Vídeo distorce fala de Klaus Schwab sobre a classe média e a quarta revolução industrial

O CEO e fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), Klaus Schwab, não disse que o maior “obstáculo” à quarta revolução industrial é a “resistência” da classe média, como afirmam publicações visualizadas mais de cinco mil vezes nas redes sociais desde 23 de julho de 2023. O conteúdo, que voltou a circular em janeiro de 2024, distorce a fala de Schwab feita durante um evento em 2016. Na realidade, ele defendeu que a classe média é um “pilar da democracia”.

“Klaus Schwab e Joe Biden: ‘O maior obstáculo para a 4ª revolução industrial é a classe média”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Telegram e no X.

A alegação também circula em espanhol.

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Captura de tela feita em 22 de janeiro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo é compartilhado nas redes sociais alguns dias após a 54ª edição da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, realizada de 15 a 19 de janeiro de 2024, em Davos, na Suíça.

A entidade é alvo frequente de desinformação, verificada em diversas ocasiões pela AFP (1, 2, 3, 4).

Declarações distorcidas

As publicações são embasadas em um vídeo , de 17 segundos de duração, em que Schwab fala, em inglês, em um púlpito com a indicação “Annual Meeting 2016”,  referência à reunião anual de 2016 do Fórum Econômico de Davos.

O fundador do WEF se dirige a Joe Biden, então vice-presidente dos Estados Unidos e que aparece brevemente na tela, e legendas em espanhol garantem que ele disse: “Para a nossa discussão, que tivemos no jantar há dois dias… a quarta revolução industrial tem um grande desafio: é a resistência da classe média”.

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Schwab”, “Biden”, “WEF 2016” e “classe média” em inglês, retornou a um vídeo mais extenso da fala, publicado pelo canal “Arirang TV” em 25 de junho de 2016. A busca também exibiu a íntegra do discurso publicado no site do Fórum Econômico Mundial.

Durante a intervenção, o presidente do WEF apresentou Biden, que fez um discurso sobre os perigos da revolução digital, alertando que esta poderia destruir a classe média e enfatizando a necessidade de garantir os direitos desse grupo.

Neste contexto, Schwab afirmou, a partir de 2 minutos e 15 segundos, que “a quarta revolução industrial tem um grande desafio: o esvaziamento da classe média, que é um pilar das nossas democracias”.

Ele não descreveu a classe média como um “obstáculo” tampouco mencionou a sua “resistência”, como sugerem os conteúdos compartilhados nas redes.

O resumo dos discursos publicados no site oficial do Fórum Econômico Mundial indicam que Schwab concluiu a sua fala afirmando: “Precisamos moldar um futuro que funcione para todos nós, colocando as pessoas em primeiro lugar e capacitando-as através da tecnologia”.

Declarações de Schwab sobre a classe média

Em textos e declarações anteriores, Schwab defendeu a necessidade de proteger a classe média, conforme reportado pela imprensa: “Schwab diz que a robótica, com inovações como os carros autônomos, destruirá o emprego e eliminará grande parte da classe média, um pilar importante dos sistemas democráticos.”

E complementou: “O meu receio é que, se não estivermos preparados... e tivermos uma concentração de empregos em áreas de alto nível, mais inovadoras e nas áreas de baixos serviços, isso poderá levar a um novo problema de exclusão social, que precisamos evitar.”

Em janeiro de 2016, pouco antes da intervenção no Fórum daquele ano, Schwab publicou um texto sobre o assunto no qual defendia que a quarta revolução industrial resultaria em “um mercado de trabalho com forte procura nos níveis mais elevados e mais baixos, mas com um esvaziamento da classe média.”

“Isto ajuda a explicar por quais razões tantos trabalhadores estão desiludidos e temem que os seus próprios rendimentos e os dos seus filhos permaneçam estagnados. Também ajuda a explicar porque as classes médias em todo o mundo experimentam cada vez mais um sentimento generalizado de insatisfação e injustiça”, observa.

Ele continua: “Uma economia em que o vencedor leva tudo, que oferece apenas acesso limitado à classe média, é uma receita para o mal-estar e o abandono democrático”.

A AFP entrou em contato com o departamento de comunicações do Fórum Econômico Mundial, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Referências

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