O Fórum Econômico Mundial não proibiu a concepção natural

O Fórum Econômico Mundial (FEM) não proibiu a concepção natural nem estabeleceu que todos os bebês serão criados em laboratório até 2030, ao contrário do que afirmam publicações visualizadas mais de 26 mil vezes nas redes sociais desde 9 de junho de 2023. Um porta-voz da organização confirmou à AFP que a alegação é falsa e que o estudo no qual as publicações virais se baseiam, publicado no site do FEM, não apresenta essas propostas. Além disso, a organização não tem autoridade legal sobre os países.

“WEF proíbe a concepção natural: todos os bebês devem ser criados em laboratório até 2030”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter, que agora se chama X, no Facebook, no Instagram e no Telegram.

O conteúdo também foi publicado em sites (1, 2) e circula em inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 28 de julho de 2023 de uma publicação no Twitter, agora chamado X ( .)

O FEM é uma organização internacional não governamental comprometida com o desenvolvimento mundial, influenciando nas agendas industriais, regionais e globais. Se reúne anualmente em Davos, na Suíça, e agrega líderes políticos e empresários.

A entidade tem sido alvo de desinformação e de teorias da conspiração verificadas pela AFP em outras ocasiões (1, 2, 3).

O fórum é uma fundação não governamental independente e, por isso, não tem jurisdição legal para estabelecer uma proibição sobre a concepção natural ou criar leis.

FEM não pede o fim da concepção natural

“O Fórum Econômico Mundial nunca pediu o fim da concepção natural nem pressionou para que os bebês fossem criados em laboratório. Essas são afirmações falsas para desacreditar o importante trabalho realizado pelo Fórum Económico Mundial sobre os graves desafios globais”, disse à AFP o porta-voz do FEM, Yann Zopf, em 19 de julho de 2023.

A AFP pesquisou sobre a alegação viral no site do FEM e nos meios de comunicação e não encontrou qualquer evidência de que a organização tenha feito tal declaração sobre a concepção natural.

Embora algumas pesquisas tenham sido desenvolvidas para criar úteros artificiais a fim de ajudar bebês prematuros, trata-se de um trabalho independente do FEM, que não fez qualquer recomendação na área.

As publicações virais compartilham artigos traduzidos do site People’s Voice, anteriormente conhecido como NewsPunch e que já foi verificado em ocasiões anteriores (1, 2).

O artigo cita, com o link, uma publicação no blog do FEM de 2017 (atualmente não disponível, mas que foi arquivada) sobre um avanço na pesquisa do útero sintético. O People’s Voice assegura que o FEM “tem desenvolvido úteros artificiais que poderão desenvolver um feto fora do corpo da mãe”.

A publicação no site do Fórum Econômico Mundial não contém essas afirmações, mas o relato de um estudo realizado com cordeiros nascidos prematuramente e colocados em úteros artificiais para que pudessem terminar de se desenvolver sem problemas de saúde.

Além disso, o texto indica que as opiniões expressas são “somente do autor, e não do Fórum Econômico Mundial”.

Publicação no blog do FEM

O artigo compartilhado no blog explica que “em nível mundial, milhões de bebês nascem prematuramente a cada ano” e que “um bebê é considerado prematuro quando nasce antes das 37 semanas de desenvolvimento”, o que os expõe a condições de saúde crônicas, já que seus pulmões e cérebros ainda se encontram em uma fase muito inicial de desenvolvimento.

Embora cientistas tenham tentando criar ventres artificiais para ajudar os bebês prematuros, o êxito foi limitado ao mundo animal, por exemplo, com experimentos com cordeiros, como detalha a publicação no blog.

O experimento consistia em colocar cordeiros em biobolsas transparentes 105 dias depois que começassem a se desenvolver, o que equivale a cerca de 22 semanas em uma gestação humana. Os oito cordeiros no ensaio evoluíram normalmente no útero artificial e sobreviveram.

O texto especifica que o “recinto de plástico cheio de líquido” que utilizaram nos cordeiros “não pode desenvolver uma criança durante um período completo de nove meses”.

A concepção em úteros artificiais ainda é remota

Segundo explicado à AFP em 9 de janeiro de 2023 pelo professor Guid Oei, catedrático de Perinatologia da Universidade Tecnológica de Eindhoven, nos Países Baixos, “atualmente não se está trabalhando em nenhuma parte do mundo em úteros artificiais”.

Oei, um dos iniciadores de um projeto financiado pela União Europeia para desenvolver um protótipo de ventre artificial para ajudar os bebês prematuros a crescer fora do útero — e sobre o qual também circulou desinformação —, esclareceu que “a ectogenesis total”, a gestação extracorpórea, “continua sendo pura ficção científica”.

“Estamos trabalhando em Eindhoven, como líder de projeto de um consórcio europeu, e também estão trabalhando outras equipes de pesquisa científica nos Estados Unidos e na Austrália, no desenvolvimento de uma versão melhorada da incubadora para bebês extremamente prematuros”, disse o especialista.

Referências

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