Vídeo com suposto coração de pessoa vacinada contra covid-19 circula desde antes da pandemia
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- Publicado em 25 de setembro de 2023 às 20:20
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- Por Sofia BARRAGAN, AFP Argentina, AFP Brasil
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"Autópsia de um inoculado com as picadas mortais chamadas de vacinas. Uma camada de óxido de grafeno e um enorme coágulo de sangue envolvem todo o coração. O óxido de grafeno migra para os campos magnéticos e elétricos mais fortes do corpo”, dizem publicações no Facebook, no Instagram, no Telegram e no X (antes Twitter).
O vídeo, que mostra uma autópsia cardíaca, também circula em espanhol.
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Uma busca reversa por fragmentos do vídeo viral usando o Google Lens mostrou que as mesmas imagens haviam sido publicadas em novembro de 2019 no Reddit, meses antes de a pandemia de covid-19 ser declarada e mais de um ano antes da aprovação emergencial das primeiras vacinas contra a doença.
A descrição do vídeo diz, em inglês: “Causa da morte: tamponamento cardíaco! Este é um tamponamento muito grande sob o pericárdio devido a uma enorme hemorragia”. Não há menção a nenhum tipo de imunizante.
Monica Rocchinotti, cardiologista argentina, explicou à AFP que “o pericárdio é uma membrana que envolve o coração; quando muito líquido é depositado entre eles, o coração não funciona bem e pode ocorrer o tamponamento.”
“As causas mais comuns de tamponamento cardíaco são doenças pré-existentes, como câncer, ou também por ferimento por arma de fogo ou complicação cirúrgica”, acrescentou a especialista. Também detalhou que nunca viu um bloqueio do tipo causado por vacina.
Matilde Evans, cardiologista de La Plata, na Argentina, concordou: “Se uma pessoa chega com um tamponamento, a última coisa que pensaria é que foi por causa da vacina da covid-19”, disse ela à AFP.
Embora a causa da morte relacionada ao vídeo viral não possa ser determinada, as duas médicas concordam que o que se vê na gravação é um acúmulo de sangue no pericárdio.
As vacinas não contêm grafeno – e o material não é “magnético”
Teorias sobre “ingredientes” suspeitos ou secretos nos imunizantes contra o coronavírus começaram a circular meses antes da aprovação emergencial das primeiras vacinas, em dezembro de 2020. Uma das versões mais difundidas, que continua a circular três anos depois, é que as vacinas são compostas por grafeno, supostamente responsável por “magnetizar” e matar os vacinados.
O grafeno e seu derivado, o óxido de grafeno, são nanomateriais à base de carbono que possuem múltiplas aplicações e não são “magnéticos”, ao contrário do que afirmam publicações nas redes sociais.
Atualmente não existe no mercado nenhuma vacina disponível que contenha este nanomaterial, embora o óxido de grafeno esteja sendo estudado como potencial adjuvante em vacinas.
Daniel Bórquez, do Centro de Pesquisa Biomédica da Universidade Diego Portales, disse à AFP que “o óxido de grafeno só está sendo usado experimentalmente (…) pois foi demonstrado que potencializa o efeito da vacina, ativando o sistema imunológico”.
A AFP já verificou outras alegações falsas sobre o grafeno e sua suposta toxicidade (1, 2, 3, 4).