O parlamento da Argélia não aprovou que o presidente do país declare guerra contra Israel

O parlamento argelino não concedeu nenhum poder ao presidente Abdelmadjid Tebboune para declarar guerra a Israel, como alegam publicações visualizadas mais de 770 mil vezes nas redes sociais desde 2 de novembro de 2023. No contexto do conflito entre Israel e o Hamas, as postagens divulgaram essa alegação com um vídeo mostrando legisladores argelinos com bandeiras palestinas. Na verdade, a Assembleia Nacional Popular da Argélia apenas expressou seu apoio a Gaza, conforme registrado em sua ata legislativa de 31 de outubro.

O Congresso da Argélia aprovou por unanimidade uma declaração de guerra contra Israel”, diz a legenda de um vídeo publicado no Facebook, no Instagram e no X (antes Twitter).

Na sequência, é possível ver pessoas reunidas em um ambiente interno segurando cartazes com as bandeiras da Argélia e dos territórios palestinos.

A alegação também é compartilhada sem a gravação viral em publicações no TikTok, no Kwai e no YouTube, além de circular em francês, inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 1ª de dezembro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

A filmagem é divulgada em meio a guerra entre Israel e o Hamas que já ceifou milhares de vidas desde 7 de outubro, quando o movimento islamista palestino lançou um ataque contra o Estado israelense no qual 1.200 pessoas foram mortas e 240 sequestradas, de acordo com autoridades israelenses.

Desde então, a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza matou mais de 15 mil pessoas, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas.

No entanto, ao contrário do que alegam as publicações, o parlamento argelino não autorizou o presidente do país, Abdelmadjid Tebboune, a declarar guerra a Israel.

Sessão pública sobre a guerra

Por meio de pesquisa de imagem reversa, a AFP identificou um logotipo correspondente ao canal argelino Ennahar no canto direito da gravação das publicações virais.

Uma busca no canal do YouTube da emissora permitiu encontrar o mesmo vídeo, publicado em 31 de outubro de 2023, com o título em árabe: "Cenas arrepiantes.... Parlamentares gritando: 'O Exército do Povo está com você, Gaza'".

Na página oficial do Facebook da Assembleia Nacional Popular (APN) da Argélia, o vídeo foi localizado em uma postagem de 31 de outubro, intitulada: "Transmissão ao vivo de uma sessão pública extraordinária sobre os perigosos desdobramentos da agressão brutal contra a Palestina ocupada".

Na mesma plataforma, o parlamento argelino publicou uma declaração final sobre o que foi acordado na sessão extraordinária. Os legisladores saudaram a posição do presidente Abdelmadjid Tebboune, "ao condenar a ocupação [dos territórios palestinos]", e agradeceram ao ministro das Relações Exteriores por suas atividades diplomáticas.

O documento também pede aos órgãos parlamentares, regionais e internacionais que "se mobilizem para enviar ajuda humanitária e participem da formação de delegações parlamentares" em Gaza.

Os parlamentares encerraram o comunicado indicando que ofereceram "solidariedade e apoio ao povo palestino, seguindo os passos da liderança sênior do país, que tomou a iniciativa de enviar ajuda urgente" a Gaza.

A declaração também pode ser encontrada no site da APN. O documento oficial inclui sete pontos, nenhum deles indica o início de um conflito contra Israel e não há menção sobre permitir que o presidente argelino declare guerra.

Uma possível declaração de guerra também não consta no relatório da assembleia sobre a sessão de 31 de outubro.

Além disso, matérias sobre a sessão publicadas pela imprensa argelina (1, 2, 3) não citam uma suposta autorização para o presidente Tebboune entrar em guerra contra Israel.

Referências:

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