Vídeo não mostra ataque israelense a um hospital em Gaza, e sim um massacre no Egito em 2013

A gravação de uma escavadeira arrastando corpos e destroços no meio de uma multidão não está relacionada com o conflito entre Israel e o grupo palestiniano Hamas. Entretanto, publicações compartilhadas mais de 10 mil vezes nas redes sociais em diversos idiomas alegam que a cena ocorreu no hospital Kamal Adwan, em Gaza. Embora o exército israelense tenha atacado o hospital, o registro foi feito em 2013, durante uma revolta no Egito.

Escavadeira israelense invade Hospital Kamal Adwan, em Gaza, e atropela propositalmente pacientes palestinos no seu interior”, diz a legenda de um vídeo que circula no Facebook, no Linkedin, no Telegram e no Twitter.

Na gravação é possível ver um veículo pesado avançando em uma praça e arrastando diversos objetos em seu caminho, incluindo uma tenda azul que parecia cobrir corpos de pessoas. A cena ocorre em meio aos gritos de uma multidão.

O conteúdo também circula em inglês, francês, espanhol e tailandês.

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Captura de tela feita em 3 de janeiro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

As publicações circulam em meio a guerra entre Israel e Hamas. Em 7 de outubro de 2023, militantes do grupo islamista palestino invadiram Israel a partir da Faixa de Gaza, deixando pelo menos 1.140 mortos, a maioria civis, e cerca de 250 reféns, segundo as autoridades israelenses.

Israel respondeu a esse ataque com uma ofensiva que reduziu grande parte de Gaza a escombros. Desde o início da operação militar israelense, mais de 22.313 pessoas, a maioria civis, morreram no território palestiniano, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

Em 12 de dezembro de 2023, o exército israelense atacou as instalações do hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza, argumentando que se tratava de um “centro de comando e controle” do grupo islamista.

O Hamas chamou a operação de “massacre” e denunciou que o exército israelense disparou contra os quartos dos pacientes.

Porém, a sequência compartilhada nas redes sociais não tem relação com esse conflito.

Vídeo filmado em 2013 no Egito

Uma busca reversa por frames do vídeo no Google permitiu encontrar a mesma gravação publicada no YouTube pelo veículo catariano Al-Jazeera, em 26 de agosto de 2013.

O vídeo é intitulado: “Uma escavadeira destrói dezenas de corpos de vítimas do massacre de Rabaa”.

Segundo a descrição, a gravação mostra: “Novas imagens do massacre após a dispersão do protesto de Rabaa al-Adawiya em 14 de agosto, [mostrando] uma escavadeira varrendo dezenas de corpos de vítimas do massacre, ignorando os avisos de manifestantes".

Massacre de Rabaa

Em 14 de agosto de 2013, o exército egípcio invadiu as praças Nahda e Rabaa al-Adawiya para dispersar os manifestantes que estavam ali há 45 dias exigindo o regresso do ex-presidente Mohamed Morsi, que tinha sido deposto e detido pelos militares no dia 3 de julho.

O presidente foi destituído após ser acusado de ter monopolizado o poder em benefício exclusivo do movimento Irmandade Muçulmana e de arruinar a economia.

A ação para dispersar o movimento das praças deixou 578 mortos e mais de 3.500 feridos, segundo dados oficiais. A Irmandade Muçulmana estima, por outro lado, 2.200 mortos e mais de 10.000 feridos.

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As forças de segurança egípcias intervêm em um campo de protesto mantido por apoiadores do presidente deposto Mohamed Morsi e membros da Irmandade Muçulmana, em 14 de agosto de 2013, perto da mesquita Rabaa al-Adawiya, no Cairo (AFP / STR, ENGY IMAD)

Ataques a hospitais em Gaza

Os hospitais, que são protegidos pelo direito humanitário internacional, foram atingidos várias vezes na Faixa de Gaza por ataques israelenses desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), menos de um terço dos hospitais em Gaza estão funcionando parcialmente.

Em 17 de dezembro de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) condenou o impacto das operações israelenses em dois hospitais no norte do território.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a organização ficou “chocada com a destruição” do hospital Kamal Adwan, onde as forças israelenses realizaram a operação de vários dias contra o Hamas.

A OMS também declarou que os bombardeamentos israelenses reduziram o serviço de urgências do hospital Al Shifa a “um banho de sangue”.

Israel acredita que os hospitais de Gaza abrigam infraestruturas estratégicas do Hamas, principalmente em túneis por baixo do complexo. O Hamas nega estas acusações.

A AFP já verificou outras alegações sobre o conflito entre Israel e o Hamas.

Referências:

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