O Fórum Econômico Mundial não “confirmou” a criação de uma moeda digital para rastrear pessoas

O Fórum Econômico Mundial (FEM ou WEF, na sigla em inglês) é alvo constante de teorias conspiratórias que o associam falsamente a um plano das “elites” para controlar o mundo. Desde 16 de janeiro de 2024, publicações com mais de 5 mil visualizações difundem um vídeo em que um suposto representante do FEM teria confirmado a criação de uma moeda digital para “rastrear” a população. Mas a sequência mostra Michael Evans, presidente da Alibaba, falando em um evento de 2022 sobre a tecnologia que sua empresa desenvolvia para que consumidores pudessem medir suas emissões de carbono.

O WEF acaba de confirmar um CBDC global. Eles admitem que rastrearão o que comemos, as nossas viagens, com quem falamos e tudo o que mais fazemos na vida”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Telegram, no X e no Kwai

O conteúdo também circula em espanhol e inglês.

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Captura de tela feita em 4 de março de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Uma CBDC, sigla em inglês para Moeda Digital do Banco Central, citada nas publicações virais, faz referência ao dinheiro emitido eletronicamente pelo banco central de um país.

De acordo com especialistas do Atlantic Council, think tank norte-americano, 11 países concluíram o lançamento de uma CBDC e dezenas de outros estão desenvolvendo essas moedas digitais. O Checamos já verificou alegações falsas sobre o tema (1, 2).

Apresentação de 2022 sobre pegada de carbono

Na gravação viral, de 25 segundos de duração, ouve-se um homem afirmando em inglês: “Estamos desenvolvendo, por meio da tecnologia, uma capacidade para que os consumidores meçam a sua própria pegada de carbono. O que isso significa? Para onde viajam, como viajam, o que consomem na plataforma? Então, o rastreador individual da pegada de carbono”

Ao fundo da sequência, vê-se um painel azul com as palavras “World Economic Forum” sobrepostas.

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave em inglês “pegada de carbono” e “Fórum Econômico Mundial” exibiu uma reportagem, publicada em 24 de maio de 2022, sobre um discurso do presidente do Grupo Alibaba, Michael Evans, proferido durante a reunião anual do WEF em Davos, Suíça.

No texto, é possível ver o vídeo que circula nas redes sociais, com o fragmento sobre o desenvolvimento de uma “tecnologia”.

Uma outra busca pelas palavras-chave em inglês “Michael Evans”, “WEF” e “Encontro anual” retornou a programação oficial da edição de 2022 do Fórum Econômico Mundial. O documento mostra que o presidente do Grupo Alibaba apareceu como palestrante em um painel sobre consumo responsável, realizado no dia 24 de maio daquele ano.

Uma nova pesquisa pela palavra-chave “consumo consciente”, em inglês, no site do WEF mostrou uma publicação, datada de 24 de maio de 2022, com a íntegra da participação de Evans. A mesma gravação também foi publicada no canal oficial do Fórum Econômico no YouTube em julho de 2022. O trecho compartilhado nas redes sociais começa a partir de 29 minutos e 39 segundos desse vídeo.

A declaração de Evans veio em resposta a uma pergunta da mediadora do painel, Jane Nelson, diretora da Iniciativa de Responsabilidade Corporativa da Escola Kennedy de Harvard, sobre mecanismos para lidar com as emissões de carbono.

Evans respondeu: “Estamos desenvolvendo através da tecnologia uma capacidade para que os consumidores meçam a sua própria pegada de carbono. O que isso significa? Para onde viajam, como viajam, o que comem, o que consomem na plataforma? Então o rastreador individual de pegada de carbono”, disse.

“Fiquem atentos, ainda não está operando, mas é algo em que estamos trabalhando”, complementou.

A empresa Alibaba lançou o seu rastreador da pegada de carbono em agosto de 2022.

De acordo com o site da empresa, o aplicativo permite que os consumidores ganhem pontos de desconto em compras nas plataformas de comércio eletrônico do Alibaba ao fazerem escolhas que tenha uma baixa emissão de carbono, como comprar eletrodomésticos com baixo consumo de energia, reciclar caixas e recusar utensílios descartáveis ao pedir alimentos.

Um representante do Fórum Económico Mundial refutou a alegação de que a organização lançou uma moeda digital global.

“Esta afirmação é completamente inventada para alimentar teorias de conspiração absolutamente infundadas, com o objetivo de desacreditar o importante trabalho que o Fórum Econômico Mundial realiza sobre os sérios desafios globais”, disse o porta-voz à AFP em 19 de fevereiro de 2024.

A entidade é alvo frequente de desinformação, verificada em diversas ocasiões pela AFP (1, 2, 3, 4, 5, 6).

 Referências

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