Imagem usa manchete enganosa sobre indenização do governo britânico para “vítimas de vacinas”

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  • Publicado em 12 de junho de 2023 às 21:57
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  • Por AFP Brasil
Um programa do Reino Unido, em vigor desde 1979, oferece indenização de 120 mil libras por danos causados por vacinas. Publicações com milhares de compartilhamentos desde 6 de junho usam o projeto para questionar a segurança dos imunizantes contra a covid-19. Na verdade, ele indeniza pessoas que tiveram efeitos colaterais raros relacionados a quase 20 vacinas para diferentes doenças. Até abril de 2023, 78 pessoas receberam indenização por efeitos da vacina contra a covid-19, em uma nação onde mais de 50 milhões de pessoas completaram o protocolo inicial de imunização contra o coronavírus.

“Você não precisa da opinião de um médico para saber o que está sendo injetado em seu corpo, o Lula já te arranjou uma socióloga para isso. E o médico ousar discordar terá sua carreira democraticamente arruinada”, diz a legenda de uma imagem compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). O conteúdo também circula no Telegram, no Facebook, no Instagram e no Twitter.

A imagem começou a circular depois que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, defendeu, em entrevista à Folha de S.Paulo, em 4 de junho de 2023, punição para médicos e outras pessoas que espalham desinformação sobre as vacinas.

As publicações virais comparam a fala da ministra com outras duas manchetes. A primeira é do site Brasil Sem Medo, onde lê-se “Governo britânico anuncia indenização de 120 mil euros para vítimas de vacinas”. Já a segunda é do Valor Econômico e diz: “EUA restringem uso da vacina Janssen por risco de coágulos sanguíneos raros”.

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Captura de tela feita em 9 de junho de 2023 de uma publicação no Instagram de Eduardo Bolsonaro ( .)

Contudo, as manchetes levam a conclusões enganosas sobre o uso de vacinas contra a covid-19 no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Indenização para “vítimas de vacinas”

Publicado em 6 de junho de 2023, o texto do Brasil Sem Medo fala sobre o “Vaccine Damage Payment” (“Pagamento por danos causados por vacina”, em tradução livre do inglês) como se fosse um projeto anunciado recentemente pelo governo britânico. Mas, como a AFP já mostrou nessa verificação, o programa existe desde 1979.

O projeto oferece uma indenização de 120 mil libras para pessoas ou familiares de pessoas que ficaram gravemente incapacitadas ou com alguma deficiência causada por quase 20 vacinas, entre elas as que combatem a covid-19, a difteria, o sarampo, a poliomielite e a rubéola, por exemplo.

Segundo dados de abril de 2023 divulgados pelo Departamento de Saúde e Proteção Social do Reino Unido, 78 pessoas estavam aptas a receber a indenização em decorrência de efeitos colaterais raros das vacinas contra a covid-19. Ao todo, foram 4.914 notificações, dentre as quais 1.404 foram rejeitadas e outras 78 não atenderam aos critérios de avaliação médica.

Esse número representa uma porcentagem pequena das mais de 50 milhões de pessoas que completaram o protocolo inicial de imunização contra a covid-19 no Reino Unido até setembro de 2022.

Dados do departamento de saúde também deixam claro que o programa não é apenas para efeitos colaterais relacionados aos imunizantes contra a covid-19, tendo concedido ao menos 964 indenizações entre janeiro de 1978 e dezembro de 2020, antes do início da vacinação contra o coronavírus na região.

O artigo do Brasil Sem Medo ainda alega que um “relatório publicado pela Agência de Saúde do Reino Unido (UK Health Security Agency) apontou que os vacinados são maioria entre as mortes por covid-19”. Porém, como o AFP Checamos explicou aqui, esses dados não podem ser analisados sem contexto, uma vez que a quantidade de pessoas vacinadas é muito maior do que a de não vacinadas.

Atualmente, estão disponíveis no Reino Unido as vacinas da Moderna, da Pfizer, da Novavax e da Sanofi and GSK.

Restrição do uso da Janssen

De acordo com a matéria do Valor Econômico, a Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) limitou a aplicação da vacina da Janssen por conta do risco contínuo de coágulos sanguíneos raros.

Dessa forma, a Janssen só poderia ser aplicada em adultos que não pudessem receber imunizantes de outro fabricante. Contudo, as vacinas da Moderna e da Pfizer continuam sendo indicadas pela FDA.

Referências

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