se tratava do jornalista italiano.
O vídeo de um homem se filmando dentro de um carro e dando a entender que era o autor do ataque também circulou amplamente, ainda que muitos meios de comunicação norte-americanos tenham tratado o conteúdo como uma brincadeira.
Outras teorias falam de um atacante às “ordens” do presidente Joe Biden ou do “Estado profundo”, ou de uma “farsa”.
No passado, o ex-presidente Trump culpou integrantes do movimento Antifa de distúrbios como o ataque ao Capitólio em janeiro de 2021. Os Antifa são um grupo de ativistas de esquerda que frequentemente são denunciados como manifestantes violentos e baderneiros por Trump e seus apoiadores.
Em 2020, inclusive, Trump disse que classificaria o movimento como uma “organização terrorista”.
Atirador identificado, segundo o FBI
De acordo com o FBI, o autor do ataque foi Thomas Matthew Crooks, um jovem de 20 anos, do bairro de Bethel Park, na Pensilvânia, que foi morto a tiros pelas forças de segurança no local.
Um antigo companheiro de classe contou a jornalistas que o jovem era solitário e vítima de bullying. A fotografia divulgada de Crooks mostra uma pessoa completamente diferente de Marco Violi.
O FBI informou que tudo indica que ele agiu sozinho. Crooks utilizou um rifle AR 556 comprado legalmente. Acredita-se que a arma semiautomática foi comprada por seu pai, mas ainda não se sabe como o jovem teve acesso a ela.
Meios de comunicação norte-americanos reportaram que o jovem também tinha explosivos em seu carro, estacionado próximo ao local do comício.
Referências
- Vídeos publicados no canal “Roma Giallorossa TV” no YouTube (1, 2)
- Publicação de Marco Violi no Instagram
- Informe do FBI sobre identificação do atirador