Neste vídeo, Putin falou sobre a guerra na Ucrânia, e não sobre o conflito Israel-Hamas em 2023
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 26 de outubro de 2023 às 19:54
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Oriente Médio e Norte da África, AFP Estados Unidos, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Roxana ROMERO
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Putin: Estou alertando que a América não deve interferir na guerra entre Israel e Palestina, se isso acontecer, ajudaremos abertamente a Palestina”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no Telegram e no X (antes Twitter).
O conteúdo também circula em árabe, espanhol e inglês.
A alegação é compartilhada junto a um vídeo de sete segundos, com a legenda em inglês. “Eu estou alertando a América. A Rússia poderá ajudar a Palestina e a América não poderá fazer nada”, é a frase sobreposta à sequência, em tradução para o português.
A sequência é compartilhada após o início dos ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro. Pelo menos 1.400 pessoas morreram do lado israelense, a maioria civis que foram baleados, mutilados ou queimados até a morte no primeiro dia do ataque, de acordo com autoridades de Israel.
Israel afirma que cerca de 1.500 combatentes do Hamas foram mortos em confrontos antes que seu Exército recuperasse o controle da área atacada.
Na Faixa de Gaza, mais de 7.000 pessoas foram mortas em bombardeios israelenses em represália aos ataques, segundo informou o Hamas.
A posição da Rússia sobre a guerra
O vídeo começou a circular depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos e por países europeus, denunciaram o ataque do Hamas a Israel, que incluiu lançamentos de mísseis, ataques e capturas de civis, enquanto a Rússia apelou para “um cessar-fogo imediato” às partes palestina e israelense.
Além disso, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou em 10 de outubro que a guerra entre Israel e o Hamas demonstra o “fracasso” da política norte-americana no Oriente Médio e disse que é “necessária” a criação de um Estado palestino.
O mandatário russo acusou os Estados Unidos de “monopolizar” o controle do conflito sem considerar a busca de “acordos aceitáveis para ambas as partes”.
A Rússia mantém tradicionalmente boas relações com as autoridades israelenses e palestinas, bem como com vários atores regionais, incluindo o Irã, o Egito e a Síria.
Vídeo antigo
O vídeo viralizado, no entanto, é antigo e as legendas em inglês, sobrepostas à sequência, estão incorretas.
Uma busca reversa por capturas de tela da gravação usando a ferramenta TinEye levou à versão original do vídeo publicado no canal do USA Today no YouTube em 8 de dezembro de 2022.
“O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o arsenal nuclear da Rússia é um ‘meio de proteção’ e que a ‘ameaça [de guerra nuclear] está crescendo’, durante uma reunião com o seu Conselho de Direitos Humanos”, lê-se na descrição do vídeo.
De acordo com as legendas sobrepostas à sequência original, ao responder sobre o conflito russo-ucraniano, Putin disse: “Quanto ao risco de uma guerra nuclear, você tem razão, ele está aumentando”. E afirmou, ainda, que “em hipótese alguma a Rússia seria a primeira a usar essas armas”.
Uma comparação entre fragmentos da sequência viral e o vídeo do USA Today, de dezembro de 2022, permite observar os mesmos elementos de cena, como a gravata azul de Putin com a mesma estampa, a camisa branca e o terno azul escuro.
Além disso, o encosto da cadeira em que o presidente russo está sentado tem os mesmos detalhes nas cores marrom e dourado em ambos os vídeos.
Uma pesquisa pela frase “Conselho de Direitos Humanos”, em inglês, no site oficial do Kremlin, limitando a busca até dezembro de 2022, retornou como resultado a transcrição do discurso de Putin durante a participação na reunião em 7 de dezembro de 2022.
Em um trecho do texto, é possível ler a mesma declaração feita por Putin e publicada pelo USA Today.
Em nenhum momento do discurso ele mencionou o conflito israelense-palestino durante aquela reunião.
O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que circulam sobre o conflito entre o grupo Hamas e Israel em 2023.
